Capítulo 4

447 80 71
                                    


"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio... Por que a metade de mim é o meu grito e a outra metade é o silêncio..."

- Oswaldo Montenegro



Desfrutando do melhor que existe em ficar apenas consigo mesma, Isabela tirou o dia para desvendar os mistérios da maior cidade do país. Foi a museus, parques, bibliotecas, caminhou a pé pelo centro da cidade, com os olhos voltados para cima, admirando a maravilha da arquitetura antiga. Ela já tinha ido a São Paulo inúmeras vezes, tanto que não sabia nem mensurar, mas, em nenhumas dessas vezes, fez o que estava fazendo, aproveitando o melhor que a metrópole tinha, sua cultura, história e belezas.

Andou de bicicleta pelo parque Ibirapuera e cometeu a loucura de soltar os braços, como sempre sonhou... era um item a menos em sua lista. Se deitou na grama verde e macia próxima ao lago, sob a sombra de uma imensa árvore e ficou quieta, apenas assistindo os pássaros voando sem rumo certo por entre as folhas das árvores, fazendo-as balançarem no ritmo lento do vento fraco da manhã. A luz do sol passava por entre as folhas, tocando sua pele alva, aquecendo-a e revelando o sorriso verdadeiro que vibrava em seu rosto.

Certa de que as melhores coisas da vida são de graça, Isabela Gusmão de Alvarenga, filha caçula do Capitão de Mar e Guerra da Marinha do Brasil, conhecido como Quebra queixo, almoçou uma coxinha em um bar qualquer do centro de São Paulo, enquanto tirava fotos dos prédios antigos, gravando novas memórias para si.

No fim do dia, embora estivesse cansada de tanto andar, Isabela se recusava a voltar para o apartamento. Aquele simples dia, cheio de realizações comuns e rotineiras foi um dos melhores da vida dela e não iria estragá-lo tão cedo com a presença vigilante de Felipe. Então foi ao shopping, adquirir a mobília e tudo mais o que precisava para seu quarto, incluindo alguns itens para o resto do apartamento, queria sentir-se à vontade nele, deixá-lo aconchegante e não com aparecia de república estudantil, mesmo sendo uma. E somente final da tarde resolveu voltar para casa e enfrentar os dois ogros que moravam junto com ela. Era exatamente assim que Belas os chamava mentalmente, ogros.

Voltar para o prédio diminuiu o tamanho de seu sorriso, mas quando Isabela abriu a porta ele se restabeleceu em seu rosto. O "AP" estava limpo e suas peças de decoração já estavam em lugares apropriados, deixando o ambiente com aparecia de um lar. O quadro, os vasos, a mesinha de centro, as almofadas, cortina e carpete, tudo estava organizado e arrumado. Animada correu para o seu quarto e ficou muito feliz com o que viu, os dois criados-mudos, um de cada lado da cama, os abajures sobre eles, a cortina cor chumbo tampando toda parede da janela, o grande tapete cinza no meio do cômodo, a poltrona branca próxima no canto, o imenso espelho ao lado do banheiro, tudo muito bem colocado.

Curiosa em saber quem tinha feito o imenso favor, saiu sorridente para a cozinha, de onde vinham as vozes alegres, mas, no mesmo instante em que chegou, seu sorriso se desfez, dando lugar a uma careta de desaprovação e desconforto. A morena que ela tinha flagrado na noite passada transando em sua cama, estava novamente grudada em Oliver e uma outra morena de olhar desconfiado estava sentada no colo de Felipe. Eles bebiam e conversavam alto, como se estivessem em uma festa. E para Isabela eles eram escandalosos demais e muito chamativos. Disfarçando sua tensão, Bela marchou até a geladeira, vendo que suas compras de supermercado também já estavam guardadas. Pegou um iogurte e forçou um sorriso morno, virando-se para os quatro.

— Boa noite. — cumprimentou tímida, olhando para todos os lados, menos para Oliver, vê-lo com aquela mulher a incomodava.

Desconfiadas, Carla e Vanessa olhavam para Isabela com desdém, como se conferissem o material, olhares que começavam a enfurecer a ruiva, que enrugou o rosto.

A CAMINHO DA ETERNIDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora