Capítulo Vinte e Três

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OK, Bella, ainda temos algum trabalho pela frente. Declan parecia ríspido. O cordão umbilical foi cortado, depois Declan entregou Markie a Annie para ser lavado, enquanto se ocupava com a placenta. 

Quando o enorme pedaço de fígado cru deslizou por entre as suas pernas, Bella viu que estava sentada sobre um plástico úmido e ensanguentado. Estava nua, as pernas manchadas com sangue seco e traços de fezes. Suas unhas estavam escuras por causa do sangue seco, o cabelo encharcado de suor, sangue escorria por entre suas pernas e ela começara a tremer. Don estava tirando fotos do bebê. — Lamento, Bella, mas agora temos que dar alguns pontos — Declan disse. 

— Você está brincando — ela conseguiu responder. 

— Zena cuidará de você agora, Bella. Ela faz maravilhas com uma agulha. Primeiro vamos dar anestesia, depois é melhor que você tenha o gás e o oxigênio por perto. 

Bella respirou furiosamente o gás do cilindro enquanto Zena a limpava e depois começou a costurar o comprido rasgão em seu períneo. 

O rosto de Bella contorcia-se de dor. Não conseguia acreditar no quanto teve que suportar em uma só noite. Uma profunda resignação estóica começou a tomar conta dela. Se alguém entrasse no quarto agora e dissesse que teriam que arrancar seus molares, ela teria concordado. 

— Agora você já sabe por que chamam isso de "trabalho de parto" — disse Zena, com um gentil sotaque caribenho enquanto trabalhava, dando uma série interminável de pontos, — É um trabalho para mulheres, nenhum homem aguentaria isso. 

Bella esboçou um breve sorriso sob a máscara. Não tinha certeza se o gás ajudava, mas pelo menos impedia que ela gritasse. 

Finalmente acabou. Markie estava seco e vestido, e Zena ajudou Bella a manquejar até o banheiro para um banho quente na banheira. 

Bella afundou na água. Olhou para seu corpo. De alguma maneira, no limite da exaustão profunda, encontrou energias para ficar feliz em ver que sua barriga estava incrivelmente plana. Ok, parecia um suflê murcho, cheio de dobras, mas estava plana. 

Podia ver por cima dela, conseguia curvar-se. Seus seios estavam enormes, especialmente se comparados com o estômago achatado. 

Entre as pernas tudo parecia estranhamente anestesiado e amarrado bem apertado. Como é que ela iria fazer xixi? Sem falar em... nem queria pensar nisso. Hemorróidas do tamanho de almôndegas esfregavam-se dolorosamente umas contra as outras entre suas nádegas. 

Conseguia ouvir um choro vigoroso no quarto e, erguendo-se cuidadosamente na banheira, secou-se com uma toalha e vestiu a camisola limpa pendurada atrás da porta. 

O quarto sofrerá uma transformação. Lençóis e fronhas limpos estavam na cama e trouxeram o bercinho de Markie. A iluminação era fraca, havia somente um abajur aceso e algumas velas. Zena estava fechando sacos de lixo e Declan fazia anotações na caderneta pré-natal de Bella, enquanto Don estava sentado na cama, segurando o bebê que chorava. Bella foi até ele e pegou Markie desajeitadamente, deixando a cabeça cair para trás. 

— Sh, sh, sh — ela tentou acalmá-lo. 

— OK — disse Declan. — Vamos ajudar você a segurar o bichinho. 

Ela sentou-se com as costas apoiadas em uma montanha de travesseiros e abriu a camisola. Markie virou imediatamente para o seio dela. Como se fosse a coisa mais natural do mundo, Declan apertou um de seus mamilos e o colocou na boquinha aberta do bebê. Ele o chupou vigorosamente. — OK, ele está pronto — disse Declan. — Nenhum problema. Seu único problema pode ser produzir leite suficiente para ele. Sabe quanto ele pesa? quatro quilos e seiscentas gramas. Para uma mulher do seu tamanho ele é enorme. Não admira o trabalhão que deu para sair. Bella observava a boquinha de seu filho sugar seu seio. 

— Foi um inferno completo. Nunca, nunca mais passo por isso novamente — ela disse, sentindo-se finalmente pelo menos um pouco parecida com ela mesma. Declan caiu na gargalhada. 

— Já ouvi isso antes. O segundo é sempre mais fácil. 

— Sim, está bem — ela disse. — Você fala isso para manter o emprego. Ela olhou para Don: ele estava exausto, com manchas enormes de suor nas mangas da camisa. 

— Lamento, querido, mas nunca mais faremos sexo novamente, nem mesmo daqui a seis meses, quando as feridas finalmente sararem — ela disse. 

— Besteira — disse Declan. — Dê um mês de folga a ela, Don, e depois ligue o motor que ela estará babando por você. Mas use lubrificante — acrescentou. 

— Chega! — disse Bella, horrorizada. — Nunca mais farei sexo novamente. Ponto final. Ao inclinar-se para beijar Don, o bebê soltou-se e tentou freneticamente colocar os lábios no mamilo. 

— Oh, não — Bella disse, interrompendo o beijo. Ela colocou Markie no outro seio e deixou que ele tentasse o outro lado. 

Don manteve o braço ao redor dela. Ele nunca sentiu-se tão aliviado na vida. Bella e seu filho estavam vivos. Estavam seguros e protegidos na curva do seu braço e ele nunca pensou que iria sentir-se tão agradecido novamente na vida. Tinha sido assustador. Cerca de 20 minutos antes de Markie finalmente nascer, Don ouviu Declan ligar para saber se havia uma ambulância à disposição e avisar o hospital que poderiam ter de fazer uma cesárea de emergência Annie apareceu com chá, mas Don disse: — Nada de chá, tenho champanhe lá embaixo — e saiu para ir buscá-la — Eu realmente gostaria de beber primeiro o chá — Bella disse para Annie. 

— Tenho certeza que sim, querida. E aqui está uma grande jarra de suco de maçã diluído. Quer uma torrada ou outra coisa? Bella pensou nas horrendas hemorróidas e disse: — Não, obrigada. E, a propósito, queria agradecer, lamento ter sido tão bruta com você. 

— Bella, está tudo bem. Também fiquei preocupada com o fato de nada estar acontecendo, e acho que você sentiu isso. Você fez a coisa certa e tudo acabou bem.. Annie olhou para baixo, para o rostinho enterrado nos seios de Bella. 

— Olhe para isso — ela disse, sorrindo. — Com sorte ele vai dormir um bocado esta noite e deixar vocês dois descansarem. — Que horas são? — Bella perguntou.

— Três e meia da madrugada. Markie nasceu exatamente às 2h15. Você 21 horas em trabalho de parto. É muito tempo. 

— É mesmo muito tempo — disse Bella. Várias taças de champanhe depois, era hora de todos partirem e deixarem os três sozinhos. Nós três: Bella repassou as palavras em sua mente. Soavam estranho. 

Declan deixara um frasco enorme de sedativos extra-fortes depois de ter insistido para que ela tomasse dois comprimidos. Annie desaprovara e prometera voltar de manhã com uma alternativa mais saudável para a amamentação. Bella tomou os comprimidos. Toda a sua região genital começara a pulsar e contrações dolorosas ainda atravessavam sua barriga. Ela desejava dormir. Don voltou ao quarto depois de levar todos até a porta. 

Olhou para o quadro em sua frente, Bella com o bebê, e sentiu o coração disparar de emoção. Bella era mãe e eles tinham um bebê para cuidar. 

O bebê dormira nos braços dela. "O bebê" — ele ainda era muito novo para ter um nome. Bella o colocou no berço, ao lado da cama. 

Don despiu-se e vestiu uma camiseta e shorts. Deitou na cama ao lado de Bella e a apertou contra si. 

— Estou tão orgulhoso de você — ele disse. 

— Eu também — ela respondeu, sorrindo. — Foi um inferno. Achei que iria morrer. Ele não disse nada, só a apertou mais forte em seus braços. 

Finalmente, inclinou-se para desligar a luz e percebeu como estava incrivelmente cansado. Bella deitou-se de lado para poder olhar seu minúsculo filho, deitado no bercinho ao seu lado. Seu filho: a palavra ressoava em mente. 

Na penumbra, podia ver que ele não estava mais dormindo, seus olhos estavam abertos e fixos nos dela. Sentiu-se sobrepujada pelo amor. 

Don estava de um lado e o bebê, do outro. Nada poderia ser tão perfeito. Ela tentou dormir, mas sentia-se demasiado emocionada. Abria os olhos várias vezes, só para checar como estava o bebê deitado ao lado dela. 

E Bella tinha a impressão de que, cada vez que abria os olhos, aqueles pequenos olhos escuros a estavam olhando, maravilhados com ela e com este novo mundo. 

Uma cama para três Onde histórias criam vida. Descubra agora