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Júlia brincava alegremente ao redor do pequeno jardim que Abby tentava manter a todo custo com o que ganhava trabalhando na casa do prefeito, trabalhava para sua família há pouco mais de quatro anos e antes dela, sua mãe era a empregada. Dor inundava seu peito ao lembrar dos seus pais que partiram tragicamente, deixando-a sozinha, com sua irmã mais nova para criar.

Abigail lançava olhares sobre sua irmã, não querendo perder de vista, não depois do que aconteceu há uma semana, ainda tremia de medo ao ter as lembranças inundando sua cabeça. Seu corpo tencionou ao lembrar do senhor de idade, João, que bateu em sua porta, desesperado, afirmando que criaturas enormes estavam o perseguindo desde a rodovia que ficava do outro lado da floresta. A casa dela ficava isolada da cidade, mal acreditou que ele havia corrido isso tudo por nada, mas não conseguiu acreditar, também, que "criaturas" estivessem em seu encalço. Havia escolhido continuar morando na casa que um dia foi dos seus pais, por ser distante de toda a agitação de sua cidade e por acreditar que sua irmã merecia crescer num lugar calmo, onde ela poderia brincar sem correr o risco de ser atropelada por algum carro desgovernado com seu motorista bêbado. Os anos que passou longe desta casa, mostraram a Abby o quanto o centro da cidade poderia ser perigoso, mesmo uma cidade tão pequena como a que ela vivia. Mas a paz foi perturbada com o tal acontecimento, o que quase a fez mudar de ideia, talvez sua irmã jamais estaria completamente segura, e de alguma forma, ela iria passar por essas situações. Talvez, só talvez, as direções dos acontecimentos não estavam em suas mãos, apesar das suas manias de proteção quando se tratava de Júlia.

Abigail cortou seus pensamentos para olhar sobre a janela da sua cozinha, Ju corria atrás das borboletas que pousavam sobre as poucas rosas do canteiro. Sorriu com a imagem, Júlia levantou a cabeça e olhou para Abby, e retribuindo o sorriso voltou a correr.

Abby demorou mais do que o normal para terminar de lavar a louça, não é tão fácil lavá-las e se preocupar com a segurança de Júlia, seu desejo era que ela corresse e brincasse como um dia Abigail fez em sua infância, pular em poças de lama logo após uma chuva, subir em árvores para comer seus frutos ou até tomar banho de mangueira no quintal. Infelizmente, com seu trabalho e a arrumação da casa, não sobrava tanto tempo para vigiar sua menina, temia sempre que ela pudesse se machucar feio, e até chegar ao hospital, seria uma tortura sem fim, por ser um pouco distante.

Levando a mão a parte de trás do seu pescoço, começou a fazer um pouco de pressão sobre aquela região, tentando aliviar a dor que sentia, seu corpo estava dolorido pelas noites mal dormidas, passou boa parte delas rolando na cama, sentindo-se incomodada. A noite que o senhor bateu em sua porta, foi angustiante, o desespero dele era enorme o que acabou deixando Abigail com medo, depois que a polícia foi embora, levando o João, uma sensação estranha se apossou do seu corpo, como se alguém estivesse observando-a, seu estômago embrulhava de nervosismo só por lembrar.

Balançou a cabeça, afastando esses pensamentos.

João estava em estado de choque, suas palavras saíam confusas, ele é conhecido por beber e causar confusão, mas no fundo, Abigail sentiu que isso não aconteceu ontem, João parecia ter bebido, mas não o suficiente para ter alguma alucinação.
Algo estava errado, muito errado, mas o que poderia ser?

Acabou por decidir ignorar as várias perguntas que rodavam em sua cabeça, haviam muitos outros problemas que precisava resolver e esse mistério teria que ficar de lado. A noite foi péssima para ela, mas esperava que seu dia fosse melhor.

Ao ouvir o som do motor da já conhecida Hilux SW4, ela desistiu da ideia de que seu dia seria melhor de alguma forma. Olhou para a janela novamente, mas não viu nem sinal de sua irmã, nem conseguia ouvir mais o seu riso. Apressou-se para sair pela porta, batendo com um pouco de força o quadril na ponta da pia, gemeu com o choque, mas não parou de correr, ao chegar à parte externa da casa, olhou ao redor e nem viu qualquer sinal dela. Começou a caminhar rapidamente para a parte de trás da casa, conseguiu ouvir o risinho de Júlia antes mesmo de vê-la, sua pulsação acelerou ao perceber que teria um encontro desagradável.

JOSHUA - PROTEGE (PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora