ACRONÉPOLIS

CAPÍTULO 16 - O PUNHAL AMALDIÇOADO

- O plano não mudou.

- Como não mestre, eles tentaram te matar, já sabem sobre seus planos.

- Com todo respeito mestre, - Jullr finalmente decidira falar - por mais ignorante que esses seus alunos possam parecer, a mulher tem razão - Samira lançou-lhe um olhar carrancudo, como uma criança quando lhe é negado um doce.

- Como eu já disse, a missão que deixarei encarregada com vocês é de suma importância e em hipótese alguma, pode deixar de ser comprida - Arkamalls retirou o capuz, mostrando assim seus longos cabelos grisalhos - e outra, como eu havia dito, meu plano não envolve confrontos, planejo adentrar o palácio sem ser notado. Eles podem até mesmo saber minhas intenções, mas não sabem como pretendo agir - Ele então deu um sorriso - Afinal foi eu quem treinei vocês e posso garantir que é um erro deles me subestimar.

- Mas...

- Sem mas, vocês estão desafiando minhas ordens? - uma pequena aura de cor azul escuro começou a envolver seu corpo.

- Não senhor - Samira fez cara de choro e a aura se dissipou.

- Se não há como convencê-lo, diga-nos - Astron até então permanecia calado, apenas observando a discussão. - qual é a nossa missão?

Arkamalls caminhou até o outro lado da sala e pegou uma pequena caixa retangular que estava sobre a mesa, logo depois se aproximou do grupo.

- Como eu havia dito, o oráculo nos avisou que uma besta traria destruição a Acronépolis e é justamente isso que devemos impedir - Ele então abriu a caixa e retirou de lá uma espécie de punhal, que possuía algumas escritas em uma língua antiga no decorrer de sua lâmina que dizia "Aquele que purifica" - Este punhal é amaldiçoado com uma magia ancestral, onde foi forjado com as lascas da Gungnir, lendária lança de Odin. Como conhecemos a lenda, Odin era o pai da magia e sua lança herdou seus dons, sendo com ela que Odin matou vários deuses e feras lendárias.

- Teoricamente os deuses não são imortais? - Barton estava curioso.

- Os dotes de cada deus provêm de sua essência acumulada nos templos de adoração, a maioria realmente possuía essa característica, mas é ai que entra a particularidade da lança. Em tempos passados, a gungnir havia sido amaldiçoada pela Essência Primerva - O primeiro conjunto de magias, onde não existia o enorme abismo entre a magia negra ou branca, a essência primerva se trata da mais pura magia que já existiu na história dos magos - Essa maldição concedeu a lança um poder único, sua lâmina pode cortar ou destruir qualquer ser, seja ele mortal, ou até mesmo imortal.

- Realmente uma arma fantástica - Jullr recebeu o punhal de Arkamalls e o analisou - Mas como esta arma pode ter fragmentos da Gungnir se a gigante maioria dos deuses jamais existiu, mas são apenas essências de Karyo? - Fez uma pausa e então olhou novamente para seu tutor - Exceto se...

- Sim, a Gungnir existe, de todas as armas lendárias, a lança de Odin é a única que realmente existe.

- Como isso pode ser realmente possível? - Jullr guardou novamente o punhal na caixa.

- Quando um deus é adorado por um tempo excessivo, a quantidade de Karyo é tamanha que sua essência pode acabar vir a se tornar real, dando vida a objetos ou até mesmo trazendo esses deuses ao nosso mundo. Os deuses de Asgard foram adorados por milênios, e isso fez com que se acumulasse uma quantidade inigualável de essência em seus templos, dando vida assim não somente a arma Gungnir, mas também a Odin e outras dezenas de deuses que governaram o mundo por séculos. O governo dos deuses era rigoroso e eles matavam qualquer um que se opusesse ao seu poder, até que um dia, o primeiro mago da história conseguiu ganhar a confiança de Odin e após enganá-lo, roubou sua lança e a amaldiçoou com a Essência Primerva, conseguindo assim através da Gungnir, eliminar os deuses e os retirar de seu governo tirânico.

- Ai vocês acharam a tal lança?

- Não, a lança nunca foi encontrada, apenas pequenas lascas de sua estrutura, que conseguimos reunir para formar este punhal. Acreditamos que somente ele poderá deter o que está por vir.

Astron recolheu a caixa e a guardou em uma enorme mochila que levaria consigo na missão. Na mochila continha suprimentos, itens para acampamentos e mapas da região.

- Qual a aparência desta besta? - Astron precisava saber exatamente com o que estava lidando - Para podemos identificá-la.

- Ainda não sabemos a real aparência do nosso inimigo, mas o oráculo nos advertiu que a besta se esconde em um corpo de luz e que corrompe corações apenas com sua fala. Então já lhes advirto, vocês serão enganados por sua doçura e pelo seu discurso, então não a deixem falar, eliminem-na em sua primeira oportunidade.

O grupo consentiu com um gesto de cabeça.

- A criatura está escondida no vale da destruição, lá vocês enfrentarão todo a sorte de armadilhas e desafios, por isso estejam atentos, vocês quatro partem amanhã de manhã, não temos tempo a perder, pois nosso inimigo pode estar colocando seu plano em prática agora mesmo. Então voltem aos seus aposentos e descansem.

- Nós quatro? Não me diga que esse mal humorado vai com a gente. - Jullr não havia despertado a melhor impressão possível no grupo, criando assim uma espécie de inimizade entre eles.

- Sim ele irá, não quero ouvir nenhuma reclamação sobre isso, todos vocês precisam aprender a conviver entre si e Jullr será de extrema importância para a missão pois ele é o único que possui a habilidade de usar magias.

- Mas...

- Sem mas Samira, votem agora mesmo para seus aposentos - Arkamalls apontou a porta de saída com o indicador.

Samira sai do quarto batendo os pés no chão como uma criança fazendo birra, logo atrás dela surgiu Barton e Jullr sendo por último Astron que se virou para seu tutor antes de fechar a porta e sair do local.

- Mestre, por favor... - Seu olhar era firme e sincero - Salve a Allana.

Arkamalls apenas consentiu com um movimento de cabeça e se virou, caminhando novamente até a sacada. Astron fechou a porta ao sair.

- Você tem minha palavra guerreiro - Olhando para o imenso céu estrelado falou para si mesmo - darei minha vida para salvar nossa companheira.