Piercing...5

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Em vez de se preocupar comigo, Leninha ficou analisando o ursinho e dizendo que era covardia atirar na parede um bicho tão fofo. Covardia e pecado! Sem falar na falta de consciência ecológica.
Dali a pouco, comecei a ouvir uma antiga cantiga de roda. Apesar do som abafado, reconheci a melodia e pensei na vizinha do andar de cima, que era louca por caixinha de música. Só desvendei o mistério quando Leninha abriu a pochette e puchou um celular cor-de-rosa, especialmente programado pra tocar "Atirei o pau no gato". Minha amiga tem 13 anos e usa sutiã tamanho M, mas parece que o cérebro dela está estacionado no jardim-de-infância.
Nunca vi a Leninha falar em namoro, toda derretida, que estava na casa de uma amiga fazendo um trabalho de História e não ia poder sair, era melhor deixar pra outro dia, pois é, quem sabe no sábado, tudo bem? O cara devia ser do tipo que não gosta de levar fora. De tanto pedir e insistir, ele conseguiu convencer Leninha a ditar o meu endereço.
Depois de mandar um beijo e desligar, ela me perguntou se em meia hora a gente dava conta de terminar o trabalho. Falei que podia resolver tudo sozinha: só faltava, afinal de contas, narrar a maldita cena da fogueira. Mas impus uma condição: queria saber o nome do gato.
Minha curiosidade fez Leninha dar risada. Gato? Que gato? Quem tinha ligado era o pai dela! Naquele dia ele completava 14 anos e 11 meses de casamento e, pra comemorar a data, resolveu chamar mulher e filha pra tomar sorvete no shopping.
Eu achei que não tinha entendido direito. Por acaso ela estava querendo dizer que havia um marido neste mundo que todos os meses se lembrava de festejar o aniversário de casamento? E isso depois de quase 15 anos? Com direito a sorvete pra toda a família?
Leninha sorriu, sem entender o meu espanto. Talvez acredite que todos os homens sejam românticos como o pai dela.

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