Capítulo 29 - Parte II

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"A Nola precisava de dinheiro para alguma coisa importante, talvez uma quantia mais elevada?" Os meus olhos pousam nos pais desconfortáveis.

"Não que eu saiba..." A mãe diz-me.

Não posso mentir que estou desapontada, o meu cérebro não consegue inventar mais perguntas e ainda não há progressos. Começo a duvidar de mim mesma... Será que eu vim incomodar esta família e causar-lhes dor para absolutamente nada? Depois desta conversa a única coisa que percebi foi que O'Brien realmente não estava a mentir, que Nola encontrava-se com ele... Vejo o ar desgastado das pessoas que se encontram à minha frente e tomo a decisão que já chega, já chega de trazer memórias ainda muito frescas, muito sensíveis. Tomo algum tempo para observá-los, parece que alguém lhes sugou a alma, é como se por de trás do olhar deles não houvesse nada para além do sofrimento. Por momentos, tenho pena, não da Nola, mas sim da sua irmã, porque nunca terá uma vida normal, uns pais normais, porque a memória fantasma da irmã irá sempre ofuscar a sua vida...

Fecho o meu caderno de notas, guardo-o na minha mala.

"Mais uma vez muito obrigada pelo vosso tempo, acho que está tudo por agora... Eu lamento muito por tudo..." Levanto-me do lugar onde estava sentada, evito em fazer contacto visual... Mrs. May levanta-se também, no entanto o pai de Nola continua sentado, imóvel, sem dizer uma única palavra.

Sorrio à mulher que está à minha frente, por algum motivo ela faz me lembrar a minha mãe. Uma pessoa abatida, a tentar sobreviver a cada dia que passa, conviver com a morte de uma filha, mas saber que ainda tem outra, o que a impede de desistir. Este vai e vem de emoções, querer forçosamente acabar com a vida, porque o sofrimento de ter perdido uma filha, é maior do que a alegria de ver outra crescer...

Vamos caminhando até à porta de entrada, o clima é constrangedor, sinto que deva dizer algo, no entanto não sei o quê. A senhora abre a porta, mas não me deixa ir antes de se dirigir a mim.

"Pode fazer-me um favor?" Ela pergunta-me.

"Claro." Respondo.

"Pode informar-nos quando esta história for toda tirada a limpo? Se... ... se aquele homem não for mesmo o culpado, eu quero saber quem foi. Isto pode parecer cruel, mas eu e o meu marido precisamos de alguém a quem apontar o dedo, a quem gritar, alguém para culpar, porque se não encontrarmos ninguém vamos ficar sempre na incerteza. A justiça tem que ser feita..."

"Mrs. Mary, eu prometo que lhe irei dizer alguma coisa." Digo à mulher, sentindo que lhe devia o mundo, apesar de não a conhecer parecia que tinha que fazer alguma coisa por ela, e isto era o mínimo.

Despeço-me com um breve aceno de cabeça e saio pela porta de entrada, porta essa que do outro lado mostrava uma família desfeita, que provavelmente nunca iria recuperar do trauma.

A sensação de falhanço era tão grande que me deixava maldisposta. Procuro atrapalhadamente as chaves do meu carro no interior da minha mala, vasculho-a procurando o objeto de que necessitava.

"Posso falar consigo?" Uma voz feminina ecoa atrás de mim, meio que me assusto por não estar à espera.

Rodo sobre mim, esbugalho os olhos... A rapariga que ainda há pouco eu tinha visto naquela moldura, por cima da lareira, falava agora comigo. As enormes parecenças que ela tem com Nola, deixam-me inquieta, quase desconfortável.

"Eu sou a Kate, a irmã da Nola... Eu, eu ouvi a conversa que teve com os meus pais... Posso falar consigo, em privado? Por favor?" Ela pede, quase desesperante por falar comigo.

Demoro algum tempo a assimilar o pedido. Seria de esperar que a rapariga extremamente nova não quisesse ter qualquer tipo de contacto comigo, tal como os seus pais. Percebo no desconforto de Kate, o seu rosto mostrava dúvida, não tendo a certeza se realmente deveria estar aqui à minha frente. É como se ele não quisesse estar ali, mas precisava de estar ali, e eu precisava de aproveitar isso, se ela queria ajudar-me eu vou aceitar.

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