Mutantes: A Resistência Mutante - 1/3

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Mercúrio estava sentado atrás do palco, prestes a subir, enquanto o Emicida cantava alto em seu ouvido. Seus pés sacudiam batendo no chão enquanto suava de nervosismo. Ele era o líder de um grupo de mais de trezentas pessoas que o ouviriam falar. Ele sempre escutava a música "Levanta e Anda" do rapper Emicida, para se acalmar, criar coragem, e ter ânimo para continuar a sua luta. Assim como o rapper lutou por toda sua vida pelas minorias, pelos pobres e pelos negros, Mercúrio estava destinado a lutar pelos mutantes. Por isso reuniu mais de trezentos deles, vindos de todo o Brasil, em um mesmo lugar: a Floresta Amazônica.

Dias antes daquela reunião os mutantes derrubaram árvores em uma área do tamanho de um estádio de futebol, em formato circular. Mesmo assim, a copa das árvores que os cercavam era tão grande que logo tampou aquele grande espaço que abriram, formando um teto de galhos e folhas verdes. Mercúrio, o líder daqueles mutantes, com os fones de ouvido no último volume, não podia ouvir o belo canto dos pássaros que pousavam na copa das árvores. Esquilos andavam por aquele chão úmido e borboletas voavam pelo ar quente. Mas ali atrás do palco o clima era outro.

Os organizadores do evento estavam enlouquecendo de tantas responsabilidades. Era o grande momento, nada poderia dar errado. Corriam de um lado para o outro, testavam o equipamento de som, microfones e a energia elétrica fornecida por um mutante; sem contar a equipe que fornecia as barracas para as centenas de mutantes dormirem, e mais o fornecimento de água e comida. Mercúrio organizara tudo da forma mais perfeita que podia. Mas na execução ele só tinha uma responsabilidade: falar para aquela multidão de mutantes.

- Mestre, chegou a hora – disse Lana, sua assistente.

Ela se aproximou gentilmente, lhe entregando o microfone.

Mercúrio fez sinal para que ela esperasse, então ouviu o último refrão da música.

"Quem costuma vir de onde eu sou às vezes não tem motivos pra seguir. Então levanta e anda. Vai, levanta e anda. Vai, levanta e anda. Mas eu sei que dói, que o sonho te traz coisas que te faz prosseguir. Vai, levanta e anda. Vai, levanta e anda. Vai, Levanta e anda. Somos maior, nos basta só: sonhar, seguir."

De frente para a escada metálica do palco, Mercúrio respirou fundo. Sentiu o ar quente e úmido invadir seus pulmões. Chegou a hora da revolução. Subiu as escadas com o microfone na mão. Ao ver a multidão ele ergueu os braços.

O povo bradou, gritou seu nome, bateram palmas. Mercúrio fitou raios de Sol atravessarem a copa das árvores como filetes de luz tocando a multidão de mutantes. Centenas deles, unidos por uma causa, um ideal, um inimigo em comum. Mercúrio quase chorou de emoção, mas conteve-se. Ergueu apenas o braço direito, pedindo silêncio. Aos poucos os gritos cessaram, dando lugar apenas aos pássaros com seu belo canto, e ao som do vento batendo contra os galhos.

- Quem costuma vir de onde eu sou às vezes não tem motivos pra seguir – pausou para beber um pouco de água. Pegou o microfone novamente. – É assim que Rael canta no refrão de uma música do Emicida. Vocês não devem conhecer esses cantores, são de um século passado, anterior à guerra. Guerra essa que é posta sob nossas costas. Nossa culpa, é o que dizem – referiu-se aos humanos puros. – Agradeço a todos vocês que me seguiram até aqui. Todos que acreditaram na esperança de um mundo melhor. De um futuro para nossa raça. Agradeço a cada guerreiro e cada guerreira que se uniu a nossa causa. Agradeço a todos que deixaram suas casas, suas cidades, seus estados, e vieram até nossa base, no meio da floresta. Um obrigado a todos vocês. Gostaria de dizer uma coisa – bebeu água mais uma vez. Respirou fundo, então gritou. – É hora de atacar!

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