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Realmente, Abby? Questionei minha sanidade pela terceira vez desde que acordei. Já se passaram três dias desde que vim morar nesta casa, desde então Joshua se manteve presente, quando não vinha até a "minha" casa, me enviava mensagem para saber como estava ou apenas para me desejar um bom dia/boa tarde/boa noite. Ele fez questão de me mostrar que estava ao meu lado para tudo o que eu precisasse. Não pude evitar suspirar, ele estava me fazendo agir de uma forma como nunca antes.

E eu, como a idiota que me neguei ser, estava criando sentimentos por ele. Não fazia mal gostar da sua presença ou conversa. O problema começou com meu coração acelerando quando ouvia o som da sua voz à distância. Ou quando meu corpo ficava quente ao sentir o cheiro do seu perfume. Ele era totalmente másculo, forte, grande, mas me envolvia de uma maneira tão delicada, era tudo o que eu precisava e queria. E não podia me permitir ter.

Porque tudo o que eu toco, se destrói. Fica confuso, sangra, quebra, murcha e morre. Desde a morte dos meus pais, deixei meus sentimentos enterrados, se importar demais com alguém me faria sofrer muito mais se eu os perder. Me afastar foi uma solução, deixei amizades para trás, romance? Nem pensar. A única pessoa que me tocava e não se machucava, era a minha menina.

Por que eu iria arrastar mais alguém para a confusão que estava a minha vida? Verdades foram reveladas a mim desde aquele episódio, cortaram cada linha que eu havia criado para dividir a verdade do implantado, o passado foi destruído porque não era real. Não como eu acreditava ser. Olhar para Júlia era ver o reflexo de alguém que eu deixei para trás, era doloroso. Júlia era real para mim, porque a nossa ligação não foi baseada apenas na convivência, na responsabilidade assumida ou na verdade plantada em minha mente. Sempre teve algo mais que eu não conseguia identificar, a mente nublava quando me deixava viajar por esses pensamentos, ainda assim o sinal estava forte e apontando que ela era minha vida.

Talvez eu seja um monstro por deixar algumas pessoas no escuro, mas que bem seria feito se resolvesse trazer isso à tona depois de anos? E a desculpa? Não é boa o suficiente e nem remotamente aceitável. Tudo culpa dos meus pais e suas paranoias de ficarmos abaixo do radar, não criar laços, não se deixar envolver completamente. Eu fiz a promessa de me manter longe desses caminhos, mas em poucos anos eu a quebrei, porque me permiti amar, deixei que meu coração se enchesse de alegria. Me entreguei, sim, porque queria ser completa, só não tentei com a pessoa certa.

Mas Joshua é sua chance de ser feliz. Essa certeza irritante ficava surgindo em minha mente, fazendo-me parecer uma adolescente estupidamente apaixonada. Olhei através da janela que me dava a visão da sua casa, não era possível ver qualquer movimento lá dentro, eu esperava ansiosamente por um pequeno vislumbre só para fazer meu dia começar bem. Isso ia me enlouquecer.

─ Mamãe, por que você está suspirando? ─ Julia puxou a barra do meu vestido. Eu não a vi se aproximar, não sei quantos minutos passei olhando pela janela, para a casa de Joshua. Eu precisava parar de fantasiar com ele, me deixar distrair com algo inalcançável.

─ Nada, só pensando que preciso ir na cidade buscar o carro. ─ E ver quanto o conserto custou, desde o dia que Christian levou o carro, não tive tempo de checar. Claramente não ia falar a verdade para a menina-caçadora-de-papais, só bastava sua insistência toda vez que Joshua batia na porta.

─ Aham, certo. ─ Ela era uma pequena garota perspicaz, mas deixou passar desta vez. ─ Tem alguém batendo na porta.

Novamente, distraída. Joshua estava ocupando minha mente, mais do que eu acho confortável. O sinal de alerta estava tocando cada vez mais alto, esteve no vermelho desde que o vi pela primeira vez e agora nós éramos vizinhos. Tanto para viver em paz, sem qualquer envolvimento romântico, Deus me envia esse homem que me deixa sem saber o que fazer. Ele era a tempestade na minha calmaria, sabia disso e eu estava pensando em correr para longe, se fosse possível.

JOSHUA - PROTEGE (PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora