O Dilema do Superman - 1/2

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Eu já morava na Lua quando veio a grande notícia de Marte que abalou o planeta Terra. Foi em 2037, um ano antes da data planejada para o lançamento da primeira base espacial no planeta vermelho. Na época, eu participava do projeto que consistia em estabelecer bases espaciais na Lua. Me juntei ao time A, formado também por Dolores e Chappie, uma bióloga e um militar. Fomos responsáveis pelo estabelecimento de uma das bases lunares, e seríamos os primeiros a montar uma em Marte. No entanto nossos planos mudaram naquele dia.

Me lembro de estar deitado na cama do meu dormitório lendo algum livro quando Dolores bateu na porta:

- Posso entrar, Robbie?

- Claro – jamais recusaria a presença dela.

A porta se abriu me permitindo vislumbrar seus cabelos soltos e suas roupas comuns. Dentro da base a gravidade era similar à da Terra, não havendo necessidade de trajes especiais. Ela sentou na beira da cama, então me ergui para ficar sentado ao seu lado.

- Chappie tá cada vez mais irritado com os rapazes do time B – ela disse com os olhos perdidos no chão. – Não consigo controlar ele.

- Nem tente. – Adoraria falar mal do Chappie, sempre o achei um idiota. Mas não seria bom falar mal dele perto de Dolores. – É o jeito dele. Os caras do time B implicam também. E ele pega pilha fácil.

- Mas ele pode acabar comprometendo nossa missão se continuar desse jeito. – Dolores estava certa. No entanto, por mais que eu não gostasse das atitudes de Chappie, ele ainda fazia parte do time A, portanto era minha obrigação saber lidar com ele.

- Tá, tudo bem – repousei o livro sobre o criado-mudo ao lado da cama. – Vou tentar conversar com ele. Mas você sabe que isso nunca dá certo.

- Obrigada – ela se esticou e me abraçou forte. – Eu sei que você não gosta muito dele, mas seria tão bom se vocês se entende... – o smartwatch apitou em seu pulso. – Mensagem do diretor. – Ela ergueu a cabeça e me olhou com semblante sério. – Vem comigo agora.

Dolores se ergueu da cama, me pegou pelo braço e me levou pelo corredor da base lunar até a sala principal. Lá estavam Chappie e Rick, nosso diretor, sentados no sofá assistindo a uma transmissão da Terra pela televisão.

- Venham, rápido! – Rick nos chamou. – Vocês têm que ver isso! – Apontou para a TV.

O noticiário via streaming exibia imagens gravadas por uma das sondas da NASA em Marte. A filmagem em primeira pessoa mostrava a sonda entrando em uma caverna. Assim que as luzes se acenderam pôde-se perceber que o túnel possuía paredes lisas demais para ser uma caverna natural. A sonda sacudia ao percorrer pelo solo vermelho ondular e pedregoso de Marte. Ela seguia o túnel até alcançar a beira de um precipício, por onde não poderia prosseguir. Abaixou a câmera e então a filmagem revelou o inimaginável.

"Esse é o momento em que a sonda exibe as imagens que chocaram a humanidade nas últimas horas", disse o apresentador do noticiário.

Abaixo do precipício as imagens revelaram a existência de uma cidade em ruínas dentro da caverna marciana. O túnel por onde a sonda seguiu deveria continuar sobre a cidade, a metros de altura, como uma ponte. No entanto, não havia mais uma ponte. Havia apenas as colunas que um dia a sustentaram. O túnel continuava além do abismo, mas a sonda era incapaz de saltar sobre as colunas até alcançar o outro lado. Restavam apenas as suas filmagens das ruínas de uma cidade marciana.

Os jornalistas falavam sobre teorias da conspiração, civilizações antigas, deuses astronautas. Alguns até alegavam que as imagens eram mentiras para gerar marketing. Mas nós da base lunar sabíamos que aquelas imagens eram reais. E elas mudariam tudo.

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