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Caminhando lentamente, me dirigi à casa onde costumamos fazer reunião. Precisava voltar a focar nos assuntos que dizem respeito a matilha, o meu relacionamento com Abby está caminhando bem, então já é hora de dar um pouco de atenção a algo mais. Ela está se acostumando com a minha presença, quase constante, e agora busca minha proteção sem medo de mostrar fraqueza. Desde ontem, no episódio da cafeteria, ela se agarrou a mim e eu dei o que ela precisou, amparo.

Não que ela tenha falado abertamente sobre por que Christian a deixou tão angustiada, é mais do que o dia em que ele a jogou no chão enquanto brigávamos, não é aquele tipo de reflexo instintivo em se proteger pelo acesso de raiva dele, alguma coisa me incomoda mesmo antes disso acontecer. Mas ela guardou para si, em nenhum momento trouxe qualquer que seja o assunto à conversa, nem depois que Júlia foi dormir e ela se aconchegou em meus braços quando me deitei no sofá da sua casa. Seria tão fácil se eu pudesse ler seus pensamentos, assim conseguiria consertar cada pequena coisa que a incomoda.

Entrei na casa e fui para onde estavam alguns homens conversando banalidades, ao notarem minha presença, eles se calaram e esperaram que eu tomasse a palavra. Olhei entre eles e não vi Frederick, ele nunca faltou a uma reunião, nem quando queria me irritar. Refletindo agora, não o vi desde ontem. Conferi que Theodore, estava presente, meio jogado, meio dormindo na cadeira. Ao redor estavam os três mais velhos da matilha, que conseguiram sobreviver à desgraça que atingiu o período que meu avô era alfa, e depois, ao meu pai. E não por que eles conseguiam se defender, mas sim por que suas casas estavam mais afastadas, dentro da floresta que cercava nosso local. Philip que estava ao lado de Theo, deu um tapa na sua cabeça para que ele despertasse. Logan gargalhou do pulo do Ômega. Bobby e Hunter apenas observaram com os braços cruzados, pareciam cansados demais até parar rir.

Levantei o dedo indicador, pedindo um momento antes que pudéssemos conversar. Virei no corredor e fui em direção a cozinha, disquei o número dele no caminho para lá. Alguns toques depois e ele atendeu.

— O que você quer, cara? — Seu tom não era um dos mais amigáveis, nunca era, mas claramente hoje estava pior.

— Reunião. Agora.

— Vou pular essa, preciso resolver algumas coisas.

— Uma dessas coisas seria Cecília?

— Por que seria ela?

— Por que não seria? — ele bufou, querendo tirar a importância da minha pergunta. — Não seja estúpido, ela é sua companheira.

Silêncio.

— Frederick?

Silêncio.

— Alô? Ainda está aí? — Olhei para a tela do celular que ainda mostrava a ligação ativa.

— Como você soube?

— Como eu não saberia?

— Porra! Pare de responder minhas perguntas com mais perguntas! — Sem conseguir me segurar, ri da sua irritação.

— Não precisa ficar irritado com isso, cara. Nós temos companheiras por aí, eu encontrei a minha e agora você, a sua. Deveria estar feliz com isso.

— Para você é fácil falar...

Silêncio, agora da minha parte. Porque sei que desta vez não é por alguém estar interferindo, ou que eu já criei um vínculo com Abby, mas porque ele não conseguiu curar as feridas do passado. Encontrar sua companheira deveria trazer alívio para ele, porém, por ser humana, vai ser como enfrentar seu pior inimigo, recordar toda a dor sofrida.

JOSHUA - PROTEGE (PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora