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Para Abigail, o melhor momento do dia, além do tempo que passa com sua irmã, era quando estava trabalhando. Onde poderia ajeitar a bagunça dos móveis de uma casa e deixar sua bagunça interior de lado. Há mais de três anos, começou a trabalhar na casa do prefeito da cidade, onde antes seus pais trabalhavam. No geral não era ruim, apesar de um pouco cansativo, seu horário ia desde 7:30 da manhã até 17:00, o salário era bom e Júlia tinha um lugar para brincar quando voltava da escola.

Seu único problema era quando Christian estava em casa, sua presença a deixava desconfortável. Sentia a pele queimar por ele estar acompanhando cada passo com o olhar. Admirando, analisando-a.

E neste momento Christian estava jogado no sofá, olhando cada movimento de Abby, se deliciando com a imagem da mulher amada a sua frente. Depois de anos ainda sentia a paixão queimando seu peito, a chama que nunca se apagou. Abigail foi a única mulher que Chris deixou que se aproximasse do seu coração, foi a primeira e última. Ela foi sua melhor parte e ele gostaria que pudesse sentir tudo de novo, toda a felicidade explodindo em seu peito todas as vezes que via sua mulher sorrir.

Ansiando por ouvir a voz de Abby, Chris pigarreou para chamar sua atenção. Ela fingiu não ouvir, já não era confortável o silêncio e toda vez que tentavam conversar, acabavam brigando por ele sempre trazer o passado para a conversa.

— Você nunca contou sobre seus pais. — Tentou iniciar um diálogo com um assunto que fosse importante para Abigail.

— Minha mãe trabalhou na sua casa por anos, o que te passou despercebido sobre eles? — Abby jogou impaciente, e na mesma hora repreendeu-se por usar aquele tom. Chris era o seu ex, mas antes de tudo ele era filho dos seus patrões.

A risada de Christian encheu a sala de estar, ecoando por toda a casa. Abby ficou incrédula que ele estivesse se divertindo com suas palavras duras. Mas Christian apenas estava forçando uma risada, para não mostrar o quanto suas palavras afetaram-no. Depois de todo esse tempo Abigail sabia como jogar as palavras para despedaçar seu coração. Ou o que sobrou dele depois que ela o deixou.

— Ok, sinto muito... — pediu desculpas sem nem mesmo saber por que, apenas queria continuar a conversar, mesmo que ela escolhesse revidar de forma bruta. — O que eu quis dizer é que logo após eles trazerem a Júlia para casa, não houve qualquer movimento no Juizado da Infância e da Juventude, além dos papéis de entrada, quando os seus pais conseguiram o certificado. E agora...

— Com eles mortos nada foi feito por longos quatro anos, o certificado é válido por apenas dois anos, vou ter que passar por todo o processo novamente... — completando o pensamento de Chris, Abby sentiu a tristeza bater ao lembrar dos seus pais e de todos os esforços que fizeram para trazer Júlia para sua família e no final, foi tudo perdido. Sentindo-se culpada por ter perdido tanto tempo depois que seus pais se foram, tempo esse que poderia ter feito o que eles iniciaram. — Eu sei, com tudo o que aconteceu depois da morte deles me levou a um estado de torpor e só agora estou conseguindo focar no bem-estar da minha menina.

Culpa encheu suas palavras por lembrar que passou tanto tempo para se recuperar, enquanto deveria ser forte por ela e pela Ju. Dois meses depois que Júlia foi para a casa dos seus pais, eles morreram. O que sempre a transporta para quando ela morava com eles e tudo o que aquela casa trouxe para si.

Balançou a cabeça para se livrar das lembranças. Nem se ela estivesse louca iria querer recordar daqueles dias.

— ... Eles levam um bom tempo para analisar esses papéis, sabe... — Chris continuava falando, sem se dar conta dos minutos que Abby passou imersa em pensamentos. — Este setor, em especial, não é um dos melhores no quesito rapidez.

JOSHUA - PROTEGE (PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora