Parte II.
Junior e Anne acompanharam o garoto adentrando a luz azulada, tomados pelo som do rap que tocava alto. Eles estavam de pé sobre uma grande escadaria que os levava entre arquibancadas até um ringue no centro. O lugar era enorme, do tamanho de um quarteirão. Era circular, cercado por "arquibancadas", mas na verdade não haviam cadeiras, o público estava de pé, pulando ao som de "Us Pika Du Século", música do falecido grupo de rap Cartel MCs. O ringue no centro era cercado por uma grade que separava os lutadores da plateia. Centenas de pessoas sacudiam a cabeça ao som da música, acompanhando o grave do rap.
Enquanto Junior e Anne desciam a escadaria, observavam as pessoas que assistiam a luta. Eram do mais variado tipo, com diferentes cortes de cabelo, cor de pele, e até estilos de roupa. Uns usavam roupas longas, com bermudas até a metade da canela, e camisas bem maiores que o tamanho do corpo. Outros já usavam regatas apertadas e compridas no corpo. Alguns outros nem usavam camisetas, apenas bermudas jeans presas com cintos. Mas uma coisa havia em comum entre a grande maioria: o uso de bonés. Uma nova moda surgira entre os jovens: inspirada nos letreiros de neon, os jovens passaram a usar cabelos fluorescentes, bonés fluorescentes e até roupas com pequenos detalhes desse mesmo tipo de cor. Isso chama atenção na escuridão, ao adentrarem em ambientes como aquele, a famosa Roda do Mercadão.
Junior e sua irmã andaram pelo corredor entre as arquibancadas descendo a grande escadaria até alcançar a primeira fileira. Lá ele avistou o garoto mais velho conversando com um homem sentado em uma cadeira, tocando em um tablet.
- Ah, ó eles aí - disse o garoto mais velho quando os irmãos chegaram. - Esses aqui são os novatos que falei.
- Tu é mutante, ô garoto? - O homem sentado perguntou de forma bruta para Junior.
- Como? - Junior não soube responder.
A vida inteira foi ensinado pelo pai à esconder seus poderes, pois eram motivo de vergonha. Ser um mutante era quase um crime por si só. Ninguém gostava dos mutantes, muito menos quando usavam os poderes em público, a não ser que você fosse um agente da polícia corporativa. Fora isso, mutantes são marginalizados. Se um mutante quisesse alcançar níveis mais altos da sociedade, então deveria esconder os poderes, e jamais assumir que possui o DNA mutante em suas veias, pulsando e ativo.
- Perguntei se tu é mutante, garoto - disse o homem olhando fixamente para seu tablet onde possuía uma lista de nomes.
- So-sou sim.
Ser um mutante até poderia ser motivo de vergonha. Mas ali, de frente para aquele ringue, cercado de jovens, mutantes ou não, Junior sabia que poderia ser ele mesmo. Sem amarras, nem pudores. Ali ele tinha liberdade para ser quem realmente é.
- Quer se inscrever na batalha? - O homem perguntou, finalmente olhando nos olhos de Junior.
- Ahn... - ficou sem reação.
- Ele quer! - Anne, sua irmãzinha, tomou a iniciativa e respondeu por ele.
- O quê? - Junior arregalou os olhos para a irmã.
- Vai ser irado, irmão! Quero ver você lutar! - Ela deu pulinhos animados ao lado de Junior.
- Não, não! Tá doida? Isso pode ser perigoso!
- Vai, por favorzinho! - Ela o olhou com seus olhões fofos. - Você sempre foi meu herói! Agora pode ser pra todo mundo! Faz isso por mim!
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Contos De Um Futuro Eterno
Ficção Científica"A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a teologia." - Albert Einstein. --- || --- Sinopse: Esta é uma coletânea de contos ambientados em um cenário futurístico, em geral Cyberpunk. Aqui você encon...