Striptease para... 2

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Entrei na sala com o rosto virado para o quadro. A lógica me dizia, aos berros, que não deveria nem olhar para o Guto, mas meu coração achava que eu estava sendo muito dura, todo mundo tem direito a uma segunda chance. Quem sabe ele não foi ao cinema por causa, sei lá, de uma catapora?

   Sentei no meu lugar e tentei me concentrar na apostila de História. Meu olhos acompanharam o texto e deram uma volta pela sala. Lá estava o Luís Augusto, são, salvo e bronzeado, sem nenhuma mancha de catapora. Parecia tão bem-humorado que piscou pra mim e acenou. Não consegui decifrar o sorriso (arrependimento? Ironia? Amnésia?) E me virei para o quadro novamente.

   O professor entrou na sala com uma pilha de jornais debaixo do braço. Eu ainda estava anestesiada pelo sorriso do Guto e, ao ouvir o meu nome, respondi sem pensar: "Presente!". A sala desabou de rir. Só então percebi que ainda não era hora da chamada. Apolo queria apenas me mostrar uma novidade: a minha redação sobre Joana d'Arc ocupava a primeira página do Olho Vivo, o boletim mensal da escola.

   Enquanto o professor passeava entre as carteiras, distribuindo os exemplares, ouvi a Danyelle sussurrar que estava acostumada a frequentar as colunas sociais dos grandes jornais e não tinha nem tempo nem saco para ler aquele tipo de jornalzinho. 

   Tudo bem, Olho Vivo era mesmo zinho: poucas páginas, tiragem reduzida e alguns borrões que sujavam os dedos e embaçavam a leitura. Ainda assim, me emocionei com a publicação do meu texto: eu não era mais uma escritora inédita! Olhei à minha volta, pronta a receber os parabéns, elogios e tapinhas nas costas, mas ninguém estava nem aí para a verdadeira história de Joana d'Arc. Os meninos foram direto para a última página, onde saíam  as notícias sobre o campeonato intercologial de futsal. Quanto às minhas possíveis leitoras, elas só estavam ligadas na coluna do horóscopo. Mesmo sabendo que o jornal era escrito pelos próprios alunos, as meninas faziam questão de conferir as previsões  dos astros e vibravam com a notícia de que em breve tirariam a sorte grande ou encontrariam o amor ideal.

   Na hora do intervalo, a sala inteira saiu correndo e quase atropelou o Apolo. Leninha me cutucou: "Você não vai?". Quando perguntei aonde, ela me mandou descer da Lua e me informou que aquela correria toda era por causa da Danyelle: finalmente ela iria revelar o esconderijo do segundo piercing!

   Não adiantou sacudir os ombros e dizer que tinha mais o que fazer. Leninha sabia que eu também estava morta de curiosidade  e me arrastou até o pátio, palco do tão esperado striptease.

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