Epílogo

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  As roupas são simples e eu fico facilmente apagada com meu vestidinho branco em meio a mobília imponente: uma sucessão interminável de espelhos, quadros, porcelanas, mármore e molduras e acima de tudo muito dourado. Minha intuição me diz que não é só tinta.

  A procissão segue como antes, os cômodos se tornam cada vez maiores e enfeitados, andamos por mais uns dez minutos, o que me dá algum tempo pra pensar.

  Algo não está certo. Mas não precisa ser um gênio para saber disso, eu tento adivinhar o que está acontecendo, mesmo tendo a vaga impressão de que não vou conseguir chegar a lugar algum.

  Junto o pouco de informação que tenho a respeito da minha situação atual, apesar de ter sido trancada por dias, ou pelo menos foi o que pareceu, eu ainda não sei ao certo, em uma cela acolchoada e estar sendo escoltada como uma prisioneira eu não estou algemada ou imobilizada de qualquer forma, o que deve significar que sou algum tipo de prisioneira "especial", mas não muito especial, já que fiquei largada por dias no chão de uma cela.

  Sinto um pouco de dificuldade para caminhar, um pouco de fraqueza e mais alguma coisa...fome.

  Até que paramos.

  Portas balcão gigantescas de mais de dois metros de meio de altura, pintada com tantas imagens que me deixam tonta, uma confusão de plantas, árvores, céus azúis, nuvens, anjos e várias outras figuras, todas combinadas em um desenho intrincado. Me pego imaginando quanto tempo o artista levou para pintá-las.

  Oxigenada retira um papel do bolso da calça e entrega para o homem do lado direito.

  Ele pega o papel que, me dou conta, é um cartão, me lembra muito um convite, tem cor creme e aparência cara.

  Ele olha para as letras nele contidas e para algo mais que não consigo saber surpreso com o que lê.

   O homem passa o cartão por uma fenda quase invisível na porta, passam- se apenas dois minutos até que eu seja surpreendida com duas batidas no chão.

  As posições são trocadas e os meus "guardas" vão todos para trás, Max e Oxigenada se posicionam ao meu lado.

  -Ok, você vai entrar e seguir em direção a...mulher- ela parece engasgar com a palavra- que está sentada.

  - Que mulher??- digo exasperada e confusa.

  - Você faz muitas perguntas sabia?- diz a loira.

  - A você nem imagina- diz Max com as mãos nos bolsos e um sorriso no rosto, ele olha para o chão- pode ir se acostumando, ela tem uma curiosidade natural, bem insistente e irritante, principalmente quando você não pode falar o que ela quer saber.

  - Eu nem perguntei nada- digo à loira- e você- digo com um olhar cortante para Max- não fale de mim como se eu não estivesse aqui.

  - Ela é definitivamente uma Tudor d'Valois- Não há dúvidas- ele ri.

  - Eu sou o que?- respondo.

  - É o seguinte, você vai entrar neste salão e fazer o que te mandarem fazer ok? sem perguntas ou olhares tortos- ela acena com a cabeça para o homem do cartão.

  - Mas...- ela me corta com um olhar torto, eles, ao que parece, não estão proibidos para ela.

  O homem olha para frente e, após pegar um bastão, dá uma pancada no chão, em seguida tanto ele quanto seu companheiro de guarda se retiram para o lado, deixando nossa passagem livre, em cinco segundos as portas se abrem.

  Eu avanço como me mandaram, o salão é a coisa mais majestosa que já vi em toda a minha vida, uma mulher está sentada em um tipo de cadeira, não, um trono, com certeza um trono.

  A jovem senhora se levanta e a loira me segura pelo braço, Oxigenada fica pálida como se tivesse se lembrado de algo de repente, ela acena com a cabeça levemente. Eu não devo dar nem mais um passo.

  Engulo em seco, nervosa, sem entender nada.

  A mulher chega até nós, ela para em frente a mim, um sorriso exibe seus dentes perfeitamente retos e brancos, eu olho de esguelha para a loira, tentando saber o que devo fazer agora, então percebo que ela já não está lá, não preciso checar o outro lado para saber que Max também se foi.

  A mulher tem um lindo cabelo castanho escuro quase preto preso em um penteado complicado, seus olhos castanhos também estão com o brilho característico de lágrimas se formando.

  Ela suspira como se não pudesse acreditar no que está a sua frente, eu fico bem parada com as mãos suando frio, passo uma delas disfarçadamente pelo vestido.

  O silêncio mortal naquele salão enorme só torna tudo ainda mais estranho.

  Então, muito de repente, ela me abraça.

  - A princesa perdida enfim retorna ao lar- ela sussurra.

  

AbandonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora