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A aula de práticas da gastronomia acontecia na manhã de segunda-feira. Hoje haveria aquela aula com as facas que o professor falou. Treinei um pouco em casa mas ainda sentia-me insegura e sem coragem de arriscar muito. Vi imensos vídeos na internet e só me questionava como é que aquelas pessoas conseguiam cortar os legumes tão rápido e em pedaços tão pequenos e, não cortarem nenhum dedo. Eram ET's com certeza.

As coisas com Louis melhoraram um pouco, mas ainda o sentia um pouco distante comigo. Entrei na sala e percebi que estava atrasada pois toda a gente já estava ali.





- Acho que não entendeste a parte em que eu não gosto de atrasos. - o professor falou com tom duro e autoritário.

- Foi só hoje professor, desculpe.

- Apressa-te a colocar o avental e pega numa faca.





Fiz tudo em segundos e depois de ter a faca em mãos o professor colocou-me uma cebola na frente.





- Quero ver se fizeste o que pedi. - sussurrou-me despercebidamente e assenti sentindo o nervosismo subir pelo meu corpo.





Peguei na faca e fiz aquilo que sabia, podia não ser perfeito mas era o máximo que podia por enquanto. O professor observava todos e parou na minha frente, isso foi o suficiente para eu fazer força na faca deixando-a escorregar e cortar o meu dedo.





- Ai. - gritei com a dor vendo o sangue espalhar-se pelo meu dedo.

- Eu não posso ver sangue. - ouvi alguém assustado dizer mas nem me importei, estava a arder muito.

- Vamos na enfermaria. - o professor disse colocando uma mão atrás das minhas costas - Façam uma pausa, mas não saiam da sala. - avisou os restantes.





O professor enrolou uma toalha no meu dedo e caminhou junto a mim pelo corredor.





- No que estavas a pensar, Katerina? - repreendeu-me com certa irritação na voz - Eu achei que tinhas percebido que não era para colocar tanta força na faca.

- Eu percebi, apenas aconteceu. - choraminguei. - Você mesmo disse que era necessário isto para aprendermos.

- Eu disse, mas não queria que fosse na minha aula.

- Desculpe, não queria causar nenhum incómodo. - respondi chateada, parecia que até fiz de propósito.

- Deixa-te disso. Estou a ver que precisarei ficar atrás de ti a ajudar-te mais vezes até conseguires fazer sozinha.

- Isso só piora. - ele riu e logo arrependi-me do que disse - Eu só acho que devo aprender por mim, aos poucos. - tentei dar a volta ao assunto.

- Eu percebi. - disse irónico e revirei os olhos.





Chegámos na enfermaria e não tinha ninguém. Ao que parece a enfermeira que estava de serviço foi ao ginásio socorrer alguém.





- Boa. - O professor disse sem emoção alguma - Terei de ser eu a cuidar disso.

- Percebe algo de feridas? - perguntei limpando algumas lágrimas no canto dos olhos.

- Eu fiz um curso de primeiros-socorros quando era mais novo, então acho que sim. - desinfectou-me a ferida e conseguimos ver o estado do corte, não era muito fundo, mas também não era superficial.

- Vai precisar de pontos? - perguntei imaginando que se fosse necessário, teria de ir ao hospital.

- Acho que não. Agora tem calma. - avisou e senti o líquido do anticéptico escorrer pelo corte, assim como mais algumas lágrimas - Não chores, isto já passa. - disse meigo e limpou o meu rosto.

Nana, who are you? 2 || L.T. ||Onde histórias criam vida. Descubra agora