Oportunidades

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- Isso tudo ainda não é o suficiente para que uma filha precise de uma mãe?

O rosto de Soraya estava vermelho, olhos inchados de tanto chorar.

- É mais que o suficiente. - disse ela por fim. - Seu pai, antes de morrer, falou para que eu te procurasse. Ele sempre quis nos ver juntas novamente.

- Se queria tanto assim... - eu já estava ficando cansada de estar em pé. - Por que me abandonou também?

Ela apenas abaixou a cabeça e voltou a chorar, incapaz de responder ou ao menos olhar em meus olhos.

- Foi por sua causa, não foi?

Assentiu ainda com a cabeça abaixada. Eu não precisava mais fazer perguntas, não havia nada mais que eu quisesse saber. Meu pai amava tanto minha mãe, ao ponto de abandonar a própria filha por ela. Isso é doentio.

Resta alguém sã por aqui?

Contudo, sabendo de seu último pedido antes de morrer, aliviou meu coração saber que ele não me esquecera.

Sento no sofá, repouso minha mãe no ombro de Soraya e digo

- Está tudo bem, mãe. Já passou.

Ainda chorando, ela aos poucos consegue voltar a olhar em meu rosto. Um pequeno sorriso, com esforço, é formado em seus lábios.

- Sei que é impossível recuperar o tempo que perdi. Tanto os anos em que não fui uma boa mãe e ainda este último, em que eu nem estive por perto. - minha mãe enlaça sua mão na minha. - Cuidarei de você a partir de agora.

Assenti sorrindo, sem saber ao certo oque pensar.

- Filha, posso te dar um abraço?

~♡~

Domingo.

Minha mãe e eu estamos nos esforçando para termos um relacionamento o mais normal possível. Ontem jantamos e assistimos a novela juntas. Mães e filhas fazem isso? Estou perguntando pois eu não sei, tudo é muito novo para mim.

Ela está diferente, sabe? Até demos risadas juntas. Entretanto, admito, por mais que tudo pareça estar á mil maravilhas, ainda dói. Dói porquê toda vez que ela age de maneira carinhosa comigo, eu lembro de como ela era antes. Comparo-a. E fico pensando quem eu seria se tivesse recebido todo esse amor maternal desde pequena.

Estamos agora indo resolver as coisas para o velório do pai, que será amanhã de manhã. Ainda não acredito no que aconteceu.

Meu pai não era exatamente como a minha mãe, sei que nunca falei muito sobre ele. Bem, ele amava Soraya. Eles se amavam. E, por mais que em alguns momentos ele também era rude comigo, também havia os que me tratava com ternura.

Sei que, ás vezes, ele brigava comigo só para chamar a atenção de minha mãe. Não que em certas ocorrências eu não desse motivo, mas sempre havia aquele motivo bobo acompanhada de uma gritaria desnecessária. Pergunto-me se ele ainda seria assim se não tivesse minha mãe por perto.

Nunca me falaram, mas também nunca perguntei se a gravidez de minha mãe fora indesejada. Ela agia como se estivesse ali cuidando de mim só por obrigação.

Tudo isso me fez refletir se Soraya realmente amava meu pai. Ao todo, ela mostrava que sim. Contudo não acho que ela realmente o conhecia.

Ele era uma pessoa boa, porém nutria um amor doentio. Um amor que o transformava em alguém que ele não era.

- Alana, você fez alguns amigos durante esse tempo? - perguntou minha mãe sentada ao meu lado no carro.

- Sim, alguns poucos... - respondi ainda voltando á realidade. - Por quê?

- Gostaria de conhecê-los. - apesar de estar indo organizar o velório de meu pai, ela ainda sorria para mim. - Oque acha de chamar eles para almoçar em casa hoje?

- Pode ser. - falei um tanto incerta.

Pensei em quais amigos eu tinha. Luana, Mel e Dante. Os únicos que restaram. Não tenho muita certeza de que seria uma boa ideia. Dentre os três, apenas Luana sabia algo sobre meu passado com minha mãe.

Estava perto da uma hora da tarde, o velório de meu pai estava todo organizado.

Como minha mãe pediu, liguei mais cedo para meus amigos que confirmaram e adoraram a ideia, apenas Mel que se desculpou e disse que não poderia ir.

Dante e Luana chegaram poucos minutos depois do almoço estar pronto. Eu estava nervosa, não sei dizer ao certo porquê. Mas, se eu avaliar bem... ainda não sei oque pensar sobre minha mãe. Ainda estava conhecendo essa nova versão dela e não sabia oque esperar.

Sentamos na mesa e a conversa fluiu mais rápido do que eu pensava. Eu estava com medo de que ficasse aquele clima tenso de todo mundo comendo em silêncio, contudo foi exatamente o oposto. Minha mãe fazia várias perguntas sobre a escola, Luana se divertia contando suas histórias. Dante, como estava mais tempo estudando lá, fazia alguns comentários mais experiêntes. Aos poucos, minha tensão se foi. E logo eu estava sorrindo também.

Á noite Dante nos fez o convite para ir ao cinema, incluindo a minha mãe. Fiquei feliz por eles terem gostado dela. Soraya não aceitou, disse que deixaria nós termos nosso momento entre "jovens", depois mudou o termo para "crianças" quando soube que iríamos assistir Procurando Dory.

Por um dia, pelo menos por um dia eu estava vivendo coisas normais. Entretanto apenas ao meu redor, pois minha mente estava conturbada.

Augusto Cury nos disse para amar! [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora