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"Dê uma olhada no espelho e o que você vê? Você vê mais claramente ou você está enganado sobre o que acredita? Porque eu sou apenas humano, afinal."

Human – Rag'n'Bone Man


♥♥♥♥♥♥

ABIGAIL

Estava ansiosa para conhecer o filho dos patrões dos meus pais, queria muito encontrar alguém para brincar. Nós morávamos um pouco afastados da cidade, então ficava complicado de ter algum contato com outras crianças. Só esperava que ele gostasse de mim e eu gostasse dele. Fazia pouco tempo que viemos morar nesta cidade, meus pais passaram boa parte da minha infância se mudando para lá e cá. Acabava que eu não conseguia fazer amizades duráveis, hoje eu mal lembrava os rostos e nomes de quem já passou por minha vida.

Não era como se eu fizesse questão que ele fosse o garoto mais legal da cidade, não, naquele momento eu não aguentava mais ficar sozinha. Minha vontade era de fazer diferente, queria marcar minha presença na cidade e que não fosse mais uma parada rápida por mais um local, esperava que fôssemos permanecer aqui. Nunca soube por que meus pais queriam viver assim, sem grandes malas, sem amizade, sem viver realmente. Tudo era tão passageiro.

Mamãe e papai saíam para trabalhar e me deixavam com minha madrinha, ela era legal tentava me distrair, mas não era a mesma coisa, por ser mais velha já não conseguia ter tanta energia e logo ficava cansada. Ela se tornou minha madrinha quando meus pais decidiram que era hora de ter o batismo, engraçado eles só lembrarem disso naquele momento, nunca foram religiosos, nem iam à igreja ou me ensinavam qualquer oração. Tudo ao meu redor me deixava chateada, ficava até frustrada com essa situação da minha madrinha cansar tão rápido, ela parava sempre ofegante, me pedindo uma pausa de dez em dez minutos, me deixando até desanimada por interromper a brincadeira.

― Papai, eu posso ir com vocês para o trabalho? ― Eu nunca fui uma criança que conseguia segurar muito tempo o que queria dizer, isso algumas vezes me colocou em enrascadas com os antigos vizinhos dos outros lugares que vivemos. Devia ser por esse motivo que meus pais escolheram um lugar tão distante de outras pessoas, eu pensava, por minha causa e da minha boca grande.

Ao ouvir minha pergunta, meu pai me olhou surpreso e desconfiado ao mesmo tempo, eu o amava, mas às vezes ficava irritada por ele me conhecer tão bem, parecia sempre que via através de mim e outras vezes eu ficava feliz, porque quando eu ficava triste, por qualquer motivo que fosse, ele aparecia de repente e me consolava, fazia piada e cócegas, me abraçava.

― Por que você quer ir? Não gosta de ficar com Suzete? ― ele tinha que questionar, sabia que eu estava tramando algo, meu pedido não era em vão.

― Eu adoro minha madrinha, papai ― falei o mais baixo possível, minha mãe estava na cozinha e se ela ouvisse que eu queria ir, não iria deixar. Era mais fácil convencer meu pai e logo ele convenceria mamãe. ―, mas é que ela cansa rápido e não tem tantos lugares para brincar.

Era verdade, a casa era rodeada por árvores altas e arbustos volumosos, tinha algum espaço ao redor, mas nenhum para que eu pudesse me esconder ou subir, meus pais me proibiram de ir além do terreno limpo e exposto, eles me diziam que tinha medo que eu me perdesse ou algum animal aparecer e me atacar.

― Querida, sabe que eu faria qualquer coisa por você, não sabe? ― Acenei com a cabeça, eu sabia e sabia ainda mais onde essa conversa iria chegar. ― Mas lá não é lugar para brincar, estaremos trabalhando, não haverá qualquer diversão para você.

― Mas vocês disseram que lá tinha um menino, eu poderia brincar com ele...

― Não. ― Dei um pulo da cadeira em que estava sentada, não tinha ouvido minha mãe se aproximar. Ela estava trazendo uma panela com a comida em suas mãos, mas sua atenção estava totalmente em mim. ― Ali não é lugar para brincadeiras.

JOSHUA - PROTEGE (PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora