Capítulo 42

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Observo ansiosamente o seu corpo a ser transportado na maca apressadamente. Fito a sua pequena estatura inerte a entrar numa pequena sala, onde de imediato vários médicos e enfermeiros a rodeiam e começam a trabalhar exaustivamente. Deixo-me estar no mesmo lugar, tento perceber se se o sangue que cobre a minha camisola é meu, da Molly ou do filho da puta do Derek. A mão de April é pousada no meu ombro, mostrando-me o seu apoio.

"Louis, ela vai ficar bem..." April conforta-me, não convencida do que diz.

"April, e se ela morrer?" Pergunto sem fitá-la, demasiado consumido pelos meus demónios. "É tudo culpa minha, eu é que lhe pedi, naquela noite, para me dizer o que sabia sobre a Nola. Se a Molly não me tivesse dito nada, ela não estava ali dentro neste momento." Digo fitando a pequena e atarefada sala.

A culpa que me consumia era avassaladora. Outrora não passava de preocupação e ansiedade, por não saber o que seria daquela rapariga loira, mas agora, depois de vê-la naquele estado, depois de presenciar as marcas no seu corpo, depois de saber que ela podia não sobreviver, sinto-me lixo, sinto-me um monstro.

Tudo se tinha passado demasiado rápido. Depois de April pagar a minha caução e preencher e assinar alguns papéis, entrámos de imediato no carro para voltar ao beco.

***

Percorria as ruas devagar, olhava minuciosamente para cada canto através da janela do carro, April fazia o mesmo.

Quando avistei o seu corpo abandonado em plena estrada, travei a fundo. As mãos ainda cravadas no volante, o pensamento de que podia tê-la morto naquele exato momento, fere-me o interior. Mas depois ocorre-me o pior pensamento possível, e se ela já estiver morta? Nenhum músculo do seu pequeno corpo se atrevia a mover, este encontrava-se posicionado lateralmente não me permitindo ver o seu rosto ou perceber se respirava.

"É ela?" April pergunta tão perplexa quanto eu. Parecíamos não querer reagir, como se a situação fosse arrebatadora de mais para descongelar os nossos cérebros.

Não consigo dizer nada, limito-me a acenar a cabeça, confirmando ser Molly. April reage mais rápido do que eu e abre a porta do carro.

"Liga para o 112, Louis." Ela avisa-me, contudo, teme que não me mova. "Louis, agora, liga agora." Já de fora do carro, entrega-me o seu telemóvel atrapalhadamente.

Depois de fazer a chamada saio do carro, mas não me aproximo. April está agachada no chão examinando Molly e tentando perceber o seu estado.

"Ela... esta.... Ela esta... morta?" A minha voz sai trémula e quase inaudível.

"Não..." April responde-me. "Mas não está em bom estado..."

Algo em mim faz com que me aproxime, esperança talvez, esperança de que ela volte a ficar bem. Ajoelho-me no chão, vejo todo o sangue pisado pelo seu corpo, os enormes hematomas e arranhões que lhe preenchiam o corpo, o loiro do seu cabelo estava assustadoramente preenchido por vermelho. A sua respiração era fraca e quase inexistente, tal como o batimento do seu coração. Rodo o seu corpo, observando-lhe agora a face. Um negro forte rodeava o seu olho, um corte grande estava presente na sua testa. A sua maquilhagem encontrava-se misturada com o sangue, a sua camisola rasgada e maltratada, a sua saia demasiado reduzida fazia-me poder observar a sua roupa interior. As suas coxas estavam cobertas de nódoas negras, e eu temi o pior...

Seguro o seu corpo quase vencido nos meus braços. Olho para ela, deixo que a culpa me mate interiormente. April levanta-se, observa o negro da noite esperando ansiosamente a ambulância. A lua no céu estrelado iluminava a noite, deixava-a ainda mais misteriosa e bizarra... Perguntava-me quando é que isto teria um fim, quando é que tudo ficaria normal...

X Justice X || h.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora