Capítulo 17

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Entro na pequena sala fria de interrogatórios, é sempre aqui que me encontro com Harry… Um guarda abre-me a porta e dá-me autorização para entrar, sento-me na cadeira em frente à mesa metálica. Agora, é só esperar que Harry chegue, faltam apenas alguns segundos para eu poder esfregar-lhe na cara que finalmente descobri quem ele é, o monstro revelou-se, a minha ilusão terminou. Era uma ilusão demasiado boa, uma mentira demasiado reconfortante para ser verdade. Dói… … dói sentir o que estou a sentir, sinceramente nem sei o que se está a passar comigo. Se eu não tivesse criado estes laços com Harry, isto não estaria a ser tão doloroso.

A mesma porta por onde entrei dá um estalido, e logo a seguir o rapaz de caracóis entra acompanhado por um guarda, que nos deixa a sós. Harry senta-se à minha frente, sorri-me mostrando as suas covinhas, as covinhas mais fofas do mundo, as covinhas de um ser humano desprezável.

Os nossos olhares fixam-se um no outro, eu fito o seu rosto demasiado bonito, ele analisa a minha expressão. Silêncio… nós entendemo-nos bem no silêncio. Não esperava esta reacção vinda de mim, eu pensei que quando visse o Harry desataria a gritar, tivesse uma vontade imensa de agredi-lo, mas não… Eu não encontro forças para tal. O olhar um do outro ainda fixo, apoio os meus braços na mesa e chego o meu tronco mais para a frente, ele faz o mesmo. Os nossos narizes estão a pouca distância, eu apenas quero sentir o seu cheiro uma última vez sem o meu cérebro relembrar-me que eu gosto do cheiro de um assassino. Não aguento e deixo escorrer uma lágrima pela minha cara, a expressão de Harry muda para preocupação, com as mãos algemadas ele leva o seu polegar ao meu rosto limpando a lágrima que caia pelo mesmo.

“Por favor, não me toques.” Peço baixinho, o seu toque vai-me fazer sofrer ainda mais.

“April, o que se passa?” Ele questiona preocupado, os nossos olhares não se desviaram um do outro nem por um segundo.

O meu olhar vai para as cicatrizes nos seus pulsos, a linha vertical saliente traz-me memórias. Eu lembro-me o quanto fiquei preocupada naquele dia, o quanto precisava de verificar que Harry se encontrava bem, com vida. Eu lembro-me de adormecer ao pé dele, de me sentir bem.

“A sensação de culpa era demasiado grande?” Pergunto ainda com o olhar nas suas ‘marcas’.

“Do que estás a falar?” Pergunta.

“Tu destruíste três famílias, ou melhor quatro, a tua também. Custa-me acreditar que não sintas nem uma pontinha de culpa. Foi por isso que fizeste isso? Que te tentaste matar? Já não conseguias ver o teu reflexo ao espelho, já não suportavas ouvir a tua voz, foi vergonha?” Afasto-me dele, encostando as minhas costas à cadeira, estou calma, demasiado calma. Começo a ficar fria, vazia no interior.

 “April, do que falas?! Tu sabes que eu sou inocente, eu não fiz nada.” Harry começa a exaltar-se.

Vou à minha mala e retiro de lá de dentro um caderno aleatório, não vendo a que adolescente pertence. Atiro o caderno para ao pé de Harry, ele está cada vez mais confuso.

 

|Harry POV|

Mas que merda se passa? Esta não é a April que eu conheço, esta não é a advogada que me tem ajudado. Eu não posso crer que ela pensa que eu as matei, esta rapariga era a única pessoa que eu pensei que estivesse do meu lado, era a minha única esperança, a minha luzinha.

Pego no caderno azul e com grande dificuldade, devido às algemas, abro-o numa página ao calhas, passando os olhos pelas linhas. Os meus olhos rapidamente se esbugalham quando eu percebo o que está escrito nos pequenos diários, mas quem escreveu esta merda?! Porque caralho April pensa que eu escrevi aquilo?! As palmas das minhas mãos começam a ficar suadas, eu não fiz nada disto!

X Justice X || h.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora