Fracassos

715 27 23
                                    

Tive uma noite ótima, feliz noite com meus amigos e, quando cheguei em casa, fui recebida por uma mãe carinhosa. Porém, nem tudo é um mar de rosas. Acordei já triste para o velório do meu pai.

Abri o meu ármario, percebi que algumas das roupas que não levei para a escola ainda estavam lá. Incluindo um vestido preto que comprei quando estava passando pela minha fase gótica. Eu deveria ter uns quatorze anos, por sorte ele ainda servia.

Suspirei e me vesti. Logo fui para a cozinha onde minha mãe já se encotrava. Ao me olhar, disse:

- Você está linda.- sorria ela. - Lembro desse vestido.

- É, você não queria comprá-lo para mim. - logo após de dizer isso me arrependi. - Desculpe...

- Tudo bem, querida. - disse ela aproximando-se para um abraço. - O dia de hoje será difícil para todos nós.

No caminho para o velório passamos para pegar Luana e Dante, pois fizeram questão em estar ao meu lado neste momento difícil. Amigos, ao menos os de verdade, são assim.

Eu estava quieta, sentia-me incapaz de falar. Apenas respondia algo se me perguntassem, mas sem muita conversa. Eu tinha medo de que, se eu abrisse a boca, não iria mais conseguir segurar as lágrimas. Tentava mostrar ser forte, nunca gostei de expôr meus sentimentos em público.

Havia muitas pessoas, meu pai era um tanto querido na cidade. Não que fosse alguém importante, mas fizera bons amigos por onde passou.

Mative-me forte até meu limite, contudo nos momentos finais não me contive. Chorei tudo oque tinha direito. De qualquer forma, eu não era a única derramando lágrimas ali. Dante abraçou-me, escondi meu rosto em seu peito. Não aguentava mais olhar.

O caminho de volta para casa foi feito em silêncio. Encostei minha cabeça na janela do carro, meus olhos ainda estavam marejados, porém não chorava mais.

Luana e Dante iriam almoçar comigo, na verdade, passariam o dia ao meu lado. Normalmente as pessoas preferem ficar um tempo sozinha para se recuperar, mas eles são pessoas boas e me fazem bem, é disso que preciso.

Chegamos em casa e minha mãe iria pedir o almoço, pois também não se encontrava em condições para cozinhar.

Dante pediu licença e foi ao banheiro. Minha mãe sentou no sofá da sala e ligou a TV. O celular de Luana tocou, vi que se afastara de mim para conversar, mas antes olhou-me preocupada.

Fiquei sozinha na cozinha por alguns minutos, aproveitei para beber um copo d'água e tentar me acalmar.

Luana voltou segurando o celular com ambas as mãos, parecia estar tentando dizer alguma coisa, ou pensando se dizia ou não. Fiquei encarando-a, esperando que falasse.

- Era a Mel. - disse ela por fim. - O pai dela é policial, ligou para avisar-me que Diego está preso.

Mais um aperto no meu peito.

Não digo que foi surpresa, eu meio que já esperava por isso. Contudo, ainda assim foi um sobreassalto. Sem dar uma resposta para Luana, corri até a sala.

- Mãe! Preciso que me leve para a delegacia. - falei ainda de pé á sua frente. - Preciso falar com uma pessoa...

Nesse momento Dante saía do banheiro. Ao me ouvir dizendo isso, já compreendeu de quem se tratava. Seus olhos estavam tristes.

- ... Foi com essa pessoa que fui morar, mãe, e que um dia quase foi o pai do meu filho.

~♡~

Soraya levou-me até a delegacia sem muito questionamentos. Ela estava ainda muito abalada pelo velório do meu pai, toda essa situação só piorava.

Entrei sozinha, minha mãe ficara esperando por mim no estacionamento.

Como o pai da Mel era um dos policiais foi mais fácil para conseguir a autorização da visita. No momento da prisão, a pessoa precisa passar pelo procedimento de registrar na administração do presídio o nome das pessoas que deseja receber visita, e Diego colocara o meu.

"Ah, você é a namorada dele." Disse uma polícial ao checar o rol de visitas.

Fui encaminhada até uma sala. Era pequena e Diego ainda não havia chegado. Uma painel de vidro nos separaria e um telefone seria nosso canal de comunicação.

Trazido por dois policiais, Diego estava parado á minha frente. Os dois saíram, deixando-nos a sós. Ele sentou na cadeira e pegou o telefone.

Levei alguns segundos para acostumar-me coma imagem dele. Com o uniforme do presídio, nem parece o garoto que me levou para jantar no restaurante mais chique do bairro.

Após sentar na cadeira e segurar o telefone, ele disse sorrindo:

- Olá, amor.

- Quando é que eu ia conhecer seu pai mesmo? - perguntei sarcástica.

- Desculpe, eu não queria que fosse assim...

- Estou cansada de suas desculpas. - segurava-me para não começar a gritar. - E você? Quando é que eu realmente ia conhecer você?

- Fui criado assim, no meio de tudo isso! - o sorriso dele desaparecera. - Não quero que tenha dó de mim, só quero que saiba que, apesar de todas as mentiras, eu te amei de verdade. E ainda amo.

Ouvir isso, saindo de sua boca, me enojara. Cada palavra sua referindo-se a mim com amor, não acredito mais. Tudo oque ele diz, meu cérebro só defini como mentira.

- Nosso filho... ele era apenas uma garantia?

- Eu queria tê-la para sempre! - Diego disse sem pensar, o desespero em sua voz.

- E olha só oque você conseguiu... - estava difícil segurar meu sarcasmo. - ... Perdeu ele e a mim também!

Lágrimas escorreram pelo rosto de Diego. Fiquei surpresa comigo mesmo por ter ficado pasma ao vê-lo chorando, na minha mente ele se tornara um monstro, e monstros não choram.

- Onde está sua mãe? - pergunto.

- Foi morta quando eu era pequeno, pelo meu próprio pai. - Diego não me olhava mais. - Não lhe dava a atenção que ele julgava merecer e, pelo menos foi oque ele me disse, mas ela nem ligava para mim.

A raiva passou, tudo oque eu sentia agora era pena. Pena por um garoto tão lindo, tão inteligente e que poderia ter sido uma boa pessoa na vida ter crescido dessa forma. No meio de coisas tão horríveis.

- Hoje de manhã eu estava no velório do meu pai... - nem sei ao certo porquê comecei a contar isso. - ... Aquele que me abandonou na frente daquela escola horrível, mas mesmo assim senti a dor de perdê-lo. Não sei se ele me amava, mas tenho certeza de que eu sim.

Diego começara a chorar. Coloquei o telefone de volta na sua base, não queria ouvir seu sofrimento. Fiquei alguns segundos encarando-o pelo vidro, nossa coversa havia terminado.

Ou ao menos foi oque pensei. Havia mais uma coisa que eu precisava saber.

- Diego... - novamente peguei o telefone. - ... Quem matou Renato?

Entre lágrima e soluços, ele disse:

- Fui eu.

Augusto Cury nos disse para amar! [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora