As pequenas letras, um tanto quanto feias de mais, se aninharam em linhas quase invisíveis. O cheiro de mofo de repente me foi sentido. Mas não dei a mínima importância para o mal cheiro. É bem verdade que cheiro de mofo e mal uso deveria ser o cheiro dos vampiros. Quer coisa mais antiga que vampiros? Somos mais velhos que qualquer coisa desses museus.
E que diabos estou dizendo?
Nada.
Nada.
Estou tentando fazer a tristeza migrar para fora enquanto escrevo o que parecem ser as mesmas letras, palavras, frases... Carta:
Brie, não se importe com o que faço; o que sinto é verdadeiro e isso é a única coisa que nos importa. Sendo humano ou não, desenvolvi esse sentimento absurdo em minhas entranhas, e cada uma das difusas palavras as quais venho negando, agora berram em minha mente.
Eu não quero ter que afastar-te, não quero mandar-te embora da minha mente, não quero ter que suportar mais toda essa demasiada vontade de enlaçar-te em meus braços frios. Talvez com você eles não sejam mais tão frios.Parei de escrever, deitando a caneta sobre a página esbranquiçada e a cabeça sobre tudo.
O que você está fazendo, Ace?, perguntei a mim mesmo em meio a impropérios e grunhidos. Deveria voltar lá e se desculpar. Ela nunca mais vai te olhar depois disso. Você quis ser o normal, quis dar uma de humano... Mas veja o que está fazendo agora. Está sendo um monstro maior que você mesmo. E o inverno está se dissipando, caro amigo. Assuma seus sentimentos, assuma o Normal que há em você e vá atrás dela!
Apertei os olhos e ergui a cabeça, deixando-a pender sobre o encosto desconfortável da cadeira. Abri os olhos subitamente. O telhado vermelho sobre mim parece apontar-me um dedo imundo e sussurrar: Não me olhe desse jeito, não tenho nenhuma resposta. Foi você quem quis segui-la, idiota! Decida-se sozinho.
E o mundo ao meu redor se tornou milhares de Bries, me olhando com olhos tristes e emanando, excessivamente, o melhor e mais desejado cheiro: primavera. As bocas de todas as Bries se entreabriram e sussurram em uníssono: VOCÊ É MESMO UM DEMÔNIO, ACE?
Não consegui negar. Demônio é tudo o que eu consigo, sei e posso ser.
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Primavera & Chocolate (livro um)
FantasyTudo o que Ace realmente quer é ser, novamente, mais um mortal. Entretanto, sendo impossível remover a imortalidade de seu corpo, ele vive na floresta, escondido dos humanos, observando, imitando e invejando-os, mas nunca sendo exatamente um deles...