13

3.5K 318 25
                                    

Em mais uma das minhas saídas, não esperava nada além do normal. Ver Abigail fazendo alguma atividade em sua casa, estar com um livro em mãos na varanda ou brincando com Júlia. Mas quando me aproximei da casa, senti como se algo estivesse errado antes mesmo de chegar perto o suficiente da residência. Tive um impulso para vir mais cedo vê-la, a manhã toda tive essa sensação de que algum evento terrível estava para acontecer, só não sabia o que poderia vir de tão ruim para não deixar minha mente em paz. Durante a reunião que fizemos na matilha, imagens sangrentas invadiam meus pensamentos, interrompendo minha atenção das opiniões dos presentes.

Ser líder sempre foi estar a frente de tudo, focado diretamente com os problemas atuais ou futuros. Era amarrar as pontas soltas, proteger quem estava sob minhas asas. Desde que meus pais foram assassinados, foi a isso que me dediquei, visei uma vida confortável para cada lobo da matilha além de aumentar a nossa segurança. Fiz nossos negócios prosperarem mais, colocando alguns lobos infiltrados em cargos importantes para qualquer eventualidade. Mas, desde que Abigail surgiu, minhas prioridades mudaram, não conseguia mais ter aquele foco como antes. A percepção de que havia algo mais importante do que liderar me transformou de um lobo cheio de ódio pelos humanos à um apaixonado sem volta.

Aprendi que não deveria ignorar os sinais que apareciam para mim, desde que o destino mostrou a minha companheira, a minha visão mudou, os sentidos aumentaram e me ligaram a ela e ao que Abby sentia. O peso que sentia no peito não poderia ser engano, mesmo se fosse, ah, se fosse engano, teria ao menos a oportunidade de vê-la mais cedo do que nos dias anteriores. Apressei minhas patas para levar-me mais rápido, meu ritmo sempre fora um dos mais velozes de todos os lobos, no entanto, neste momento parecia que corria em câmera lenta. Culpa da ansiedade que me perturbava desde que abandonei aquela sala de reunião.

Ao chegar perto dos arbustos mais próximos da casa, parei minha corrida e tentei me concentrar para acalmar meu coração, voltei a minha forma humana, me agachando para não ficar visível a quem estivesse perto da janela. O som de um lamento chamou minha atenção, parecia o choro de uma criança, não sabia o que fazer somente com aquele som, aquilo não me levava a qualquer resposta. Tentei mais intensamente procurar qualquer outro ruído na casa, para ter uma noção de quem mais estava ali, de maneira alguma Abigail deixaria uma criança sozinha.

Nada. Nenhum outro som além do choro, mas o seu cheiro estava forte e eu conseguia sentir que ela estava ali.

Peguei as roupas em uma sacola de papel que havia deixado no dia anterior e vesti o mais rápido possível. Todos os dias ia para perto de sua casa e levava uma roupa de corrida, se algum dia criasse coragem de ficar cara a cara com ela, queria ter a desculpa de que estava correndo por perto quando a vi de longe e resolvi me aproximar para uma conversa inocente. A chance que esperei nunca veio, até hoje. Júlia era uma das formas mais fáceis de me aproximar de Abby, se eu falasse que ouvi um choro e fiquei preocupado, com certeza seria admirado por Abigail por essa minha sensibilidade ao buscar ajudar quem precisava. Eu posso ser um estúpido por usar uma criança para chegar onde quero, mas tenho em mente fazer minha companheira feliz, amá-la intensamente e dar tudo o que precisa, esses eram os motivos que justificavam minhas ações.

― M-mãe, acorda. ― A voz cortada pelo choro me fez congelar. Acordar? ― Eu estou com m-medo, não me deixe.

Antes que eu pudesse registrar, pulei o arbusto enquanto terminava de vestir a camisa regata, corri até a porta que estava apenas encostada e entrei na casa. Não me importei com a invasão, o único pensamento fixo em minha mente era de que eu precisava chegar onde as duas estavam. Passei pela sala que era dividida com a cozinha, separada apenas por um armário de madeira escura e velha, as panelas no fogo borbulhavam, antes de continuar minha procura, fui até o fogão e o desliguei, lembrando da sensação ruim de mais cedo, algo me dizia que não era apenas sobre Abby e qualquer precaução que pudesse tomar, seria de grande ajuda. Ouvi outro soluço acompanhado de palavras ininteligíveis, me aproximei da porta primeira porta a direita da cozinha e olhei pela brecha.

JOSHUA - PROTEGE (PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora