Capítulo 5

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Dormir não deve ser exatamente normal quando não é de sua natureza fazer algo como isso. Mas, ali, na pequena biblioteca do Nicholas, eu realmente achava que conseguiria fazer qualquer coisa.

– Nick? – chamo.

– Sim?

– Porque nós, vampiros, não dormimos?

– Nós dormimos, sim – protestou ele, parando de mover as páginas do livro. – Só demoramos um pouco.

– Porque? – levantei os braços no ar.

– Humanos dormem para se recompor, descansar, recuperar as energias... Vampiros tem um desgaste muitíssimo menor, além de nos recuperarmos com rapidez. Isso nos tira a necessidade de dormir. Mas, caso um vampiro esteja fraco, sem consumir sangue humano há muito tempo, o que o impede de ter sangue para se manter relativamente vivo, ou se estiver velho de mais, ele dorme, sim, pois necessita recuperar-se de alguma outra forma.

– Dormir ajuda a inibir a sede? – franzi o cenho.

Nicholas emitiu um barulhinho.

– Claro... que não! – brincou ele – A sede é inconsciente. Sem sangue um corpo não vive.

Assenti, elevando um polegar para ele.

– Entendi.

– Mesmo?

– Mesmo! Obrigado.

Queria estar fraco agora, tão sem forças à ponto de precisar dormir. Mas não estou.

O silêncio afunilando o barulho das páginas raspando umas contra as outras enquanto Nick lê, me fez baixar as mãos.

Fecho meus olhos pesadamente, idealizado novas lambadas para metade daqueles livros – Nicholas iria gostar de novas capas. A neve, em meu sonho fingindo-que-posso-dormir, são como pétalas de rosas brancas e delicadas penas de ganso, fofas sob meus pés descalços. Minha pele tem o rubor natural de um humano, mostrando que eu estava realmente vivo. O céu estava claro, o sol desabava sobre mim como se fosse transformar a terra no próprio inferno, enquanto eu simplesmente não sentia. Eu não queimava.

Vaguei até bem longe, onde o lago não estava se petrificando e as árvores tinham apenas folhas no lugar de galhos com quilos de neve. Eu estava no pier, pronto para pular na água congelante, retirando minhas roupas.

– Ei, eu achei um novo livro – Nicholas sussurrou, senti seus olhos em mim.

Abri os olhos de vagar, sentindo-me normalmente apático, diferente de quando eu sorria no sonho.

– É sobre o que? – perguntei, erguendo-me e sentando com as pernas cruzadas como em uma meditação.

– Poesia, acho – deu de ombros, voltando a atenção para seu livro. – Ainda não sei ler... qualquer que seja essa língua.

Olhei para as lambadas cheias de veias brancas empoeiradas, os livros todos organizados, lado a lado, sem espaço algum para que não entre nem mesmo ar entre eles.

Enciclopédias preenchem três prateleiras negras, o cheiro velho invadindo minhas narinas, me fazendo sentir cócegas no nariz. Duas outras apenas contendo biografias. Tantos outros livros de receita italianos e em um arraigado português. Me aproximei. Meus dedos causaram um curto e silencioso tamborilar sobre os livros de Não Ficção e pularam para Fantasia e Poesia. A maioria em francês ou alemão, outros, inglês, mas todos são tão antigos quanto eu.

Suspirei.

– Há algum outro livro sobre nós? Um que fale sobre nossa verdadeira forma?

Os olhos de Nick pousaram sobre os livros atrás de mim e ele murmurou algo antes de se erguer e passar seus dedos minuciosamente sobre as lambadas de alguns exemplares de cor escura – Nicholas fez tudo sem emitir barulho algum.

Primavera & Chocolate (livro um)Onde histórias criam vida. Descubra agora