Brie tornou a sentar-se, saboreando os biscoitos de nozes e chocolate que Nicholas passou a manhã preparando.
Ela soprou o chocolate quente como se aquilo fosse resfriá-lo de súbito, então bebeu a espuma fumegante que coloriu seus lábios.
Admirei seu jeito elegante de sentar e comer sem deixar farelos caírem. É como se ela estivesse tentando representar uma rainha; está indo muito bem.
Seus olhos me pegaram bisbilhotando-a de soslaio e o fantasma de um sorriso redesenhou seus lábios.
É como se nós estivéssemos sempre assim, juntos, admirando um ao outro, comparando os gestos com rabisco e a maneira como uma brisa leve ondula os galhos finos das árvores.
— Bom, Brie, você mora aqui desde sempre? — Nicholas esta mesmo nervoso. Ele nunca recebe visitas, tampouco visitas súbitas.
— Sim. Eu nasci aqui em International Falls, já morei em outra cidade, em Littlefork, é agradável, mas como disse Dorothy, não há lugar como o nosso lar.
— Yeah. Littlefork foi meu lar por dois anos — Nick pousou sua grande xícara intocada sobre a pequena mesinha de centro e olhou para uma das janelas, lembrando-se de todas as cidades em que já construiu uma residência. Uma vez ele morou na Romênia e tinha medo de que o chamassem de Conde Dracula, ele morava num pequeno prédio feito de tijolos aparentes. Nick teve que alugar todos os andares secretamente, pois tinha medo de não conseguir suportar o cheiro do sangue de seis famílias; crianças sempre se machucam e seu sangue é jovem e mais saboroso, talvez fosse insuportavelmente doce para um vampiro.
Então Nicholas se mudou para a Florida, tinha muito sol lá. Foi morar em Prospect Greek, haviam muitas pessoas trabalhando num sistema Petrolífero. Foi a cidade que ele mais gostou pois não precisava se preocupar com vizinhos, mas não havia muitas espécies para alimentar-se; International Falls tem lobos e veados, há hospitais e cidades vizinhas com mais hospitais — Nicholas tem amigos que trabalham no Banco de Sangue e facilitam a entrada dele. Então ele continua por aqui nos outonos, invernos e inícios de primaveras. Entretanto, quando os raios de sol podem atingir e transformar-nos em um pequeno monte de pó vampirico, Nick procura um lugar nublado o suficiente para não ter que cobrir as janelas com telas de aço.
— Já morei em muitos lugares — disse por fim, mordiscando um biscoito. Nozes saltaram do biscoito e quicaram até meus pés. — O que aconteceu com seu sapato? — Nicholas sobressaltou-se e todos os olhos se viraram para meu pé branco, nu e frio.
— Ah eu... O lobo pegou.
— O lobo pegou? — Brie sorriu de um jeito engraçado como se aquilo fosse uma piada de Toc-Toc, fios de seu cabelo castanho escorregaram para fora de seu gorro cor de beringela.
Não tinha notado aquele gorro antes.
Imitei seus risos, sentindo, estranhamente, meu rosto esquentar como se tivessem ateado fogo em mim.
Já li sobre esse farfalhar antes. Acho que... Yeah, estou apaixonado por uma humana que tem cheiro de uma das mais belas estações do ano — e que eu nunca assisti.
Que coisa idiota.
Sacudi a cabeça bruscamente, afastando esse pensamento. Eu não posso estar apaixonado por uma humana. Isso é, no mínimo, proibido! Comer chocolate e não beber sangue direto da fonte já me levariam para o calabouço de uma prisão para delinquentes imortais. Ter uma paixonite por uma humana significaria... Guilhotina!
— Não está com frio? — Nicholas sussurrou, tão baixo que pensei estar falando em minha mente. Brie estreitou-me os olhos, esperando por uma resposta.
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Primavera & Chocolate (livro um)
FantasíaTudo o que Ace realmente quer é ser, novamente, mais um mortal. Entretanto, sendo impossível remover a imortalidade de seu corpo, ele vive na floresta, escondido dos humanos, observando, imitando e invejando-os, mas nunca sendo exatamente um deles...