Harry POV
De volta ao carro. De volta à estrada interminável e desgastante. De volta a este plano impossível. Esforço-me para não pensar no que aconteceu há poucas horas atrás, tento não pensar que fudi uma rapariga por todos os motivos errados. Por momentos, a vaga ideia de que tudo não passou da minha imaginação passa pela minha cabeça. Estarei eu lúcido o suficiente para saber o que é real ou não? Talvez não... No entanto, eu sei que aquilo realmente aconteceu... E apenas fico mais deprimido e irritado por isso.
Sei que tenho que manter a calma, manter a compostura, mas está a ser mais difícil do que algum dia eu poderia imaginar. O desconhecido e a solidão são demasiado avassaladores para poder descontrair ou sentir-me bem comigo mesmo... O perigo é tão grande, o risco tão elevado que fazem com que o meu peito fique pesado ao ponto de não conseguir respirar. É difícil não saber o que me espera, não saber como será o dia de amanhã... Tudo o que eu menos quero é voltar para o Centro Prisional, sei que não vou aguentar tal coisa. Se tal acontecer eu sei o que vou fazer... Desde o momento em que pus o pé fora daquele sítio, fiz uma promessa a mim mesmo. Se por acaso algo corresse mal, o que era altamente provável, e eu voltasse para a prisão, eu iria matar-me. E acreditem, eu estava bastante lúcido quando tomei esta decisão. Eu prefiro acabar com a minha vida do que enlouquecer naquele local. Claro que eu sei que a pena de morte iria ser rapidamente executada se me apanhassem, mas prefiro ser eu a fazer isso. Sem espectadores, sem data marcada... Eu e um pedaço de vidro, como outrora havia tentado. Eu e um lençol preso ao teto... Eu e a morte...
O amanhecer ia aparecendo há medida que os raios de sol rasgavam as nuvens. Dou graças a Deus por se estar a tornar dia. A escuridão e o sossego da noite faziam com que o meu estado de espírito se tornasse depressivo. A estrada de alcatrão preto, que mais uma vez tinha poucos carros, encontrava-se mal alcatroada assim como muitas estradas secundárias e sem importância. Passei a noite em branco, não dormi e nem descansei, mas tudo isto irá ser compensado no fim.
Todos os meus pensamentos são interrompidos por um som que demoro demasiado tempo a identificar. Não por não saber o que era, ou por não conseguir ouvir devidamente. Mas sim porque parecia demasiado surreal para estar a acontecer, e para além disso, eu não queria cair em mim. Não queria aceitar o facto de que o que pensava que estava a ouvir, podia mesmo ser real. Na verdade, eu não me conformava com isso, não podia aceitar. O barulho das sirenes, ainda um pouco distantes, congelam o meu cérebro, criam pânico no meu corpo impedindo-me de pensar, de reagir. Sinto o meu batimento cardíaco a aumentar, a minha cabeça a latejar. Tenho vontade de chorar, vontade de gritar alto, de libertar esta frustração interior que me consumia. Levo a mão aos meus caracóis e puxo-os, sabendo que o fim estava próximo. E eu não podia mentir, estava completamente apavorado... E depois, depois o meu corpo reagiu assim que vi os inúmeros carros policiais a aproximarem-se do meu. O pé pressionou o acelerador com força...
O velocímetro marcava agora os 180 quilómetros por hora. As viaturas policiais, tinham aumentado a velocidade tal como eu, deixando-me ter a certeza que me tinham descoberto, que me perseguiam. As minhas mãos suavam demasiado, sendo me difícil manusear o volante... Eu não sabia o que estava a fazer, não sabia que merda iria fazer. Uma lágrima escorre do meu olho... Num ato impulsivo e sofredor, bato com as mãos inúmeras vezes no volante, gritando de frustração, isto não pode estar realmente a acontecer. Não há nenhuma rua em que me possa enfiar, a merda desta rodoviária não passa de uma estrada longa a direito... Apenas me resta rezar para que a minha morte, infligida por mim mesmo, não demore... O que vejo faz-me ficar sobressaltado, estava perto... Vejo outro carro da polícia, mas este à minha frente, a vir a rápida velocidade até mim. Estou cercado, não tenho por onde fugir. Apenas tenho tempo de travar a fundo, de maneira a que a viatura não embatesse em mim... Inúmeros policias saem dos carros, acompanhados das forças especiais, altamente armados e protegidos. A equipa SWAT deita-se no alcatrão, fazendo-me mira. De repente, toda uma agitação se forma a meu redor e eu fito todo o espetáculo dentro do carro, evitando sair dele, sabendo que o teria que fazer em breve. Fico demasiado agitado, começo a ficar com falta de ar. Esmurro o volante e grito, grito como nunca gritei. Eu imaginei este momento por inúmeras vezes, mas a pequena réstia de esperança estava sempre lá. Choro, choro como nunca chorei. Tenho medo do que se avizinha. Tenho medo da morte, será que todos não temos um pouco?
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X Justice X || h.s.
FanfictionApril Sheperd é uma das melhores advogadas de Nova Iorque, com apenas 23 anos já resolveu os casos mais difíceis. Uma jovem trabalhadora que só tem um objectivo - vencer. Dedicasse de alma e corpo a todos os casos que recebe e a palavra 'desistir' n...