Acordei no meio da madrugada com Green se mexendo, resmungando e fazendo sons parecidos com gemidos.
Quando Green voltou ao quarto mais cedo, não insistiu para conversarmos, mas ficou falando, me elogiando, não exigiu resposta alguma. Eu fiquei com a cara de criança-quando-conhece-a-nova-babá. Só olhava e piscava os olhos. Assim que ele saiu do banho e sentou-se na cama houve um momento em que ficamos nos olhando e piscando os olhos quando necessário.
- Seus olhos são tão lindos. Transmitem uma inocência que parece vinda da alma. - comentou calmamente, observando-os.
"Os seus são mais lindos e hipnotizantes ainda, mas sua alma é escura e transmite a pessoa sórdida e sem coração que você é." - Queria dizer a ele, mas permanecia com cara-de-criança-débio.
- Seus lábios são carnudos... É lindo, eu gosto. - elogiou novamente olhando para o local que descrevia.
"Seus lábios também são lindos. Tão rosados. Carnudos. Saudáveis. Mas deles só saem coisas nojentas e ofensivas." - Queria dizer mas me contive.
- Seus cabelos são tão negros... E lisos. Acho-os bonitos, e quando está bagunçado gosto dos cachos nas pontas e das ondulações. - Serenamente divagou. Fiquei surpresa com sua observação, era muito detalhado.
"Seus cabelos eram lindos, gostava mais deles antes, mas também está bonito assim. Bom seria se estivesse grande, pois eu queria arrasta-lo pelo cabelo" - Falar eu queria, mas continuei olhando-o como uma criança muda e surda.
- Sua pele é tão bonita, é como café com leite pela manhã. - ele riu. - como leite com um pouco de achocolatado. - Riu um pouco, mas sem muita expressão facial.
"Gosto da sua pele. Ela é tão branca e uniforme, parece ser macia. Mas queria colocar umas cores nela, como verde ou roxo."
- Eu te vi sorrir quando te vigiava. Seu sorriso é tão lindo. - Respirou fundo parecendo pensar em algo. - É realmente lindo.
" Eu nunca te vi sorrir."
Depois de mais silencio ele falou que eu dormiria com ele e não em meu "colchão de cachorro". Após algemar meu braço direito na cabeceira da cama caímos no sono, mas cada um em seu canto.
Fiquei observando Green vulnerável, suado, se movendo em parar, resmungando e gemendo. Em um solavanco abriu abriu os olhos de uma vez, por instantes ficou estico e eu assustada, encolhida próxima a cabeceira. Green finalmente piscou os olhos e olhou para baixo, eu olhei para baixo. Ereção. Droga. Ele olhou para mim, eu olhava-o assustada; olhos arregalados, sobrancelhas franzidas, coração acelerado e respiração desregulada. Green bufou e colocou as mãos no rosto, esfregando-o como se fosse arrancar a pele. Me encolhi mais ainda, como se fosse implodir. De uma vez só ele levantou-se e caminhou rápida e desengonsadamente para o banheiro. Ouvi uma barulhos, uns murmuros e logo ele saiu do banheiro 'normalmente', deitou-se e se embrulhou, já que estava muito frio. Seus olhos fixaram-se nos meus e não os largou durante um tempo, mesmo estando um pouco escuro, só com a luz banheiro algumas frestas vindas do jardim que iluminavam um pouco o quarto, podia ver o verde de seus olhos brilhantes me fitando como se buscasse me desvendar apenas com os olhos.
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Síndrome de Estocolmo
RomanceTalvez eu devesse ter continuado calada. Talvez seus olhos não tivessem me deixado tão fascinada. Talvez eu devesse ter ido para casa naquele fatídico dia. Talvez devesse acontecer muita coisa. Talvez não. ...