Soco um pedaço inútil de rocha

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Soco um pedaço inútil de rocha

Estávamos os dez em uma meia lua na frente da Porta de Orfeu, que na verdade era apenas um pedaço de rocha no meio do Central Park. Eu juro que não entendo como são essas coisas. Sempre vim com minha mãe e nunca vi uma rocha tão escura e assustadora. Talvez porque quando eu tinha dez anos eu não sabia que era uma entrada para o Mundo Inferior.

- E agora?! – perguntei.

Ao invés de alguém me responder, Edward foi à frente e começou a cantar. Você poderia achar estranho – por querealmente é –, mas é o único jeito de abrirmos essa coisa. A música que ele cantava eu tinha certeza que conhecia, mas não consegui reconhecer.

Ao final da canção, a rocha apenas mexeu-se levemente, soltando alguns pedaços de terra. Somente isso.

- Nada?! – exclamou Guilherme.

James foi à frente e tentou empurrar a pedra. Não se moveu um centímetro sequer. Minha paciência já estava chegando ao limite. Quando James virou-se para nós e deu de ombros, foi a gota d'água. Fui até lá batendo o pé e soquei a droga da pedra. Eu sabia que não daria em nada, mas eu precisava extravasar a raiva e decepção. Cai de joelhos, sentando sobre meus pés, e encostei a testa na pedra gelada. Eles tentavam falar comigo, mas eu apenas ignorava. Só consegui entender Annabeth pedindo para os meninos ajudarem a montar as duas barracas. Fiquei um tempo sozinho, pensando. Até que escuto uma voz que não é minha e nem de Lannah falando em minha mente.

Tem certeza que os instrumentos estão no Mundo Inferior?, a voz era masculina e, por incrível que pareça, associei a Poseidon. Pense bem, filha. Você não tem muito tempo.

Fiquei paralisada. Pensei que os deuses não podiam ajudar os filhos durante missões. Não sei quanto tempo fiquei assim, apenas relembrando da voz de meu pai, mas acho que foi bastante. Senti alguém atrás de mim, aproximando-se e agachando ao meu lado. Fechei os olhos sem querer saber quem era, mas percebi que era Nico quando senti um formigamento quando ele segurou minha mão.

- Ronnie, é melhor você entrar na sua barraca.

- Não... – murmurei com a voz rouca por falta de água. – Vou ficar aqui.

- Vai dormir aqui mesmo?

Assenti, sem dizer mais nada. Ele soltou minha mão e saiu. Pensei que ele insistiria em me levar para a barraca. Talvez até mesmo me levar à força e contra a minha vontade. Pelo visto ele percebeu que é raro ganhar uma discussão comigo, mas devo admitir que fiquei um pouco decepcionado.

- Pronto!

Dei um pulo no lugar quando ouvi a voz de Nico perto de mim. Fiquei tão perdido em pensamentos que nem percebi quando ele sentou-se ao meu lado e desenrolou um grande e grosso cobertor preto de casal. Enrolou envolta de si mesmo e de mim, puxando-me para deitar em seu peito. Aconcheguei-me mais perto dele e fechei os olhos, realmente cansada, mas abri-os novamente, prometendo a mim mesmo que não iria perder a oportunidade de vê-lo dormindo. Encontrei seu olhar e afundei-me na escuridão de seus olhos escuros. Por mais assustador que poderia parecer a outros, eu me sentia muito seguro com ele.

- Você é mesmo filho de Poseidon?! – brincou, mas eu apenas olhei-o confuso. – Seus olhos. São castanhos, mas deveriam ser verdes.

- Bem... – comecei, sentindo-me meio envergonhada sob seu olhar atento. – E são. Mas eu prefiro as lentes castanhas.

- Por quê?! – perguntou-me confuso.

- Não acho que fico bem de verde. Sou mais o preto ou o castanho, já que não tem lentes roxas ou vermelhas.

O Filho de Poseidon e O Filho de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora