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     As coisas se estabilizaram, conseguia ouvir a batida do som que tocava lá embaixo. Devo ter dormido junto ao velho e tive um pesadelo. Me arrumei na cama e sentei, esfregando os olhos. Ouvi o farfalhar dos lençóis, mas continuei esfregando os olhos e bocejando.

     - Senhor Clienin acho que suas duas horas já passaram.- avisei o pobre senhor.

      Mas quando ele não respondeu eu olhei para o lado.  Ver a imagem de Herick me fez pular e cair da cama gritando.

     - Por favor não surta de novo Cath!- pediu com certo desespero.

      Eu suspirei. Respirei fundo, pensei em como eu poderia tornar isso normal. Repeti para mim mesma que estava tudo bem. Ele estava ali? Ele estava ali! Calma Lienne, é isso que você é! Você é a Lienne, você é a Babydoll. Calma. Ele não vai te levar. Ou vai? Não, ele não vai. Vou respirar fundo e enfrentar os demónios do passado.

      - Você... Você... Você está morto!- constatei de olhos fechados.

     - Eu pareço bem vivo, para mim.- debochou.

      - Não, não, não. Eu vi, eu vi a casa explodir, eu vi. Você morreu! Tostou!- repeti como uma pessoa alucinada. Eu estava alucinando.

     - Eu não sou um churrasco Cath!- disse cansado.

     - Lienne! - falei entre os dentes.

     - O que?- perguntou confuso.

    
     - Mijn naam is Lienne!- respondi em holandês.
     (Meu nome é Lienne)

     - Wal, seu holandês esta ótimo. Mas eu prefiro minha língua!

      - Ik ben Nederlands en ik spreek alleen Nederlands!- disse para provoca-lo.
     (Eu sou holandesa e só falo holandês)

     - Sério, cristal americano?- ironizou erguendo as sobrancelhas.

     Crispei os lábios sem saber como contrariar, mas ainda com o olhar desafiador. Ele tentou se aproximar mas eu me arrastei para longe.

      - Não toca em mim.- rosnei.

     - Cath, sou eu. Eu estou aqui e nós podemos...

     -Não tem nós! Eu não... Tudo aquilo foi só a síndrome.- informei convicta.

      - Que síndrome Cath?- perguntou perdido.

     - Síndrome de Estocolmo, a síndrome de Estocolmo. Tudo aquilo foi só a síndrome.-  respondi com a voz trémula.

     - Do que esta falando?

     - Eu-eu só me apeguei a você porque só tinha você... É-é só um mecanismo de defesa e...

      - Do que esta falando Cath? Que droga é essa síndrome? - ele estava confuso.

     - "É o nome normalmente dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo de amor ou amizade perante o seu agressor."- receitei rapidamente o artigo que decorei.

     - Agressor? Eu era seu agressor?- levantou indignado.

     Assenti freneticamente abraçando minhas pernas.

     - Carrasco, agressor, sequestrador e um monte de outras coisas. - disse olhando para o botão do pânico embaixo da mesinha de cabeceira e o taser escondido atrás da luminária.

Síndrome de EstocolmoOnde histórias criam vida. Descubra agora