Revolução Francesa

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Por causa do cabelo curto e da farda, Joana d'Arc podria ser confudida com um dos soldados do seu exército. Mas como elaera no dia-a-dia, quando tirava o capacete e a armadura, descia do cavalo e se espreguiçava? Será que tomava banho de rio ou mergulhava numa tina dentro da cabana? Se não havia outra mulher na tropa, então a única saída era botar na porta um homem de sua confiança, com ordens pras afastar a flechadas qualquer engraçadinho que se metesse a besta. Pois esse soldado realmente existiu e se chamava Louid-Auguste. Além de vigiar a entrada da cabana, tratava dod ferimentos de Joana e redigia as cartas que ela, não sabendo ler nem escrever, tinha de enviar ao rei da França e aos chefes do exército inimigo.
Louis-Auguste era estudante de Medicina e tinha abandonado a universidade pra lutar ao lado da heroína. Foi ele quem cuidou de Joana quando ela levou uma flechada na perna; usando um emplasto de folhas e ervas, o rapaz conseguiu estancar a hemorragia e controlar a infecção. Desde então, passou a cuidar pessoalmente da futura padroeira da França, acumulando as funções de médico, conselheiro e secretário particular.
Era nele que Joana estava pensando na madrugada do dia em que seria executada. Jogada numa masmorra, ela havia passado a noite rezando e se lembrando dos olhos, da voz e da dedicação de Louis-Auguste. Teria o amigo sobrevivido à carnificina da última batalha? Por um instante, desejou que ele estivesse morto, assim os doi poderiam se encontrar no céu e viver felizes pelo resto da eternidade. Achou graça dessa idéia, mas imediatamente se sentiu caprichosa e egoísta e sofreu com a possibilidade de morrer carregando um pecado. Se pudesse conversar com im padre...
Logo depois, por coincidência, um homem entrou na cela com um crucifixo pendurado no pescoço, sandálias de couro cru e um hábito de tecido grosso com um capuz qur escondia o rosto. Tão logo o carcereiro se afastou, o estranho baixou o capuz e sussurou que estava ali pra salvar não a alma de Joana, mas o corpo.
Ela acreditou estar sendo vítima de mais uma de suas inúmeras visões. Como é que Louis-Auguste tinha conseguido enganar os soldados ingleses e, disfarçado de religioso, entrar naquela prisão de segurança máxima? Não havia tempo pra explicações. O que importava era libertar Joana, e, pra isso, os dois teriam de trocar as roupas: ele vestiria a túnica da condenada, e ela sairia com o hábito de monge.
A proposta deixou a virgem confusa: não achava justo fugir sozinha, sabendo que o amigo ficaria preso e morreria na fogueira em seu lugar. Além do mais, não podia tirar a roupa na frente de um homem. E, pra completar, não pretendia conhecer os detalhes da anatomia masculina. Louis-Auguste respondeu que tinha arriscado demais pra chegar até ali e não iria permitir que o plano fracassasse por causa da timidez de uma adolescente pudica. Se ela não queria ver um homem nu, então que fechasse os olhos ou se virasse de costas.
Depois de cobrir com a túnica de bruxa, Louis-Auguste ajudou Joana a vestir o hábito de monge. Enquanto ela tentava a proeza de amarrar as sandálias 42 nos pés 35, ele disse que tinha subornado alguns guardas e já estaria bem longe da cidade no momento em que um boneco de pano começasse a queimar na praça.
Louis-Auguste encolheu-se num canto da cela e virou o rosto para a parede ao ouvir passos no corredor. Joana percebeu que, àquela altura, não havia mais como recuar: se os ingleses descobrissem a farsa, com certeza os dois iriam para a fogueira.
Quando o carcereiro avisou que era hora de encerrar a visita, Joana olhos pra Louis-Auguste, desenhou uma cruz no ar e recitou com voz grossa, num latim impecável: "Eu te absolvo de todos os teus pecados". Saiu da cela com a cabeça baixa, escoltada pelos soldados, e misturou-se à multidão qye caminhava livre pelas ruas e becos de Rouen.

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