Parte IV.
Com a arma em mãos Chappie Jackman saiu da escadaria e ficou frente a frente com os religiosos fanáticos e com o mutante preso em uma cruz neon roxa de cabeça para baixo. Sua voz de prisão foi alta e clara, mas não surtiu efeito. Os religiosos logo puxaram suas armas da cintura e dispararam contra o policial. Chap deu meia volta, buscando abrigo atrás do portal de onde chutara a porta. Os tiros atingiram o portal de madeira, mas o policial ficara ileso. Quando os fanáticos tiveram que recarregar suas armas ele deu início ao massacre.
Segundo as leis, o porte de armas é totalmente legalizado, até mesmo para religiosos. No entanto, usá-las em atos religiosos é extremamente proibido, ainda mais quando usadas contra um agente da lei. Chap tinha bons motivos para matar cada um deles. Se havia algo que odiasse mais do que mutante marginais eram extremistas religiosos.
Enquanto os religiosos recarregavam suas armas Chap botou a cabeça para dentro do porão novamente e fitou o cenário macabro. Homens vestidos de longos brancos, roxeados devido a iluminação neon, estavam de cabeça baixa recarregando as armas. Esse curto espaço de tempo foi o suficiente para que a maioria recebesse balas na testa. Outros receberam disparos no peito ou na barriga. Todos os tiros foram certeiros, nenhuma bala desperdiçada. Sozinho Chap tombou todos os religiosos antes que sua arma descarregasse.
Quando enfim o som ensurdecedor do tiroteio cessou ele pôde prestar mais atenção na cena. No meio dos corpos caídos havia uma arma Bloqueadora quebrada. Como aqueles religiosos tinham um armamento que nem a CopCorp ou a PEC possuíam? Apenas a agência que lida com mutantes tinha acesso aquele tipo de arma, e lá havia uma em posse de religiosos. Chap se aproximou dos homens e pôs os dedos em seus pescoços, buscando sentir os batimentos cardíacos. Todos mortos, exceto um. O líder da igreja.
- Você deveria ser um agente da lei - disse o pastor caído no chão com um tiro na barriga. - Da lei de Deus, não dos homens.
- Cala a boca - Chap foi até Maurício e o desamarrou da cruz. Com cuidado o colocou sentado no chão, apoiado com as costas na Cruz de Nero. - Olha o que fizeram com ele, tá todo sangrando. Ah, merda, vocês furaram a mão dele!
- É o mínimo que podíamos fazer. - O pastor cuspiu sangue e então pressionou a mão sobre o abdome. Quando removeu a mão a viu toda ensanguentada. - Maldito mutante.
- Não é assim que a lei funciona. Eu apenas julgo os mutantes que usam os poderes publicamente. Vocês são um maldito grupo extremista torturador! Por sorte eu consegui parar vocês antes que matassem ele.
- Nos parar? Você nos matou!
- Você ainda tá vivo. - Chap puxou algemas da cintura. - E vai pra cadeia, seu merda.
- Eu não faria isso se fosse você - disse o pastor, arrancando uma expressão surpresa da face de Chappie. - Há uma conspiração muito maior aqui, policial. Você que não está enxergando.
- Conspiração?
- O Bloqueador - apontou para a arma quebrada. - Como acha que conseguimos uma arma dessa?
- Criminosos. Isso você diz pro juiz, não pra mim.
- Pense, policial. Pense... - o pastor sorriu, exibindo o sangue entre os dentes. - Apenas a FAM tem acesso à essas armas. Mas as leis os proíbem de usar elas em mutantes que não usem seus poderes. Isso os protege. A lei protege esses vagabundos marginais. Gentalha de merda. Eles andam por aí fudendo e propagando pros filhos esse DNA maldito. Alguém deveria fazer o trabalho sujo em nome de Deus, não acha?
- Merda... - Chap não queria acreditar no que ouvia. - Cala a boca, isso não pode ser verdade!
- Você sabe que é, policial. Sabe que mutantes são o maior problema que há no mundo. Nós não somos os únicos a ter esse tipo de arma, nem os últimos a usar.
- Mandei calar a boca! - Chap cerrou o punho e o chocou contra o rosto do pastor. Sujou sua mão de sangue, mas valeu a pena. Agora o pastor sangrava pelo abdome, boca e nariz. Quando Chap finalmente o algemaria ouviu o som de passos. Virou-se para trás e apontou sua arma para Maurício que já tinha um pé na escada, quase escapando do porão. - Parado aí! Eu salvei você da morte, não da prisão.
- Olha, eu não queria usar os poderes, mano. Eu só tava fugindo dos caras, eles iam me matar lá! - Maurício manteve as mãos para o alto. - Você não vai conseguir colocar dois homens naquela latinha que chama de carro voador. Só cabe um. Vai ter que chamar reforços, é o procedimento padrão. Até os reforços chegarem os meus poderes já voltaram e eu vou escapar daqui. Você fica só com o pastor. Ou pode me colocar no carro e me levar, mas vai ter que deixar esse merda aqui na igreja. O que vai fazer, policial?
Chap fitou o mutante prestes a escapar pela escadaria. Caso corresse atrás dele, daria margem para o pastor fugir. E o carro cabia apenas duas pessoas, não era um carro de prisão, era um carro tático. Deveria fazer sua escolha. Chappie Jackman respirou fundo, virou-se para o pastor, e o algemou.
- Não vai pegar o mutante? - Gritou o pastor. - Ele está fugindo!
- Não - Chap respondeu cabisbaixo. - Pegá-lo ia me garantir uma promoção, tenho certeza. Mas ele não matou ninguém, apenas fugiu da morte. Entre os dois você é quem mais merece ser preso, seu pedaço de merda. Você é um torturador! E vai preso!
Não tardou para os reforços chegarem. Os corpos dos extremistas mortos foram levados ao legista, enquanto o líder religioso foi levado à prisão. A capitã Denise passou alguns minutos gritando com Chap por causa de sua decisão arriscada. Pôs toda a operação em risco para ir atrás de um mutante e para prender religiosos fanáticos. A operação fora financiada para prender corredores. A operação de Chap e a prisão do líder religioso não fora paga por ninguém. No entanto, mesmo que tenha posto tudo a risca, Chap ganhou mais respeito dentro da corporação.
Maurício Zamboni, também conhecido como Ray Bolt, conseguiu escapar da igreja muito antes dos reforços chegarem. Não demorou para que seus poderes voltassem e então pudesse correr de volta para casa. Ray terminou o dia sem nenhum dos dois carros e com um buraco na mão esquerda. Mas ao chegar em casa teve muito o que agradecer. Afinal, ainda tinha sua vida.
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Nota do Autor:
Olá, leitores! Tudo bem?
Chegamos ao final de mais um conto do universo dos mutantes. Já que este é um projeto onde estou desenvolvendo aos poucos este universo, peço que me ajudem com críticas sinceras. Seja dizendo algo que tenha gostado bastante, ou algo que tenha odiado, kkkk. Qualquer crítica ou sugestão será muito bem-vinda.
Agradeço à todos, e até o próximo capítulo, sabe Deus quando que eu vou postar, kkkk.
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Contos De Um Futuro Eterno
Science-Fiction"A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a teologia." - Albert Einstein. --- || --- Sinopse: Esta é uma coletânea de contos ambientados em um cenário futurístico, em geral Cyberpunk. Aqui você encon...