Uma Última Vingança

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Correr pela mata roxa era a maior diversão que aquelas crianças possuíam. A internet daquele planeta não era boa como a da Terra. Afinal, tal planeta não possuía bons sites, e a conexão com os servidores da Terra era lenta, limitando a diversão das crianças. Portanto, Natália e suas amigas preferiam se divertir na floresta.

Acostumadas com a vegetação terráquea, predominantemente verde, as crianças ao se mudarem para o novo planeta se maravilhavam com as cores em tons de roxo e azul. Os animais, em geral quadrúpedes e dóceis, exibiam cores voltadas ao preto e ao azul marinho. E era em meio à fauna e flora tão diversa que as crianças brincavam de "pique-esconde".

Passaram a manhã inteira na brincadeira. Natália se escondia debaixo de grandes folhas roxas, ou então dentro de enormes flores azuis. Às vezes algum animal silvestre se aproximava, farejando as crianças, revelando seu esconderijo. Mas não foi o caso de Natália. Ela conseguiu se manter escondida, deitada dentro de uma flor, admirando o céu.

A cor azulada era muito forte, contrastando com as duas luas brancas no céu. Haviam gigantescas naves de carregamento deixando o planeta. O céu era tomado por naves, já que aquela era uma colônia de mineração. No entanto, em meio à tantas naves ostentando as cores do planeta, surgiu uma de cores estranhas, adentrando a atmosfera. Seus disparos fizeram parte das naves de carregamento explodirem.

O céu foi tomado por explosões, tornando-se tão luminoso quanto em dia de Ano Novo. As inúmeras explosões fizeram naves aliadas despencarem do céu. Enquanto isso, mais e mais intrusos adentravam a atmosfera, disparando contra as naves do planeta de Natália. O caos havia tomado conta do espaço.

Uma das naves inimigas, caindo em chamas, despencou sobre o vilarejo onde as crianças moravam. Tomadas pelo medo de estarem sozinhas na floresta, todas correram de volta para a vila, em busca de suas famílias. Mas o que encontraram lá foi apenas destruição.

O cenário, antes formado por casas bonitas e organizadas, agora era de devastação, fogo e sangue. A nave inimiga era claramente militar, despencada entre algumas casas agora demolidas. Havia muito sangue pelas ruas, demonstrando ter ocorrido um confronto ali. Um dos corpos possuía um traje escrito "Sammarko", o nome da mineradora que controlava o planeta. Não havia dúvidas de que estava havendo uma invasão. E não havia uma alma viva nas ruas além das crianças. Natália, ignorando suas amigas, correu para casa.

Encontrou a porta entreaberta. A sala estava toda revirada: mesa caída, escrivaninha quebrada, porta-retratos jogado no chão repleto de cacos de vidro. Ela subiu as escadas, adentrou o primeiro quarto e encontrou sua irmã mais velha, abraçada com seu namorado. Todos mortos.

Não quis olhar tempo o suficiente para compreender a causa da morte. Correu em direção ao quarto do pai, e o encontrou vazio. Certamente estava trabalhando na mineração. A mina, portanto, era o próximo destino de Natália.

Correndo pela vila ela entendia que o cenário não era um desastre natural, ou um mero acidente envolvendo a queda de uma nave. Havia muitos corpos com buracos no peito e na cabeça, alvos de disparos de energia. Apenas soldado possuíam tal armamento. E se aquele era um ataque de alguma empresa mineradora rival, certamente a mina era um dos alvos.

Natália subiu um pequeno morro, então encontrou um cenário repleto de máquinas, guindastes, tratores e transportadores flutuantes – estes repletos de minérios azuis brilhantes. Os transportadores estavam largados na entrada na caverna. O serviço havia sido interrompido. A garota não tinha tempo a perder. Correu para dentro da caverna.

Em meio à escuridão claustrofóbica, Natália encontrou corpos de trabalhadores. Eram seus vizinhos, pais de amigos, homens conhecidos na região. Ao ver seus corpos deformados e derretidos ela quase vomitou. O enjoo tomou conta de seu corpo. Ela evitou olhar e, principalmente, respirar pelo nariz, para não sentir mais aquele terrível cheiro de morte impregnada nas paredes da mina.

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