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      Uma curiosidade interessante: George Washington foi sangrado até a morte pelos médicos. Isso ocorreu porque a sangria era uma prática comum para se livrar de "sangue ruim", naquela época. Convenhamos que Marie não era nenhum símbolo de "sangue bom". Por isso eu via as últimas gotas pingarem de seu corpo decapitado, de cabeça para baixo. Não que eu fosse fã de ficar olhando o sangue ficar pingando daquele corpo multulado, mas eu precisava. Era como se lavasse minha alma. Até a última gota cair.

     E então eu entender que eu havia acabado de matar uma mulher.

     - Porque fez isso Catherine?

     A voz dele me parou quando eu já estava atordoada demais para pensar direito. Ele não reagiu bem. Primeiro entrou em choque,  disse que era só um sonho e que eu era pura demais para fazer essas coisas. Depois ele surtou, surtamos e gritamos um com o outro. Depois levaram ele pro quarto e preferiram não chegar perto de mim. Estavam com medo. Eu apenas fechei os olhos e suspirei, preferi ignorar sua pergunta e passar direto para o banheiro.

     - Porque fez isso?- perguntou de novo quando eu já estava tirando a camiseta ensanguentada.

      - Não faz pergunta difícil... Amor.- respondi com ironia.

     - Porque esta falando assim? Porque esta agindo assim? Porque matou uma pessoa?- questionou aflito.

     - Eu não sei!- alterei o tom de voz.- você pode me deixar em paz um único minuto, por favor?

     A verdade é que eu sabia. Eu estava transtornada. Cheia daquela raiva e rancor, sem um apoio emocional. Eu não estava me queixando, entendia a dor de Herick, e a falta de geito dos outros, mas eu fiquei a mercê da minha mente. E mente vazia é oficina do demonio. E que droga de trabalho bem feito ele fez, em?

     - Não sabe? Não sabe?- o sarcasmo se espalhava por suas palavras.- Você matou a Marie! Você decapitou a Marie, Catherine!

     - Porque está tão preocupado?- Gritei alterada.- Porque? Ahn? Ela matou a minha filha!

     - Era minha filha também e nem...

     - Não. Não era.- sentia cada palavra arranhar minha garganta enquanto eu gritava.- Porque se você sentisse a perda de uma filha como eu senti você não pensaria duas vezes quando estivesse com ela nas mãos! Você a mataria! Mas não a matou! Você não a matou!

      - Catherine você não...

     - O que eu sou pra você Herick? O que nos éramos para você? Eu e Annelise?- gritei sentindo as lágrimas caírem.- Porque se a Marie foi importante o suficiente para você não mata-la depois do que ela fez, então o que éramos para você? Talvez você nem ligasse para nós. Como Zedd havia dito, você só fez isso porque eu quis abortar, não é?

      - Agora você ouve o Zedd?- ele gritou, mas agora sua voz alterada não me assustava mais. Que se foda o Green, que se foda essa porra toda.- A Marie cresceu comigo!

     - E "sua filha" não pode crescer por causa dela!- e eu já me desfazia. A nuvem dentro de mim se esvaziava e eu me desfazia em lágrimas salgadas como as ondas do mar que a tempos eu não via.

     - Eu te amo.- sussurrou com a voz trémula, como em um pedido de desculpas.

     Mas eu não queria sua desculpa. Não queria suas mentiras, sua hipocrisia. Eu não queria mais sentir esse amor correndo dentro de mim, batendo em mim sem deixar marcas aparentes. Não queria esse amor que machuca, que me rasga de dentro pra fora. Porque sempre foi eu, sempre foi eu que aguentei tudo em nome deste amor que estava apenas dentro da minha cabeça, apenas dentro de mim. Essa via não era de mão dupla como um relacionamento deve ser, eu estava sozinha dirigindo na noite escura. Eu sofri. Eu chorei. Eu apanhei. Eu fui privada de tudo e ainda assim eu o amei, mas na primeira chance dele provar o amor que dizia sentir... Ele falhou e mostrou pra mim que eu nunca fui tão importante para ele.

Síndrome de EstocolmoOnde histórias criam vida. Descubra agora