Capítulo 1

635 81 85
                                    

"A vida é maravilhosa se não se tem medo dela."

- Charles Chapli




Janeiro de 2017, São Paulo/SP.



Os olhos castanhos amendoados de Oliver reviraram impacientes com os sermões repetitivos de Felipe. Cansado de ouvir, mais uma vez, as palavras intimidadores do amigo, ele se esparramou na pequena poltrona e pegou seu aparelho celular no bolso, conferindo as horas, aquela conversa ainda demoraria para acabar, mas a boa vontade dele em escutar já tinha se acabado há muito tempo.

— Cacete. Para de mexer nessa merda de telefone e me escuta. — Felipe exigiu, esperando uma reação. — Estou falando com você, porra. — resmungou, tomando o celular de Oliver e jogando no outro sofá, longe do alcance do amigo folgado.

— Felipe, estou te ouvindo... — Oliver ofegou, voltando a sentar, colocando as duas mãos sobre seus joelhos e frisando a carranca tensa do outro homem na sala. — É impossível não te ouvir. Cara, você tá falando desse assunto há quase um mês, pode ficar de boa, já sei tudo que não posso fazer, falar ou até pensar, perto da doce e frágil Isabela Gusmão de Alvarenga, vulgo sua irmãzinha. — desdenhou sem muito entusiasmo.

Ele não aguentava mais escutar como deveria se comportar perto da irmã caçula de Felipe. Quando o amigo anunciou a mudança e passou a orientá-lo sobre como se portar e agir com a tal Isabela, Oliver pensou em se mudar do apartamento, mas não queria mudar de casa pouco antes de mudar de país e também precisava aguentar toda a enjoeira por pelo menos um mês, para terminar de reformar a pousada de sua mãe, em Pirenópolis, interior do Estado de Goiás. Depois que seu pai faleceu em um acidente horrível em seu trabalho, Oliver sentia-se responsável por sua família, que era composta apenas pela avó, a mãe e suas irmãs caçulas. Ele fazia tudo que estava em seu alcance para ajudá-las, mesmo estando longe.

— É sério Oliver, nada de andar pelado ou cueca pelo apartamento. E nem pense em olhar ou em tocar na Bela, caso contrário corto seu pau fora.

Felipe era um irmão extremamente cuidadoso, supre protetor e ciumento. E dividindo o apartamento com Oliver há mais de quatro anos, sabia muito bem que precisava repetir várias vezes, pois nunca seria suficiente. Tinha certeza que dia ou outro Bela flagraria Oliver passeando pelado pelo apartamento, fato que embrulhava e muito o estômago de Felipe.

— Certo, prometo, mais uma vez, não me aproximar dela. — afirmou levantando a mão, fazendo uma promessa solene e zombativa, antes de cair na gargalhada.

— Sei que seu pau mal consegui ficar dentro das calças, mas você vai guardar esse troço ou eu corto ele fora, juro por Deus. — Felipe ameaçou pela enésima vez, fazendo Oliver rir, achando graça do cuidado desproporcional.

— Cara, cá entre nós, você acha mesmo que sua irmãzinha é tão pura quanto você descreve? Esse anjo feito de vibro?

— Você não disse isso! — sobressaltado, Felipe se levantou, como se fosse golpear o melhor amigo. Sua pele branca ficou vermelha e sua veia do pescoço pulsava alto pronta para estourar, demonstrando seu nervosismo e contrariedade. — Nunca mais insinue algo deste tipo ou vou te socar até chamar mamãezinha. — vociferou. — Minha irmã é sim tudo o que eu disse, pura, ingênua e inocente, meu pai cuidou dela o máximo. — contou, voltando a sentar. — E vou continuar a cuidar dela, é meu dever. — disse para si mesmo, soltando o ar devagar, se acalmando.

Felipe não estava muito feliz com a mudança de sua irmã, ela mudaria toda sua rotina e, no fundo, ele tinha medo do que poderia acontecer com Isabela... era muita responsabilidade sobre seus ombros.

A CAMINHO DA ETERNIDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora