Em poucos segundos o rosto que desejava tanto ver surge à minha frente. Um rosto já choroso e molhado, com a beleza dos seus olhos avelã completamente arruinada com a vermelhidão. É então que eu percebo que ela não está feliz por me ver. Os seus lábios não esboçam o sorriso acolhedor que me costumava cumprimentar. Ela está com raiva, raiva de mim. A minha Julieta tem vontade de me esbofetear, de gritar comigo. Como eu disse, a realidade é difícil de se aceitar.
April não se aproxima de mim, tornando a distância que nos separava ainda mais insuportável. Ela trazia uma roupa prática, umas calças de ganga justas e uma sweatshirt. As lágrimas que caiam dos seus olhos pareciam não parar ou até mesmo acalmar, a rapariga de tempo a tempo limpava a sua cara vermelha e molhada. O seu olhar reprovador fazia-me sentir desconfortável, chegando à conclusão que este encontro seria tudo menos o que imaginara. Noutra altura, April já teria chegado até mim, já teria juntado o seu rosto ao meu, para que pudéssemos sentir o calor e a pele um do outro. No entanto, sem nunca quebrar a barreira que nos separava, sem nunca sentir os lábios dela, porque isso seria inadmissível. O que estávamos a fazer já era inadmissível, o que sentíamos um pelo outro era inadmissível. April nunca o admitiu, mas eu sei que ela sente exatamente o mesmo que eu.
"April..." Tomo a ousadia de a chamar, de tirá-la daquele julgamento mental que me fazia. O seu olhar tornava-se mais intenso, olhava-me com mais precisão, no entanto, a sua boca não dizia nada, não expelia nem uma palavra. "April, diz alguma coisa..." Peço-lhe dando uns passos na sua direção.
"Não... Não te aproximes." Ela coloca as mãos à sua frente.
"April... Por favor..." O meu coração começa a ficar apertado. Eu sei que ela está chateada, eu compreendo, mas as suas palavras e o seu olhar magoam o meu interior.
"Tu fodeste tudo, Harry..." Ela diz deixando-me atónito com a sua escolha de palavras, era a primeira vez que a ouvia a dizer tal coisa. "Eu ia tirar-te daqui, eu estava a fazer progressos, a descobrir pistas. Tu devias ter confiado em mim!" April grita entre soluços.
"Desculpa, desculpa!" Puxo os meus caracóis andando de um lado para o outro, pensando apenas na hipótese de ela não me perdoar... "April, eu tinha que tentar, tu percebes isso certo?" As minhas mãos agarram os seus braços, o meu olhar penetra no dela.
"Eu ia tirar-te daqui..." Julieta sussurra fitando o chão, não sendo capaz de me fitar.
Levo os meus dedos a uma mecha do seu cabelo castanho, sinto os fios sedosos como se fosse a melhor coisa deste mundo, na verdade ela era a melhor coisa deste mundo.
"April, ambos sabemos que isso podia não acontecer... Ouve eu agradeço tudo o que fizeste por mim, tudo... Mas eu estava lixado, ninguém me podia tirar daqui..." Capto cada traço do seu rosto como se aquela fosse a última vez que o via.
"Isso não é verdade... Quando tu fugiste eu descobri mais coisas... Coisas sobre a Nola..." O meu coração começa a palpitar mais rápido, será que eu fudi mesmo tudo?
"Que coisas April?" Pergunto-lhe.
"Nada que interesse agora... O juíz, depois de saber que fugiste, antecipou a audiência final, antes de... ... antes da pena de morte... É daqui a uma semana..."
Uns minutos de silêncio deixam o momento ainda mais constrangedor. Será que fui demasiado impaciente? Será que a April me iria mesmo tirar daqui? Não posso agarrar-me a essas ideias, não posso... Eu depositei imensa fé nesta rapariga, imensa esperança. Lá no fundo eu acreditava verdadeiramente que ela me iria tirar daqui, mas eu decidi fugir na mesma. Não por não confiar em April ou nas suas capacidades, nem provavelmente o melhor advogado do mundo me conseguiria tirar daqui. E eu não podia viver nessa incerteza. Não podia ou não continuar a pensar que já tinha vivido o meu último dia de vida. Mas mais importante que tudo, não podia passar o tempo que me restava aqui enfiado, neste sítio sufocante e sofredor. Eu gostava que April entendesse isso... Gostava que ela tirasse aquele ar de desiludida da sua cara.
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X Justice X || h.s.
FanfictionApril Sheperd é uma das melhores advogadas de Nova Iorque, com apenas 23 anos já resolveu os casos mais difíceis. Uma jovem trabalhadora que só tem um objectivo - vencer. Dedicasse de alma e corpo a todos os casos que recebe e a palavra 'desistir' n...