Relembrar seu verdadeiro passado é sempre uma surpresa

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Relembrar seu verdadeiro passado é sempre uma surpresa

Eu estava de mãos dadas com Nico. Sempre fui apenas feliz, com o namorado maravilhoso que tinha e uma mãe protetora. Nunca precisei conhecer meu pai, e saber que era um deus grego não mudou em nada a minha vida. Eu era semideus, minha mãe era semideusa, meu namorado era semideus. Difícil conciliar sempre uma vida normal na escola com chamados para missões. Geralmente, íamos os três – minha mãe, Caroline Miller, sempre adorou Nico.

Mas da última fomos apenas eu e minha mãe, pois achava muito perigoso para Nico se envolver em uma missão imposta apenas a mim. Zeus me mandara resgatar os instrumentos dos Três Grandes que ele descobrira estar no Hotel e Cassino Lótus. E como eu sabia que Nico também odiava aquele lugar, resolvi deixá-lo desta vez. Eu sempre pensava se ele tivesse ido, se as coisas seriam diferentes. Minha mãe morreu durante esta missão malsucedida. Ela era filha de Hécate e eu ainda me perguntava como ela não conseguira se defender daquela Quimera.

- Pensando nela de novo? – Nico me perguntou, enquanto andávamos pelos corredores moderadamente cheios do colégio.

- Sempre. – eu disse, meio tristonha. – Olha, você tem certeza que eu posso ficar com você? É meio estranho nós dois sozinhos e eu não quero atrapalhar.

- Ei, olha para mim. – ele me chamou em um voz calma e doce. Segurou meu rosto com uma mão enquanto usava a outra para secar as poucas lágrimas que insistiam em sair pelo meu rosto. – Você não tem como pagar o aluguel, eu moro sozinho em um apartamento grande. E sou seu namorado. Claro que não tem problema nenhum.

Eu sorri em agradecimento e Nico aproximou seu rosto do meu, beijando meus lábios delicadamente. Quando nos separamos, ele pegou minha bolsa-carteiro roxa e colocou sobre o próprio ombro.

- Por que você sempre insiste em fazer isso? – perguntei, desistindo de pegá-la de volta e entrelaçando seus dedos aos meus.

- Porque desde que você usa esse anel – ele levantou minha mão entrelaçada à sua. Eu tinha um anel prateado, com uma caveira, no dedo anelar direito. Nico tinha um anel com um tridente. Nossas alianças de compromisso. –, eu tenho o direito e o dever de te mimar quando eu quiser, amor.

- Você disse! – acusei-o, dando-lhe um leve tapa no braço.

- O quê?! – Nico perguntou, fingindo-se de inocente, mas claramente se segurando para não rir.

- Você sabe que eu acho super clichê chamar de amor! – reclamei fazendo bico.

- E você sabe que eu adoro te ver irritado. – ele disse, empurrando-me contra um armário, que por acaso era o meu.

- É claro, você adora provocar! – rebati.

Nico riu, antes de me beijar de novo. Mas fomos interrompidos – antes da hora, na minha humilde opinião – por uma tosse forçada. Quando nos viramos, vi a pessoa que jamais imaginei ver em vida.

Meu pai.

Poseidon.

Na minha escola.

- Sabe quem sou, não? – ele perguntou, avaliando minha reação.

Nico deu um passo à frente e me colocou atrás de si protetoramente.

- Não irá tocar nele. – ele disse entredentes.

- Não preciso. – Poseidon disse e estalou os dedos.

Segundos depois eu me vi em amarras de água, que por mais que eu tentasse, não se dissolviam ao meu poder. Nico fora jogado contra a parede do já vazio corredor, mas não estava desacordado. Tentava se levantar, mas era inútil contra uma força que o prendia ali. Eu gritava desesperadamente por seu nome e ele, a cada grito, tentava se libertar inutilmente. Por fim, me virei raivoso para Poseidon.

- Solte-o. – ordenei.

- Somente quando você estiver segura com sua tia Kim. – ele disse, com um ar tristonho. – Acredite, querida, é para seu próprio bem.

- Que bem seria esse me separando do garoto que eu amo?! – eu quase gritei, mas me lembrei que talvez houvesse gente tendo aulas.

- O amor de vocês é proibido, Zeus não permite. Não há nada a ser feito a não ser alterar sua memória.

- FAZER O QUÊ?! – ok, foda-se as aulas, ELE ESTAVA QUERENDO ME FAZER ESQUECER DE NICO!

- Sinto muito, querido, mas será feito. – vi-o levantando as mãos para estalar os dedos. E tudo estaria perdido.

Olhei para Nico, ainda preso na parede, uma última vez e murmurei o "eu te amo" mais doloroso que já lhe disse. Quando ele disse um "eu te amo também", eu sorri tristemente, ouvindo um estalo de dedos.

E então, antes de apagar, pude ver ainda uma lágrima solitária escorrendo pelos olhos negros.

O Filho de Poseidon e O Filho de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora