X Justice X || h.s.

Capítulo 39

A manhã chuvosa que se fazia sentir lá fora deixava o meu corpo ainda mais dormente do que já estava. James dormia profundamente a meu lado e eu limitava-me a observar a grande janela que se encontrava do meu lado da cama. Puxei os lençóis de encontro a mim, tentando sentir algum tipo de calor. A noite tinha sido passada em branco, onde o barulho da chuva e o uivar do vento foram os únicos a fazerem-me companhia. James dormiu toda a noite no maior conforto possível, até o seu sono transmitia a enorme felicidade que fervilhava dentro dele. O anel no meu dedo dava-me uma sensação desconfortável. A meio da noite, retirei-o e decidi pousá-lo em cima da mesa de cabeceira, e depois, limitei-me a observar o anel brilhante por infindáveis horas. Um latejar martelava no interior da minha cabeça, dando-me a sensação da mesma estar pesada. Todo o meu corpo parecia entregar-se ao desgaste mental que estava a sentir, como se, de certa forma, os meus músculos fossem parando e deixando de trabalhar corretamente. Se eu estava importada com isso? Nem um pouco... Eu apenas queria estar deitada ali, sem me mexer, sem ninguém por perto...

O barulho do despertador faz-me voltar ao mundo real, faz-me deixar os meus pensamentos para trás. O corpo de James remexe-se e a sua boca liberta um grunhido de frustração. O aparelho é desligado pelo meu namorado, que rola até mim e abraça-me. Sinto o calor do seu peito nu de encontro às minhas costas. Não fui capaz de me virar para ele, não fui capaz de enterrar a minha cabeça do seu ombro e voltar a adormecer como outrora fazia.

"Bom dia meu amor." A sua voz rouca soa junto do meu ouvido e um beijo suave é depositado no meu pescoço.

"Bom dia..." Sussurro a observar as gotas de água a deslizarem pelo vidro polido.

"Vou tomar banho antes de ir trabalhar, queres te juntar a mim?" James questiona levantando-se da cama.

"Acho que hoje vou ficar em casa... Não me sinto muito bem, acho que estou a ficar doente...". Minto descaradamente.

A expressão de James muda, ele fica surpreso com a minha afirmação. Ambos sabemos que eu não tiro dias, acho que nunca pedi para ficar em casa desde que comecei a trabalhar. Na verdade, eu era exatamente o oposto, quando algo de mau se passava eu apenas fazia de tudo por mais umas horas de trabalho. James caminha até ao meu lado da cama, ele agacha-se ficando com a sua cabeça no mesmo patamar que a minha, obrigando-me a fitá-lo. Apesar de não estar doente e de tudo não passar de uma farsa, as olheiras por baixo dos meus olhos e o meu ar extremamente cansado faziam James acreditar na minha mentira facilmente.

"O que se passa?" Os seus dedos percorrem uma mexa do meu cabelo que se encontrava pousada na almofada.

"Dói-me a cabeça, só isso..." Esforço um sorriso, fazendo-o esboçar também um.

"Fazes bem em ficar em casa, tens andado a trabalhar muito. Eu vou trabalhar, mas se acontecer alguma coisa liga-me imediatamente, certo?" Ele avisa-me sério, mostrando preocupação e carinho. Dou um aceno de cabeça, dando a entender que ira ligar, embora não fosse fazer nada disso porque nem se quer estou doente. Um beijo é depositado na minha testa e o corpo de James vai andado até à casa de banho, onde eu oiço o barulho da água a correr.

***

Cinco horas se passaram. Trezentos minutos e dezoito mil segundos intermináveis. O meu corpo não mexeu um único músculo, os meus olhos não fecharam na tentativa de procurarem descanso. Eram agora onze horas da manhã, o meu telemóvel tocara inúmeras vezes. De certo já estariam a dar por minha falta no trabalho, não avisei ninguém de que iria ficar em casa. Eu estava tão dormente, tão cansada. A única coisa que me distinguia de um mero robô naquele momento eram os pensamentos que corriam pela minha mente como um atleta persistente. Os meus olhos continuavam a captar o escorrer das gotas pelo vidro, tentava adivinhar que gota de água chegaria primeiro à parte inferior do mesmo.... Tinha sido tão fácil cair neste estado de dormência que me começava a preocupar se iria sair dele, porque eu sabia que embora tivesse sido fácil chegar a este ponto, seria difícil voltar à normalidade. O toque do meu telemóvel faz desaparecer o silêncio que habitava no quarto, pela primeira vez nesta manhã pego no mesmo observando quem queria contactar comigo.