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Max chamou um taxi, colocamos todas as bagagens no porta malas e nos acomodamos, ele se sentou no banco da frente e nós três permanecemos nos lugares atrás, meu coração começou a acelerar, ao ver Max explicando em seu francês fluente o endereço para o taxista foi como se tudo estivesse realmente acontecendo naquele exato momento.

Nada mais me importava, toda aquela demora de repente não significava nada, apenas parte natural do processo, fomos andando pelas ruas calmas de Paris, ou não tão calmas assim, mas eu estava acostumada como ritmo acelerado da cidade de Nova York, isso fazia com que Paris, mesmo sendo uma cidade turística muito visitada parecesse bem parada, ou talvez fosse só impressão minha e o tempo estivesse andando em câmera lenta, deixando tudo mais monótono que o normal por conta do nervoso. 

Nós desembarcamos no porto de Cherbourg, Max nos explicou que era um pouco distante de Paris, também nos disse que podíamos ir para lá de trem, mas que preferia chamar um taxi para termos um conforto maior, esse "curto" trajeto de carro levaria mais ou menos três horas, então me controlei em relaxar, a conversa de Max em francês funcionou como um calmante para mim, ou um sonífero, encostei minha cabeça no vidro da janela, depois de uma meia hora começou a cair uma chuva, eu fiquei observando as gotas escorregarem preguiçosamente e fechei meus olhos depois de um minutos.

Por mais estranho que fosse eu achava o francês algo familiar mesmo não conseguindo entender nenhuma palavra além de mari mosele, que no caso eram duas, mas o fato era que aquilo me dava a sensação de casa, como se mexesse com uma memória afetiva muito antiga, tão antiga que eu não conseguia me lembrar de fato, apenas senti-la, fazia parte de quem eu era.

O que pensando racionalmente não deveria parecer tão estranho para mim, eu podia ser americana, mas os meus pais eram franceses afinal de contas, franzi o cenho de olhos fechados, eu tinha apenas três anos quando fui deixada para trás, era possível, de alguma forma, que eu sequer me lembrasse de algum dos dois falando comigo neste idioma?

Esta pergunta deu vazão a outras mais.

Alguns pensamentos turvos apareceram na minha mente enquanto eu adormecia, coisas como: de que forma vou me comunicar com os meus pais se não sei falar uma palavra sequer em francês? Mas eu já estava mergulhada tão fundo naquele mar de sono que não conseguia formular uma resposta, eu não conseguia nem me dar ao trabalho de pensar em uma resposta decente para mim mesma.

Adormeci, sem nem ao menos imaginar que toda a minha vida mudaria a partir dali de forma tão brusca, eu não tinha como pensar na dimensão dos próximos acontecimentos.

E como poderia?



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