Capítulo 51

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Harry POV

Dia 2

Liam olha-me perplexo procurando as palavras certas para me dirigir. Espero que ele se limite a aceitar o silêncio que se instalou, não quero ouvir uma palavra, não preciso da sua pena, muito menos que alguém me lembre que estou a viver os meus últimos cinco dias de vida. O meu cérebro está oco, vazio, ainda não cai na realidade, sinto que estou num sonho e que em breve vou acordar ao lado dela.

"Eu... Eu não sei o que dizer..." Liam diz e pela primeira vez eu vejo-o vacilar.

"Não digas nada, é melhor assim." Respondo ríspido.

Liam encontra-se na cama de baixo do beliche enquanto eu me encontro na cama superior fitando o teto sujo. Semicerro os olhos, as manchas pretas na parede começam a ganhar formas estranhas. Imagino-as a tornarem-se algo que não são. Limpo os olhos com as costas da minha mão e o teto volta a ser uma parede branca com manchas pretas aleatórias. Pergunto-me se começo a perder a pouca lucidez que me resta ou se o mundo à minha volta se começa a distorcer para minha própria segurança. E nesse momento, o melhor pensamento que tive em dias aparece na minha mente. Sorrio ainda a fitar o "céu". E se eu conseguisse que o mundo à minha volta estivesse de facto distorcido durante os últimos meus cinco dias. Naquele momento sinto-me uma espécie de Einstein, como é que eu não me tinha lembrado desta merda antes? Espreito pela grade do beliche para baixo, encarando Liam deitado na cama.

"Eu preciso de um último favor." Um sorriso de orelha a orelha na minha face.

"Sim mano, qualquer coisa." Ele meio que acede ao meu pedido por pena.

"Uma única coisa antes de ir desta para melhor." A ideia a tornar-se cada vez mais genial na minha cabeça. "Droga." Limito-me a dizer.

"Tu queres o quê?" Liam levanta a cabeça tentando perceber se ouviu corretamente.

"Uma coisa que não me deixe pedrado, alguma coisa que me leve aos céus e faça voltar. O suficiente para cinco dias." Saio do beliche num salto, coloco-me em frente a Liam de pé, este senta-se na cama encarando-me com uma expressão séria.

"Ouve, Harry. Não me parece que isso seja boa ideia. Tu não devias passar estes últimos dias a despedires-te ou o caralho? Queres mesmo passar em vez disso tão chapado que nem sabes onde estás?" A sua sobrancelha arqueia.

"Liam, seu cabrão, deixa-me explicar-te uma coisa. Eu vou morrer por uma coisa que não fiz, eu vou morrer rotulado como o violador e assassino, eu vou morrer e essa é a verdade. Eu não tenho ninguém para me despedir, a minha irmã e a minha mãe não me querem ver pintado, e eu não tenho mais ninguém. Portanto, eu posso escolher contar a merda de todos os segundos até chegar o dia da execução, ou eu posso estar chapado como a merda e ver unicórnios a voar e a vomitarem algodão doce. Escolho a segunda opção." Digo muito a sério, sei que é possível e se há alguma coisa pelo que vale a pena lutar é por isto. "Não é segredo nenhum que anda por ai a circular droga, tu andas por cá há mais tempo, tu sabes com quem ir ter para arranjar material. Traz-me qualquer cena, qualquer coisa serve desde que cumpra a sua função." Oiço Liam a suspirar alto.

"Queres o quê? Injetável?" Questiona-me. "Harry, mesmo que eu arranje alguma coisa tu sabes que isso vem com um preço. Não estas a espera que eles simplesmente me deem isso, certo? E caralho, faltam meses para eu sair daqui, se eu for apanhado..."

"Eu vou transferir todo o dinheiro que tenho na minha conta para dares aos teus pais. Não é muito, mas é alguma coisa." Cuspo pensando seriamente nisso, parece-me o mais sensato.

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