Deitei-me no chão, no meio de uma pequena clareira, observando o céu cinzento e carregado de nuvens.
Os sons que a floresta emite são como bateristas frenéticos e distantes, de modo que suas baquetas tamborilam tão baixo que chega a ser confortante.
Ouço os passos de Nicholas dentro de casa, um tanto quanto distante.
Se resfriando, boneco de neve? — cantarolou alegremente em minha mente.
— Estou só sentindo a natureza — sorri, alongando-me desajeitadamente.
Ótimo. Tente não virar parte desse chão — emitiu um sibilo. — Ainda preciso de você para os biscoitos de gengibre.
— Pode deixar que vou ter bastante cuidado quanto a isso. Ah e... pode deixar os biscoitos comigo!
Ok Senhor Sabichão.
Pisquei.
— Faz um bolo!?
Bolo? — ponderou, o senti cogitar sobre meu pedido. — De chocolate, outra vez?
— Não, quer dizer, sim! Faz um Super Lincolns Cake!
Um super o quê?
— Bolo de baunilha com recheio super exagerado de chocolate e calda de chocolate para completar!
Sim senhor! — sorriu. — Açúcar é tudo o que você precisa... para morrer de diabetes!
Ouvir a risada de Nicholas é reconfortante.
Ele logo se pôs a procurar os ingredientes na despensa e a bloquear minha tentativa de continuar em sua mente.
Sorri e continuei deitado, observando mais nuvens se acumular no alto e longínquo céu. Ergui os braços como se pudesse tocá-las com as pontas dos dedos.
O cheiro de primavera parece saltar dos meus pensamentos... Este assunto estava tão bem guardado.
O som de passos pareceu espremer-me contra o chão.
— Nicholas? — sussurrei baixando os braços. Não retendo resposta, me ergui assustado, procurando o que quer que tenha se movido.
O cheiro... C-como ela chegou até aqui?
Corri até um pinheiro e me mantive ali, ouvindo os passos aproximando-se, mas não estava vindo em minha direção, estavam caminhando desordeiros, em busca de qualquer coisa ou coisa nenhuma.
Corri até outro pinheiro e fui seguindo até conseguir ver o rosto ávido e quase triste da Senhorita Mountain, ou Brie.
Sua mão tem uma faixa branca, amarrada onde antes eu só via sangue.
— Tem alguém aí? — sussurrou ela, olhando ao redor, apoiando-se em um pinheiro.
Vá embora!, sussurrei no ar para fazê-la seguir. Meu desespero agora está tão aparente que chega a fazer-me tremular.
— Quem está aí? Ace? É você?
Ace? Ela está me procurando? O que? Porque? Como?
— Espero que seja você — inspirou profundamente, como nas outras vezes em que ela tentava interpretar o que tinha em seu script. — Eu queria lhe dizer obrigada por ter levado a Tesse e o Gustav para casa aquele dia. Se não fosse por você, supostamente, Tesse não estaria tão bem quanto está agora. Obrigada. De verdade. — seu rosto, tateando entre as árvores, me deixa atônito. — Ah, o Gustav também agradece. Muito.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Primavera & Chocolate (livro um)
FantasíaTudo o que Ace realmente quer é ser, novamente, mais um mortal. Entretanto, sendo impossível remover a imortalidade de seu corpo, ele vive na floresta, escondido dos humanos, observando, imitando e invejando-os, mas nunca sendo exatamente um deles...