22

3K 343 91
                                    

- Eu... Eu sou um lobisomem.

Segurei a respiração enquanto esperava alguma reação. Ela continuou olhando para mim, inclinando a cabeça de um lado para o outro. Não sei se esperando que eu estivesse brincando ou que aparecesse um focinho em meu rosto e avançasse para mordê-la. Ou em choque, quem poderia imaginar toda a história sendo real?

- Abby?

Ela piscou, voltando a prestar atenção em mim.

- Você está bem?

- Sim... eu... - Ela puxou uma mão do meu aperto, levando-a ao seu rosto e esfregando a cabeça. - Nossa! Não pensei que você tivesse esse tipo de fetiche.

Engasguei com suas palavras. Fetiche? Não, não, não.

- Não é isso!

- Querido, não precisa se envergonhar. Eu posso lidar com isso, sei que consigo.

Queria rir, mas a situação não deixava. Ela achava que a existência do meu lado sobrenatural não passava de um fetiche, apenas reduzido à uma fantasia bizarra.

Antes que ela continuasse o maldito assunto, me levantei do sofá e estendi minha mão para ela.

- Palavras nem sempre são o suficiente, amor. - A ansiedade me bateu, se já não estava ruim, agora ficou pior. Nada parecia ser uma boa ideia, se eu concordasse naquele momento que a conclusão dela estava certa, só estaria atrasando o inevitável. Neste caso, protelar só complicaria.

Abby segurou a minha mão e me seguiu em direção ao seu quarto, fizemos o máximo de silêncio possível. Júlia costumava ter um sono leve assim que dormia, precisava de algumas horas para se perder em seu sono profundo. Agora eu só preciso explicar para uma pessoa, a criança esperaria sua vez.

Entramos no quarto, encostei a porta, em um pequeno debate interno, dei de ombros e fechei com a chave. Fiquei alguns segundos sem me mover, de costas para ela, apenas ouvindo seus passos pelo quarto, o som do colchão me fez virar e encará-la. Ela estava calma, esperando que eu começasse a mostrar o que tinha vindo para mostrar. Não que fosse o que ela estava esperando, era pior, seria pior.

- Querida, - Caminhei para o centro do quarto, bem em frente à sua cama onde ela estava sentada, as mãos no colo. - Há coisas, lá fora, que ninguém consegue explicar. Há verdades que ninguém quer saber, porque é mais fácil se proteger enrolando-se em um cobertor de ilusão.

Puxei mais ar para os meus pulmões, escolhendo bem minhas próximas palavras.

- Ok... Não me parece ser sobre sexo.

- Não, não é sobre sexo, querida.

Vi suas mãos pressionarem uma na outra, ela começou a se inquietar.

- Você faz algum tipo de ritual em que veste roupas feitas com pele de lobo e uivam para a lua?

Não consegui me segurar, ri das suas palavras. Deus, ela estava indo cada vez mais longe. Mas isso, de certa forma, me fez aliviar. Ela não estava preocupada com meu desejo entre quatro paredes, mas ficou nervosa ao pensar que fazíamos um ritual com pele de lobo.

- Desculpa, querida. Não quis rir, é só que... - Ela levantou uma sobrancelha e cruzou os braços, esperando uma explicação. - Não é isso, acalme-se. E, por favor, não tire conclusões precipitadas.

- Quando eu fico nervosa, começo a falar coisas, imaginando cenários diferentes, bizarros ou não. Sinto muito.

Queria me aproximar dela e deixar isso para lá. Assim como eu desejava que ela já estivesse ciente do que sou e que eu não precisasse me explicar, correndo o risco de assustá-la.

JOSHUA - PROTEGE (PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora