Quando o sol passou pela janela eu já estava acordada a horas, uma dor de cabeça horrível me atingiu quando levantei de madrugada para fazer xixi.
As coisas pareciam tão normais agora, parecia uma vida normal. Parecia.
Estava no sofá vendo as meninas conversarem a mais ou menos duas horas sem falar nada, era legal ver elas fofocando. Eu fiquei apenas olhando enquanto minha cabeça latejava e me impedia de pensar algo coerente para falar.
- Ai minha nossa, eu esqueci de ligar para minha mãe antes de sair de casa.- Sam falou arregalando os olhos.
- Mas era alguma coisa seria?- Di perguntou com a boca cheia de bolo.
- Acho que sim, ela iria fazer alguns exames porque estava com umas dores de cabeça estranhas e eu queria tanto saber o que deu.- Sua face se entristeceu e a minha também.
Eu nunca tinha parado para pensar nisto. Estava tão presa ao meu mundo de fantasia para tentar manter minha sanidade mental que não notei. Elas nunca usam celular. Mesmo no dia da piscina, elas estavam tirando foto com a camera de Green. Elas nunca falavam nada sobre celulares ou ligações, a não ser hoje.
- Droga, agora só vou poder liga daqui a dois di...- Sam se interrompeu quando percebeu que apesar de meu silencio e minha quietude eu ainda estava ali.
Elas me olharam desconfiadas enquanto eu olhava para o chão. Eu estava com raiva, é claro, mas estava triste por achar que talvez elas não pudessem ter celular por minha causa.
- Vocês...- dei de ombros. - não usam os celulares aqui porque?
- Porque... Porque estão em casa.- Di riu nervosamente.
- E porque os deixou em casa?-questionei, contemplando o silencio continuo que se fez por longos minutos.- É por minha causa?
Sam engoliu em seco, mas assentiu olhando para o chão. Eu apenas soltei um pequeno "ouh".
- Onde vocês moram?- perguntei sem querer acusa-las por terem uma vida de liberdades que eu não tinha.
- Cath, você sabe que não podemos...
- Ah, sim.- ri levemente. - Mas como é lá? É bonito como aqui?
Sam sorriu levemente e seu olhar me fez sentir como uma garota aleijada.
- Cath, como consegue? Como consegue viver aqui sem... Sem..
- Sem poder sair.- Di completou a fala de Sam. - Sem poder viver e com um cara como Herick?
Eu apenas olhei ao longo da sala clara e sorri. Era óbvio que ninguém nunca entenderia sem sentir, era apenas o meu lance, as pessoas não tinham que entender.
- É como uma presidiária que esta presa na "mínima" a muito tempo.- Encolhi meus ombros voltando a olha-las.- Elas se acostumam, fazem amigas, criam uma rotina. Sabem o que fazer ao acordar e ao deitar, tem a comida em um prato, roupas lavadas e secas por outras presidiárias, tem seu trabalho, tem sua vida. Elas estão ali a tanto tempo que nada faz mais sentido que aquilo. Seu cativeiro se torna sua casa. E as vezes ate mesmo seu carcereiro se torna o amor da sua vida.
Suspirei e fechei meus olhos sentindo um nó se formar em minha garganta.
- Foi assim comigo. Tem alguma coisa dentro de mim que me impede de matar Green. Me faz esquecer as coisas que ele fez comigo, sabe? - Perguntei abrindo os olhos e respirando fundo.

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Síndrome de Estocolmo
RomanceTalvez eu devesse ter continuado calada. Talvez seus olhos não tivessem me deixado tão fascinada. Talvez eu devesse ter ido para casa naquele fatídico dia. Talvez devesse acontecer muita coisa. Talvez não. ...