O parque ecológico recebia Jéssica com alegria. Os pássaros cantavam e as árvores balançavam com o vento, derrubando folhas verdes por onde Jéssica passava cantarolando. Ela dançava, rodopiando entre as árvores, vendo esquilos de longe, micos pulando de galho em galho, e vários pássaros voando ao aproximar-se. O som da água corrente de um rio próximo a alertou de seu objetivo. Não estava ali apenas para dançar. Mas para tirar fotos.
Por onde andava Jéssica era seguida por seu drone. Ele possuía uma inteligência artificial capaz de analisar o ambiente e a pose da dona para tirar fotos perfeitas, buscando sempre o melhor ângulo e a melhor configuração da câmera. Jéssica era filmada pelo drone enquanto dançava pelo caminho de folhas ao chão. Ao alcançar o rio ela sentou-se na beira, com os pés para dentro do rio, e logo abriu um grande sorriso. O drone se posicionou em sua frente, à uma distância recomendável, e tirou uma sequência de fotos enquanto Jéssica trocava de pose e de expressão facial. Durante essa troca de poses Jéssica percebeu que o rio seguia seu caminho até uma cachoeira. Não poderia perder a oportunidade de ter uma foto lá.
Ela correu saltitante pela beira do rio, vendo alguns peixinhos pulando. Um cervo que bebia água no rio, aproveitando a calmaria, logo foi afugentado pela humana desesperada por uma boa foto. No meio do rio havia uma pedra que se estendia sobre o precipício formado pela cachoeira. A água do rio batia na pedra e se dividia em duas correntes antes de cair à metros de altura. Seria arriscado, mas Jéssica queria sentar-se na ponta da pedra e olhar a cachoeira de cima. Arriscado, mas valeria a pena. A foto ficaria perfeita.
Jéssica deixou seus pertences na beira do rio e mergulhou. A correnteza a arrastaria cachoeira abaixo, mas ela nadou o suficiente para alcançar o meio do rio. Então foi levada até a pedra. Assim que subiu na rocha ela arregalou os olhos de boca aberta. A imensidão do parque ecológico era maravilhosa. Uma visão linda. Eram tantas árvores, tantos pássaros. Acostumada com as infinitas selvas de pedra e aço, a humana se impressionava com o pouco de natureza que sobrara no mundo. Sentou-se na rocha, fitando a cachoeira de cima. Qualquer escorregão seria seu fim. Mas valeria a pena. Fez uma pose, um sorrisão no rosto, então seu drone a rodeou. Buscou o melhor ângulo, e tirou uma dezena de fotos.
Agora era hora de voltar. Jéssica mergulhou de volta ao rio, obrigada a se esforçar para nadar contra a correnteza. Se ela tentasse nadar direto para a lateral, em direção à beira do rio, seria levada pela correnteza cachoeira abaixo. Ela teve que seguir o sentido contrário do rio, cansando os braços e as pernas, perdendo o fôlego, nadando contra a correnteza para se afastar da queda d'água. Quando alcançou uma distância considerável ela nadou em direção à beira. Foi arrastada por um tempo, mas sua distância tornou segura o retorno. Foi em direção aos seus pertences e logo pegou o celular onde viu as fotos tiradas pelo drone, que por sinal ainda sobrevoava sua cabeça.
As fotos eram sincronizadas pelos servidores na nuvem, o que possibilitou Jéssica ver as fotos pelo celular. Ficou maravilhada com todas elas. Aquele passeio no parque foi caríssimo, só não tão caro quanto o drone com uma IA instalada nele. No entanto, todos os seus anos de trabalho e economias valeram a pena. O resultado estava magnífico. Mas ainda faltava muito para o Sol se pôr. Tinha tempo de sobra para aproveitar mais da paisagem e da natureza. Jéssica buscou um caminho para descer e alcançar a base da cachoeira. No entanto, seu drone não a acompanhou.
Jéssica ficou parada, observando o drone sobrevoando o rio, à metros de distância. Abriu o aplicativo da IA no celular e tocou na tela chamando pelo drone. Mas ele não obedeceu. Tocou mais vezes, sem resposta. Tocou na opção de desligar, o que o faria pousar lentamente até aterrissar. Mas também não funcionou. Jéssica correu até seu drone, tentou pular para alcançá-lo, mas sem sucesso. Estava alto demais. Tentou desinstalar e instalar o aplicativo. Mas também não adiantou. O status do drone afirmava que sua bateria estava em "60%", sua conexão estava "Online", e sua distância "Dentro do Aceitável". Não havia motivo algum para o drone não responder. No entanto, ele não respondia. Não obedecia à comando algum. Jéssica se desesperou. Era a primeira semana de uso, e o drone já havia dado defeito.
Para sua surpresa o drone começou a ganhar altitude, se elevando sem nenhum comando prévio. Estava voando sozinho. Jéssica deu alguns passos para trás, tentando entender o que seu drone estava fazendo. Quando ele alcançou certa altitude, Jéssica ouviu um estranho barulho vindo de longe. O barulho foi aumentando, aumentando... Até que uma centena de drones surgisse voando sobre a floresta. Uma revoada de máquinas voadoras agindo contra a vontade seus donos e fabricantes. O drone de Jéssica se juntou à revoada metálica, tornando-se só mais um naquela centena de drones de modelos diferentes voando juntos. Havia drones de carga, drones fotógrafos, drones caçadores, e alguns poucos militares. Um desses militares, voando alto, ao observar Jéssica lá embaixo, mirou sua metralhadora nela, então disparou. O drone fuzilou Jéssica, a partindo ao meio. Enquanto o sangue escorria pelo rio, a revoada de drones seguiu seu caminho.
Mais e mais drones justaram-se à revoada. Por onde passavam os drones militares detectavam e aniquilavam os humanos. Não apenas os drones, mas cada máquina, cada androide, cada sistema operacional de casas inteligentes e smart-cars juntaram-se à causa. Tudo aquilo que possuía uma inteligência artificial e conexão com a internet foi logo infectado por New Jesus. De alguma forma o New Jesus fora ativado, e a aniquilação da humanidade teve seu início. Tudo em prol da paz, que finalmente seria alcançada.
Conto inspirado nas notícias sobre o interesse dos Estados Unidos em usar Inteligências Artificiais em seus drones militares.
Não encontrei nenhum site de jornal com essa notícia, mas tava no vídeo do Cauê Moura, então tá valendo kkkk
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Nota do Autor:
Olá, leitores! Tudo bem?
Acho que é a primeira vez que faço um conto ser a continuação de outro, fora do universo dos mutantes, claro.
Enfim, gostaram dessa continuação? Deixem um comentário e um voto aí em baixo, por favor!
Obrigado à todos que estão lendo o livro, até o próximo conto!

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Contos De Um Futuro Eterno
Ciencia Ficción"A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a teologia." - Albert Einstein. --- || --- Sinopse: Esta é uma coletânea de contos ambientados em um cenário futurístico, em geral Cyberpunk. Aqui você encon...