Capítulo 7

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"Só há duas formas de viver a vida: A primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre."

- Albert Einstein



Que droga estou fazendo?

Essa pergunta martelava na cabeça de Oliver, enquanto ele dava partida no carro. Não existia motivo para estar preocupado com Isabela, mas ele se estava. Talvez fosse apenas sua boa criação falando mais alto, Karita Partezanne se esforçou muito para que seu único filho homem se tornasse um verdadeiro cavalheiro.

Pensando sobre o assunto, Oliver virou-se para Bela, encarando-a, reparando em seu semblante triste, algo que o incomodou, deixando-o pesaroso e com vontade de abraça-la novamente. Ele sentia uma imensa vontade de ajuda-la, consolá-la, mas não sabia como ou o que fazer.

Isabela mantinha seu corpo encolhido próximo a janela, o rosto colado no vidro olhando para fora, suas mãos apertando uma a outra em cima das coxas. Tensa e magoada com seu irmão. Viver dezoito anos sobre a proteção exagerada e o crivo acirrado do Capitão Gusmão de Alvarenga e do ciumento irmão mais velho, não foi nada fácil para Isabela... Sair de casa para balada com as amigas era inaceitável, praticar esportes era proibido, ficar fora até tarde muito menos, muito menos. Bela tinha que estar de volta a segurança de seu lar antes das 22horas, essa era a regra. Imposições que ela nunca aceitou bem, travando imensas brigas com seu pai, mas também, nunca foi capaz de enfrentá-lo de vez. Ela entendia sua condição mais do que qualquer pessoa, pois era a sua própria vida que estava em jogo, mas ninguém parecia entender a necessidade que ela tinha em ser livre, em correr riscos sem medo, em ser comum. Agora, pela primeira vez, sentia-se pronta para destruir a redoma de vidro ao seu redor... valia a pena.

Desinquieta e sem aguentar mais o silêncio de morte que reinava entre ela e Oliver, Isabela ligou o som do carro e encostou a cabeça no banco do carro, começando a cantar baixinho "Wish were here" do Pink Floyd, uma de suas músicas preferidas.


"Então, então você acha que consegue diferenciar o paraíso do inferno, céus azul da dor? Você consegue diferenciar um campo verde de um frio trilho de aço? Um sorriso de uma máscara? Você acha que consegue diferenciar. Eles fizeram você trocar seus heróis por fantasmas. Cinza quentes por árvores. Ar quente por uma brisa. O conforto do frio pela mudança. Você trocou um papel figurante numa guerra por um papel principal numa cela. Como eu queria, como eu queria que você estivesse aqui. Somos apenas duas almas perdidas nadando em um aquário, ano após ano. Correndo sobre este mesmo velho chão. O que encontramos, os mesmos velhos medos..."

(...)


Com a mente cheia de pensamentos mórbidos, Isabela fechou os olhos para evitar que chorasse novamente. Não era justo... a vida ou Deus não estavam sendo justos, mas ela não reclamaria. Aos 11 anos de idade, Bela jurou para si nunca mais reclamar de sua condição, pois de nada adiantava ficar se lamentando pelos cantos. Sua vida era um instante, então precisava transformar seu instante em sorriso, em emoções vibrantes, em lembranças doces e faria isso a todo custo.

Se enchendo de uma coragem legítima, Isabela colocou um sorriso nos lábios e mudou a música, cantando em voz alta "Girls Just Want To Have Fun". Fingindo estar sozinha.

A CAMINHO DA ETERNIDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora