Quanto tempo mais vou precisar fingir?

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Desacreditada, fiquei encarando o muro por alguns segundos, sorri e fui também. Realmente escalar o muro não era uma das missões mais impossíveis, tentei ser rápida para alcançar Dante. Cheguei ao topo e pulei.

Quando atingi o chão meu pé virou e senti uma dor no calcanhar, dei um gritinho e caí meio que sentada.

- Você tem muito oque aprender.

- Oque você ainda está fazendo aqui? - Perguntei.

- Esperando, sabia que iria vir comigo.

- Se sabia disso, porquê não me ajudou?

- Você tem muito oque aprender.

Lancei-lhe um olhar furioso, Dante perguntou se eu conseguia andar e eu assenti. Era final de tarde e o Sol já estava se pondo, caminhamos até uma sorveteria não muito longe da escola.

- Ah, merda.

- Que foi? - perguntou.

- Esqueci de pegar dinheiro.

- Relaxa, vim preparado para isso. - ele sorriu.

Havia várias pessoas sentadas em mesinhas de ferro azuladas, todas com um sorriso no rosto e saboreando sorvetes dos mais variados tipos. Prometi para Dante que quando voltássemos eu o devolveria o dinheiro. Escolhi Blue Ice e ele chocolate.

- Quer comer aqui dentro ou prefere dar uma volta? - ele perguntou.

- Vamos sair por aí.

Enquanto tomávamos nossos sorvetes caminhamos até uma praça, eram 18 horas e no céu ainda havia vestígios dos raios solares.

A praça estava bem movimentada pelo horário, acho que por ser mais fresquinho todos saíam para caminhar por ali. Dante me convidou para jogar ping pong em umas mesas que haviam mais a frente, eu nunca joguei isso e ele parecia saber muito bem oque estava fazendo, mesmo assim aceitei. 

Iniciamos a partida e a bolinha passou ao meu lado sem eu nem ver, ele estava rindo da minha cara. Peguei-a e iniciei de novo - da maneira errada - ele teve que vir ao meu lado, por trás de mim na verdade, para me ensinar como lança a bolinha para iniciar a partida.

 Seus braços passaram pela minha cintura e suas mãos chegaram até as minhas, me mostrou quais eram os movimentos e voltou para o lado oposto da mesa. Aprendi e lá fui eu toda confiante de que agora já sabia oque precisava para fazê-lo errar, errado, Dante conseguiu acertar a bolinha e ela voltou e minha direção, acertei-a de volta, mas joguei-a para fora da mesa. Ele mais uma vez teve uma crise de riso enquanto eu ficava irritada, fui pegar a bolinha e iniciei de novo.

Ficamos assim, jogando até ficar noite. Eu já não estava mais brava, ficou claro que eu ia perder, mas agora eu ria com os movimentos toscos que Dante fazia só para pegar uma bolinha.

Começava a garoar e resolvemos ir embora, caminhamos o mais rápido para tentar não pegar a chuva, inútil, poucos minutos depois a garoa já se tornara uma chuvinha fraca.

- Vamos esperar ali? - apontei para a cobertura de uma banca de jornal. - Até a chuva passar para não nos molharmos tanto.

Dante veio em minha direção sorrindo, quando chegou perto o suficiente chutou uma poça d'água ao meu lado, atingindo diretamente a mim. Minha calça e parte de minha blusa ficaram encharcados, olhei surpresa para ele e logo revidei, deixando-o da mesma maneira. Fizemos uma pequena guerra no meio da rua, antes que percebecemos já estávamos em frente ao muro onde havíamos pulado, meu pé ainda estava meio dolorido e pensei em como escalaria tudo aquilo.

- Deixe que eu te ajudo. - falou Dante.

Ele abaixou para que eu subisse em seus ombros, levantou e só faltava um pouco mais para mim alcançar o topo, ele era alto e quando ficou nas pontas dos pés consegui escalar. Ele pediu para que eu esperasse em cima do muro enquanto ele subia, parecia estar acostumado a fazer aquilo, sentou-se ao meu lado. 

De lá de cima era possível ver boa parte do jardim da escola, era enorme. Não havia ninguém do lado de fora por causa da chuva e o som dos pingos se chocando contra o solo era o único. Eu estava muito distraída e me assustei quando Dante pulou para dentro da escola, se virou e ergueu os braços para mim, pulei e ele me segurou. No mesmo instante eu já estava no chão, fomos em silêncio até o elevador. Antes de entrar, me virei para ele e falei:

- Espere aí, vou pegar o dinheiro para lhe pagar o sorvete.

- Não precisa, um dia você me paga de outra forma. - disse ele, encarando minha regata branca que havia ficado transparente.

Ruborizei e entrei no elevador, antes da porta se fechar olhei para ele uma última vez, mas ele já não estava mais lá.

No corredor refleti sobre o que Dante disse, a dívida que eu tinha com ele era apenas um sorvete, eu estaria ferrada se Diego me pedisse para pagar de outra maneira também.

Entrei no quarto e apenas Luana estava lá. Olhou pra mim e disse:

- Vá tomar um banho e volte rápido, precisamos conversar.

Peguei umas roupas e me joguei dentro do banheiro, para Luana, que é tão curiosa, nem perguntar o porquê de eu estar na chuva o assunto deveria ser sério.

Saí do banheiro e ela estava com um caderno nas mãos.

Reconheci o caderno que Brenda esconde debaixo do travesseiro, a olhei confusa.

- Preciso ler isso aqui, talvez tenha alguma pista do porquê Brenda anda tão estranha com Steven.

- Pra que você quer tanto saber? - perguntei. - Seu objetivo não era só conquistar ele?

- Não! Na verdade... foi ele quem ne pediu para fazer isso.

- Desde quando vocês são tão amiguinhos?

- Ele está no clube de jardinagem. - ela sorriu.

Colocamos o caderno dentro da minha mochila e saímos pelo corredor, encontrei Mel saindo de seu quarto.

- Mel... eu e minha amiga precisamos de um pouco de paz, podemos? - falei, apontando para a porta.

- Claro! Fiquem a vontade, mas só sentem na minha cama que é a de lençóis dos ursinhos carinhosos.

Agradeci e entrei no dormitório com Luana, por sorte não havia ninguém ali. Sentamos na cama da Mel e tiramos o caderno da bolsa, juntas começamos a ler.

" Me sinto muito sozinha nessa escola, sim, tenho Carol, mas ela não se importa com meus problemas, ela só quer conquistar Diego. Precisava muito desabafar mas não tem ninguém que eu confie aqui, nem no meu namorado. Por falar em Steven, ele está cada dia mais insuportável! Ele quer que eu saia com ele no fim de semana, quer ficar agarrado comigo o tempo todo e já estou de saco cheio. Quanto tempo mais vou precisar fingir? Quanto tempo mais vou precisar esconder o quão excitada eu fico quando...."

Escutamos passos pelo corredor, fechamos o caderno e decidimos nos esconder debaixo da cama. Fui primeiro, tentei ser rápida e bati minha cabeça. Antes que Luana pudesse sequer colocar o pé para se esconder houve um barulho.

A porta foi aberta num estrondo e havia uma garota de cabelos encaracolados parada ali, os olhos de Brenda foram tomados por fúria quando encontrou seu precioso caderno nas mãos de Luana.

Eram 22 horas e as luzes se apagaram.

Augusto Cury nos disse para amar! [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora