Sem sonhos

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Acordo assustada e vejo que ainda estou no dormitório de Dante. Olho para a outra beliche e o encontro ainda dormindo.

Recupero-me do susto, levanto e tomo mais um remédio por precaução.

Irei para as aulas esta manhã, mesmo não estando emocionalmente bem. E não vejo problemas nisso, só não posso fazer esforços físicos. Só irei realmente pois não quero levantar suspeitas, não preciso de mais ninguém sabendo e comentando sobre minha vida.

- Bom dia. - diz Dante ainda acordando - Está se sentindo bem?

- Um pouco melhor. - respondo enquanto vou em direção ao banheiro - E apresse-se para levantar, daqui a pouco temos aulas.

- Espere! - Dante sentou na cama assustado - Mas você não vai...

Apenas sorri para ele e entrei no banheiro, melhor resposta que essa não há.

Quando voltei ao quarto Dante ainda tentou convencer-me de que não seria bom para mim ir nas aulas, que precisava de descanso e repouso. Teimosa do jeito que sou, é claro que ele não conseguiu. Eu até concordaria com ele se fosse o caso de ter que pegar ônibus para ir para escola. Entretanto o caso é bem diferente, já estou dentro dela.

Saímos juntos e em silêncio, como eu já disse anteriormente, quero evitar o máximo chamar atenção das pessoas.

No pátio avisto Luana á frente, despeço-me de Dante e vou até ela.

- Luana! - digo ofegante por ter corrido - Me desculpa! Sei que disse que iria ficar no seu dormitório, mas ai eu precisava tomar o remédio e estava trancado e então Dante me levou...

- Tudo bem, calma, Alana. Dante mandou-me uma mensagem avisando que estava com ele. - não demorou muito para que ela ficasse brava comigo novamente - E a propósito, você não deveria estar correndo assim, deveria?

- Ah, eu... fiquei muito preocupada de você estar preocupada comigo.

- Tudo bem. - Luana volta a sorrir e me abraça - Só tome cuidado, okay?

~ ❤ ~

Eu tentei, dessa vez realmente tentei prestar atenção nas aulas. Ou em qualquer coisa que me distraísse dos problemas. Problemas que eram tantos que seria impossível listá-los neste momento.

Apesar de estar com a mente cansada, tudo ocorreu bem. Ninguém desconfiou, ninguém falou. Tomei o remédio antes de sair, então também não senti dor. Carol que não ousou olhar para mim, ela soube que tive que ir para a enfermaria e fiquei lá por um tempo depois que empurrou-me da escada, todavia ela não sabe o motivo. Vamos deixá-la pensando que torci o músculo do braço e nada mais.

Quando estávamos todos liberados saí da sala á procura da pessoa que estava na minha mente desde de sempre, a última vez que o vi estávamos tão felizes.

E no meio da multidão, avistei Diego.

Percebendo meu olhar sobre ele encarou-me de volta. Caminhei devagar, tentando manter a calma.

- Precisamos conversar. - digo parada á sua frente

- Aconteceu algo? - pergunta ele preocupado - Não foi para casa ontem, está tudo bem?

- É, precisamos conversar. Vamos para o jardim?

Não seria fácil conversar com ele, isso eu já sabia desde o princípio. Escolhi o jardim por ser um lugar mais calmo, longe de pessoas. Havia bancos de madeira distribuídos pelo chão de um piso personalizado entre as flores, com uma certa distância entre eles. Uma distância suficiente para duas pessoas conversarem longe dos olhares curiosos.

Sentamos no banco e Diego ficou esperando por minhas palavras.

- É, então... aconteceu uma coisa ontem. - digo encarando as flores ao meu lado - Eu caí da escada, senti uma dor muito forte e fui levada para a enfermaria. Eu perdi o bebê.

Diego encarou-me perplexo, depois pareceu querer dizer alguma coisa. Sua boca se abria, mas não dizia nada. Fiquei em silêncio, segurando-me para não chorar, porém dei esse tempo a ele.

- Como... como isso aconteceu? - questionou ele estarrecido - Você simplesmente... caiu da escada? Por que não usou o elevador?

- Recebi um bilhete anônimo na última aula dizendo para ir até a escada, eu fui. - suspirei tentando continuar sem lágrimas - Carol aguardava por mim lá, furiosa. Avançou em minha direção e acabei escorregando.

- Luana não estava com você?

- Não contei á Luana. - depois de todo esse tempo, só agora realmente olhei para Diego - Pensei que fosse alguém querendo dizer algo sobre Renato... Eu me sentia culpada por envolvê-la em tantos problemas.

- O caso de Renato não foi sua culpa. - insistia ele

- Não mesmo, Renato por si só é um enorme problema para Luana, mesmo depois de morto. Ela já tem tanto para se preocupar, apenas quis poupá-la.

- Você cuida tanto dessa menina, ela deveria cuidar de você o mesmo tanto também! Tendo o caso de Renato ou não, ela deveria...

- O assunto que vim discutir com você não foi Renato! - gritei, deixando cair algumas lágrimas - E não foi culpa de Luana, ela não tem como adivinhar se eu não contei para onde iria!

Diego não esperou eu terminar de falar e envolveu-me em um abraço. Senti meu ombro molhado e percebi que estava chorando também.

- Me... desculpe. - disse ele ainda me cercando com seus braços - Me desculpe, é só que... Ah, estava tudo tão certo. Sei que doeu em você muito mais, não queria ser rude, mas...

- Tudo bem. - acalmo-o acariciando seus cabelos - Vamos superar.

~ ❤ ~

Ficamos alguns minutos ali, juntos, abraçados e confortando um ao outro. Diego disse que daria-me todo o apoio que precisasse, agradeci e falei que estaria ali para ele também. Entretanto, pedi que entendesse, mas iria ficar mais um tempo na escola com Luana. Sabe, seria difícil para mim voltar para aquela casa e lembrar do nosso último momento feliz, em que estávamos por decidir qual seria o nome do nosso filho.

Eu caminhava pensativa até o dormitório de Luana, mais uma vez nesse horário ela estaria em seu clube e eu realmente precisava de um tempo sozinha. Tentei ser rápida, antes que alguém me impedisse. Talvez, depois de tantos acontecimentos ruins envolvendo pessoas muito próximas, eu esteja querendo ficar longe delas.

Como se isso fosse livrar-me de ter mais problemas.

Augusto Cury nos disse para amar! [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora