Hipocrisia Divina

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Nota do Autor:

Você pode acompanhar esse conto ouvindo a narração na capa do capítulo. Não é lá grandes coisa, mas ajuda e muito na imersão, já que contém um certo nível de edição, além de trilha sonora.

No entanto, em alguns aparelhos pode não dar certo. Desculpa, é coisa do Wattpad, rs

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Hipocrisia Divina


- Pecadores! – gritou o Pastor George para toda a igreja. – São todos pecadores!

O templo estava lotado naquele dia em especial. Não fosse a religião, a humanidade já teria perdido toda sua esperança há décadas. Durante o Século XXII os pensamentos niilistas se intensificaram. O vazio existencial ganhou proporções imprevisíveis. E quem mais faturou com isso foram pastores como George.

O Rio de Janeiro já tem um longo histórico de discriminação com as classes baixas, com negros, com religiosos de origens diferentes da cristã, ou com qualquer outra minoria representativa. A descoberta de espécies extraterrestres só serviu para apresentar uma nova classe marginal.

Durante anos os pastores ganharam dinheiro pregando sobre o fim do mundo, a dominação universal dos aliens. Goerge era bom nisso. Mas chegou a época em que alguns desses aliens passaram a conviver com os humanos em colônias de mineração e exploração além-mundo. Os pastores passaram a pregar sobre conspirações, comparando os aliens aos demônios bíblicos. George também era bom nisso. No entanto, o que ninguém esperava, embora imaginassem a possibilidade, de fato aconteceu: raças alienígenas ganharam permissão para viver na Terra.

Alguns poucos escolhidos foram convidados ao nosso mundo, a fim de contribuir com toda sua inteligência e tecnologia. A Terra avançou muito nessa época em relação à infraestrutura, velocidade de informação e saúde. Mas a discriminação também avançou, talvez de forma ainda mais perceptível. Os pastores pregaram contra a permissão dos aliens, exigindo o banimento deles. Claro que George também era bom nisso.

Mas os pastores jamais poderiam imaginar o novo fetiche que estava por surgir. A era das mulatas havia passado. A era das loiras havia passado. Estava em vigor a era dos seres de pele azulada. Esses sim atraíam homens e mulheres. Era um fetiche incontrolável. Há quem fale sobre o odor hipnotizante que os aliens exalam, ou mesmo sobre as perversões que essas "capetinhas" fazem. Não tardou para que as relações sexuais entre espécies diferentes se tornassem algo recorrente. E era por esse motivo que a igreja estava lotada naquele dia em especial.

- Como eles podem aceitar essa pouca vergonha? – gritou o pastor George.

Câmeras filmavam sua pregação e exibiam em imensos telões LED para os fieis mais afastados do palco. – Talvez eles tenham se esquecido, mas a AIDS surgiu dessa mesma forma!

- Dessa forma! – gritou sua assistente, ao seu lado

- Repugnante, não acham? – George exibiu uma imagem no telão atrás de si. Nela aparecia um casal formado por um homem e uma extraterrestre. – Isso me enoja. Vejam essa foto agora! – Mostrou uma mulher beijando um ser alienígena. – Nossos filhos merecem ver esse tipo de coisa, irmãos? Acham que podem andar na rua e se deparar com cenas assim, ao ar livre? Eu acho que não! Acho isso um absurdo! – gritou com ainda mais fúria.

- Um absurdo! – gritou sua assistente.

- Quantos aqui já tiveram relações carnais com seres além-mundo?

Ninguém ergueu a mão.

- E quantos aqui repudiam esse tipo de relação?

A multidão de fieis ergueu-se de seus bancos, gritaram de mãos erguidas, e expressaram todo seu ódio.

- Vocês concordam comigo! – George gritou ainda mais, para ser ouvido sobre os infinitos gritos da multidão. – Eles podem nos trazer doenças! São corpos diferentes! De mundos diferentes! Os convidamos para nossa casa! E agora penetramos em seus corpos? Não acham isso um absurdo, irmãos! Isso é errado!

- É errado! – a mulher gritou ao seu lado.

- Irmãos, fiquem agora com o coral – o pastor já saía do palco quando se lembrou do mais importante. – Mas antes, vocês já podem transferir seus dízimos e ofertas para nossa conta enquanto a música estará sendo tocada. A casa de Deus precisa de verba para combater o mal impregnado no mundo.

O Pastor George deixou o palco para trás, dando lugar ao DJ e ao coral. Enquanto a música eletrônica acompanhava o coral, os fieis dançavam e tocavam em seus tablets, transferindo o dinheiro com sorrisos no rosto.

George foi para uma sala nos fundos da igreja. Tirou a gravata e depois o terno. Pendurou a roupa em uma cadeira, e sentou-se no sofá.

- Às vezes eu quase acredito em você – disse uma voz feminina, deixando as sombras.

- É meu ganha-pão – disse George, se espreguiçando no sofá. – Sou pago pra falar o que querem ouvir.

- E quando eles mudarem de ideia? – ela fez pose para o pastor.

- É tão normal mudar de opinião – ele sorriu vendo as belas curvas. – Quando isso parar de me dar dinheiro eu falo de outra coisa. Sempre fiz isso, não vejo porquê parar agora.

- Não acha isso errado? – ela deitou-se sobre ele.

- Errado? O quê? Tirar dinheiro de pobres? Ah, não vem com essa – George deu uma leve risada, então beijou a mulher. – Eu não roubo ninguém, eles me dão por vontade própria.

- Mas você mente – ela passou um dedo em sua boca. – É um menino malvado – o beijou com mais vontade.

- Garota... – ele sorriu. – Políticos mentem, roubam, às vezes matam, e os tornam infelizes em suas ruas fedidas e inseguras. Empresários mentem, roubam, exploram, censuram, poluem o ar e os rios. E o que eu faço? Eu minto, claro. Tiro o dinheiro deles. Mas os faço felizes! Eles vêm até minha igreja e dançam, se divertem! – George pegou a mulher com força, então virou-se, ficando por cima dela. – Eu sou muito bonzinho – a beijou, abrindo sua blusa e tocando seus seios. – Sou muito bonzinho. – Beijou aqueles seios... seios azuis.



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Nota do autor:


Olá leitores e leitoras! Gostaram do primeiro conto da obra? Então comentem o que acharam! Sua opinião é de extrema importância!

Eu revisei esse conto, então os comentários, que antes ficavam anexados nos parágrafos, agora não estão mais. Por isso é bem importante que, quem for lendo agora, comente as partes que acharam interessantes nos parágrafos.

Prometo responder todos.

Obrigado pela leitura e continuem lendo.

Até mais!

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