Prólogo - Nada breve

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   O medo estava presente no ar, João foi perseguido quando saiu do carro para fazer uma ligação para o reboque. O que ele não contava era que algo tão incomum pudesse ocorrer tão rápido, seu sangue estava gelado nas veias, o ar já estava faltando nos seus pulmões, suas pernas não estavam sendo de tanta ajuda por já ter escorregado e tropeçado em raízes e pedras que haviam no caminho. Fazia pouco mais de 10 minutos que entrara na floresta, correr de volta para o seu carro não era uma opção, ele vira três sombras enormes, duas saindo pelos lados da sua caminhonete e uma por cima do teto.

Ao ouvir rosnados, pensou se tratar de cães, mas nunca havia visto sombras tão grandes como aquelas, por algum motivo, ele sentiu que não se tratava de apenas cachorros. Então, apesar de ser errado, ele correu para longe daquelas criaturas que continham uma áurea ruim.

E João estava certo por não acreditar se tratar de cães, eram lobos, sedentos por sangue e ele havia sido escolhido como a presa do dia.

As criaturas em suas formas de lobos tinham como Alpha, Beta e Ômega. Joshua, Frederick e Theodore. Josh trouxe sua matilha da grande Nova York, depois de serem descobertos por caçadores após um incidente, ou melhor, um lobo quebrou uma das regras ao matar uma família inteira, regras essas que serviam para protegê-los. Por sorte os caçadores apenas pensaram serem lobos comuns, assim, suas identidades continuavam secretas. O lobo foi morto pelos próprios caçadores, foi poupado de uma morte lenta e dolorosa que seria aplicada pelo chefe da matilha.

Nem todas as regras devem ser quebradas. E o lobo traidor iria servir de exemplo ao passar pelo processo de tortura planejado pelo seu líder. Ninguém deveria correr para longe da sua matilha e agir de forma impensada, isso prejudicaria o bando todo, e o que menos eles precisavam é que o mundo descobrisse que eles não eram apenas lendas.

Diferente do que se conta, lobisomens não envelhecem, sua forma física é preservada ao chegar em seu trigésimo aniversário. Achar que eles envelhecem e morrem é como acreditar que vampiros se afastam por causa do alho. Blergh! Grande besteira. As pessoas sempre arranjam soluções e acreditam que todo sobrenatural tem uma forma de ser mantida sob controle, humanos só pensam saber tudo, ter controle de tudo, mas no final, eles não têm muitas respostas certas.

Manter a matilha escondida não é feito por medo, os lobisomens precisam de alimentos, têm que serem mantidos em segredo para não deixar as pessoas apavoradas, podendo causar assim uma guerra e o que menos se quer é o derramamento de sangue, o sangue dos lobisomens.

O senhor soltava lufadas de ar, suas pernas pediam por descanso, mas sua mente apavorada não permitia que ele parasse, não correu tanto para morrer assim. Pelo seu conhecimento, ele poderia estar perto de casas para achar algum refúgio, uma atitude egoísta por agir assim colocando pessoas em perigo, mas ele não queria morrer, pelo menos não sem resolver todas as suas pendências.

João correu, correu até não puder mais, seu corpo frágil não podia suportar mais um passo, seu olhar estava fixado no chão mal iluminado pelas frestas dos galhos das árvores, para evitar tropeços. Os lobos em seu encalço não queriam acelerar mais, por ter a sede de perseguição, eles não tinham liberdade para fazer isso frequentemente, e era tão prazeroso perseguir sua presa. Já conseguiam sentir o gosto de sangue com a carne macia, enquanto seus dentes e unhas estraçalhavam cada pedaço daquele corpo.

O velho já pensava em desistir, nenhum esforço valia mais a pena, sua vida já estava acabada a partir do momento em que saiu do carro e viu as sombras, seu instinto dizia para correr e foi o que fez. Agora ele não entendia bem por qual motivo fez aquilo, qual seria a vantagem que teria sobre, não uma, mas três sombras enormes?

Mas quando ele pensou em parar de correr e acabar logo com aquilo, se viu chegar ao fim da floresta e como um milagre, uma casa surgiu a sua frente, mostrando que ele poderia ser salvo quando chegasse ali, ou se fosse pessimista: iria morrer e levar outras pessoas junto.

A imagem de sua suposta salvação o deu o impulso para continuar correndo, por pouco ele conseguiu chegar a porta, o Alpha dos lobos já estava cansado de correr atrás de um velho, sua carne não pode ser tão boa por sua idade, e além disso, Joshua conseguiu sentir através do olfato e dos seus sentidos que o fígado estava ficando debilitado pela quantidade de bebidas que esse senhor havia tomado. A brincadeira o deixou tedioso, deu um breve aceno de cabeça para os lobos, dizendo que atacaria primeiro e logo os outros poderiam tomar conta. Mas os seus planos tiveram que mudar ao se deparar com o final da floresta e a visão de uma casa há poucos metros. Parou imediatamente de correr, fazendo com que os outros lobos parassem também. Joshua maquinava, por culpa dessa corrida toda, ele poderia ter perdido uma presa fácil, não poderia deixar algo mais atrapalhar.

Se esconderam atrás de um grande arbusto, o Alpha buscou pela sua audição para ouvir se havia alguém na casa, já que a mesma estava com todas as luzes apagadas, exceto a luz que ficava acima da porta de entrada. Ao longe poderia ouvir-se os gritos desesperados do velho homem, por um momento poderia sentir pena, mas logo passou, a única coisa que importava era seu alimento, humanos são patéticos e ridículos, não serviam para nada além de servir de alimento.

Poucos segundos e nenhum movimento Joshua ouviu, o que fez ele se preparar para um novo ataque, até que novamente foi frustrado ao ouvir passos apressados vindos de dentro da casa, logo a luz da pequena sala foi acesa. Em seu pensamento, torcia para que houvesse apenas uma pessoa, assim poderiam conseguir algo a mais para o jantar, seu rosnado de satisfação saiu baixo, mas firme, chamando a atenção de Frederick e Theodore que compartilharam mais rosnados ao entender o pensamento do seu líder.

A porta enfim se abriu, revelando a imagem de uma mulher. Theodore se animou por se tratar de apenas uma frágil pessoa e preparou uma posição de ataque, tudo estava cooperando para que eles tivessem algum alimento nesta noite, só precisava esperar o sinal do seu líder para correr direto ao rango. A figura da mulher estava pálida ao ver os ferimentos que o João tinha, porém o que a assustou foi sua explicação sobre o que estava acontecendo, ao ouvir as súplicas e batidas insistentes na porta, Abigail pegou o seu celular, discando para a polícia enquanto descia as escadas para conferir o que aquela voz, conhecida por ela, queria àquela hora da noite.

— Seu João? — Abigail constatou que era realmente ele ao abrir a porta. Ele estava suado, sujo de terra, seu corpo tremia violentamente num choro compulsivo, João caiu aos pés da mulher, agarrando-se às suas pernas e agradecendo-a por tê-lo salvado. — O que o senhor faz por aqui a esta hora?

Sua desconfiança era que ele pudesse estar tão bêbado que teria perdido a noção de onde eles estavam. Abby pulou de susto ao ver o senhor que antes estava jogado ao chão, se levantar num salto fechando a porta.

— Eles estão lá fora, eu sei que estão. — Sua voz saía falha pela respiração ofegante, o medo de ser atacado novamente ainda corria por todo o seu corpo. — Eles me perseguiram desde a BR 405, minha filha, são monstros terríveis e enormes.

Abigail imediatamente começou a ligar para a polícia pedindo por ajuda, não por estar com medo das palavras que aquele senhor havia dito, ela tinha receio de algo ruim acontecer, mas o que a preocupava era o estado lastimável que João se encontrava, estava completamente desorientado.

Ao ver a porta sendo fechada, Theodore lançou um olhar incrédulo para o seu líder por sua falta de ação para dar o sinal de ataque. O que ele encontrou foi Joshua em sua forma humana, paralisado, seus olhos iam do local onde estavam até a porta da casa que já estava fechada. Foi neste momento que Théo percebeu que algo se passara com seu líder, algo que eles não esperavam ver.

— Josh? O que está acontecendo? — Perguntou Frederick já desconfiando da resposta à seu estado.

Joshua soltava lufadas de ar, como se estivesse correndo uma maratona interna enquanto estava por detrás do arbusto observando seu jantar perdido. Ele estava desnorteado com aquela visão, piscou várias vezes para ter a certeza de não estar vendo coisas irreais. Mas não, algo dizia, alguma coisa apontava para aquela certeza.

— É ela. A minha companheira de vida. — Piscando os olhos como se despertasse de um transe, ele completou: — Eu a encontrei.

Continua...

JOSHUA - PROTEGE (PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora