Seda. A representação do poder e do luxo. Era o que eu queria. O poder. Quanto tempo eu esperei para poder te-lo, me escondendo, sendo gentil, esperando que alguém fosse bom comigo. Até aquilo acontecer. Até eu perceber que a humanidade é egoísta, pensam em seus interesses acima de tudo, acima até da vida de um semelhante. Suas lágrimas não comovem pessoas egoístas e pretensiosas, mas seu poder as amedronta e isso é bom. Sentir-se temida é muito melhor que se sentir amada, porque quando se é amada as pessoas podem te magoar, passam por cima de suas vontades porque dizem querer seu bem, mas no fim só te machucam; quando se é temido só fazem o que se manda, não te interferem, não passam por cima de sua palavra e se livram de sua sujeira.
Eu vi olhares assustados no andar de baixo quando me viram descer a enorme escadaria ao lado de Green, ambos com olhares prepotentes, superiores e sanguinários. O vestido de seda longo, negro como meus olhos - foi o que Herick disse-, argolas médias de ouro, cabelos soltos e os lábios vermelhos como sangue. Herick em seu smoking preto, cabelo penteado para trás e seus olhos tão sombrios que chegava a arrepiar. Sorrisos se desfizeram, surpresa tomou rostos, medo se espalhou em alguns olhos e acusações foram feitas por olhares. Os saltos me permitiam ficar na altura dos olhos de Herick, quando paramos no final da escada ele apenas beijou levemente meus lábios antes de estender seu braço para mim de forma cortês. Sabíamos que alguém ali havia tentado me matar, que haviam matado nossa filha, nosso plano era encontra-lo ainda hoje e mata-lo, seja ele ou ela quem for. Conforme fomos avançando os corpos foram se afastando e nos dando espaço. Diana me olhava com estranheza, ela percebia que havia algo comigo e hoje não foi diferente, Aluísio me olhava com pesar, Samantha estava assustada e Leon tinha apenas a expressão dura, como se também estivesse com raiva. Eu apenas os olhei por cima e logo desviei o olhar, ainda o olhar superior.
Mas o olhar assustado de uma pessoa me fez sorrir amargamente. Zedd. Ele estava com um smoking preto e uma gravata borboleta marrom, um cigarro entre os dedos, mas estava paralisado com minha visão. Herick estava conversando em alguma língua que eu não conhecia com um senhor careca, acariciei seu braço e me aproximei de seu ouvido.
- Zedd.- sussurrei.
Ele apenas olhou em meus olhos e assentiu. Sabia do que eu falava, Zedd era o primeiro suspeito e devíamos manter os olhos nele durante a noite. Antes que eu me afastasse vi Marie correndo na direção de Zadd, sorridente, balançando seu vestido azul escuro de pregas, com os cabelos curtos e com grandes caichos. Seu sorriso se desfez quando Zadd falou algo em seu ouvido, ela colocou a mão esquerda sobre o cabelo ao lado da mandíbula, logo virando o rosto lentamente para mim. Vi seu peito subir e descer com a respiração pesada, seus olhos queimaram de ódio, e vi do lado direito sua mandíbula travar. Apenas olhei-a com frieza e levantei meu queixo, mostrando que não tinha mais medo dela e que ela quem deveria me temer. Herick, que já havia parado de conversar com o senhor careca, passou sua mão por minha cintura e olhou para o casal do outro lado da sala.
- Marie.- disse convicto em meu ouvido. - Fique de olho nela.
Foram muitos cortejos, muitos comprimento e pêsames, muitos sorrisos com fundo de medo, inveja escondida nos olhos das jovens moças que eram casadas com velhotes e cobiçavam meu Herick. Mas meus olhos as manteriam afastadas, eu era a rainha daquele castelo, e quem quer que tentasse tocar no meu rei sofreria as consequências. Elas sabiam disso só pela forma que eu as olhava, e não falavam mais que o necessário, seus homens tentavam dar encima de mim enquanto Herick se distraia em assuntos diversos. Era essa a sensação que eu eu tinha na época do colégio, mas amplificada em dez mil vezes, eu era temida não por estudantes, era temida por chefes de máfia, donos dos maiores cartéis de seus continentes, donos do maior trafico de pessoas, de órgãos, dominantes do mercado negro, tudo quanto eram pessoas temidas estavam aos meus pés, podres de ricos, me cortejando. Eu tinha o mundo aos meus pés, e metade do dinheiro do mundo beijando minhas mãos.
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Síndrome de Estocolmo
RomanceTalvez eu devesse ter continuado calada. Talvez seus olhos não tivessem me deixado tão fascinada. Talvez eu devesse ter ido para casa naquele fatídico dia. Talvez devesse acontecer muita coisa. Talvez não. ...