Capítulo 04

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Tita

Levantei quando meu estômago pediu clemência e o cheiro de carne assada invadiu meu quarto. Desci vagarosamente pelas escadas desejando matar a fome e voltar para cama e dormir o resto da tarde. Desde que resolvi manter um bar, minha vida se resumiu a trabalhar, dormir e trabalhar de novo. No início foi uma loucura sem tamanho e o mais difícil foi entender a dinâmica do comércio. Nunca trabalhei em nada parecido com isso e para minha felicidade encontrei Ariel que tem experiência suficiente pra levar o Villa Botequim de olhos fechados. Não reclamo, o bar foi uma forma de terapia e distração quando me mudei para cidade e me vi sem ter o que fazer. Naquele momento tudo o que precisava era de trabalho duro. E o bar me dava isso.
— o almoço está pronto? — entrei na cozinha e pensei em dar meia volta quando o vi. Jamie estava novamente em meu caminho mesmo depois que pedi para manter distância.Que diabos fazia em minha casa? Seu sorriso cresceu ao me ver e quase gemi em desgosto. O olhar sedutor parecia queimar vagando dos meus pés descalço até chegar em minhas coxas. Nesse momento lembrei que estava apenas de calcinha e camiseta e novamente desejei não ter levantado da minha cama.
— Boa tarde — passou a mão pelos cabelos como se estivesse sido pego em flagrante.Minha primeira intenção foi de me cobrir com as mãos e sair correndo. Felizmente percebi o quando iria parecer patético e quase absurdo. Esse homem já me viu nua por várias vezes e em posições nada ortodoxas.
— Fui bastante clara ontem e hoje pela manhã quanto aos limites. Você em minha casa é ultrapassar todos os limites.
— Tita... — gemeu e sabia que esse murmúrio era de excitação e para provar, arrumou o pau sobre a calça jeans. Os olhos verdes pareciam queimar sobre o meu corpo e dei um passo para trás quando ele avançou sobre mim. Contornei a mesa e como defesa apanhei uma das facas de corte sobre a ilha da cozinha.
— Mas um passo e vai se arrepender — ele não se deteve e parou próximo suficiente para a ponta da faca tocar em sua barriga. Não recuei.
— se a intenção é me matar — arrastou a faca para onde estava seu coração — prefiro que seja aqui.
— Não estou brincando — advertir novamente.
— Minha vida por um beijo — deu um passo a frente e senti a lâmina cortar a carne fazendo uma mancha no tecido da camisa. Minhas mãos tremeram mesmo assim não movi um centímetro. Jamie agarrou os cabelos da minha nuca e me beijou. Era bom! Permaneci parada, com os olhos abertos para não sucumbir ao desejo de me entregar. Lutei contra a necessidade de senti-lo. Meu coração bateu mais forte. As lágrimas queimaram para sair e com muito esforço as contive.
O beijo começou devagar como se analisasse a minha reação. Doce. Calmo. A língua deslizando em meus lábios com cuidado. Jamie mantinha os olhos fechados em deleite. As mãos não me tocaram. Era apenas sua boca sobre a minha. Meu corpo começou a reagir e por alguns segundos desejei voltar no tempo. Queria estar em nossa casa, desfrutando dos seus carinhos — beije-me! — nesse momento me dei conta que não estava retribuindo. Achei que me forçaria a aceita-lo novamente mas para minha surpresa ele parou e encostou a testa junto a minha — Inferno de boca!
— Terminou? — fiquei surpresa por minha voz ter saído tão dura e sem tremer. Ele se afastou suficiente para me fitar nos olhos. Não mostrei nenhuma insegurança mesmo que a verdade era completamente oposta. Meu corpo reconheceu o dele e os prazeres que vivemos juntos. Me odiei por permitir que as lembranças me afetassem tanto e para mostrar que seus beijos me causavam repulsa, passei as costas da mãos na boca, limpando os meus lábios — Já teve o que veio buscar, agora pode sair.
— Essa posse de mulher de gelo não combina com você.
— E o que combina comigo?
— Você é quente como o inferno. Receptiva. Gostosa. Está sempre pronto para trepar e levar um homem do céu ao inferno com um simples toque.
— Tem razão — sorri tão cínica como ele — a única diferença é que não é você a provocar o desejo em mim.
— Não minta. Sei que está sozinha e não teve nenhum homem em sua vida depois do divórcio — essa informação só pode ter saído da boca de minha mãe.
— Realmente não tenho ninguém mas isso não significa que fiquei sozinha — era possível ver a raiva em seu rosto. Continuei firme e forte. Não queria que percebesse que menti. Nesses dois anos nunca ouve ninguém. Até fui para encontros mas Jamie havia me afetado mais do que gostaria de admitir.
— Deus! O que está acontecendo aqui? — minha mãe gritou assustando a nós dois — largue essa faca agora — tinha esquecido que permanecia com a ponta da faca enterrada no peito do Jamie. Tremi inteira ao ver a camisa com uma mancha enorme de sangue. Não me movi ainda segurando o objeto. Ele retirou minha mão e depois puxou a faca, fazendo uma quantidade maior de sangue fluir.
— Foi um corte superficial — tentou amenizar.
— Pressione esse pano contra o machucado — minha mãe jogou o pano de prato para mim — ande logo antes que o homem fique sem sangue e desmaie em minha cozinha. Estou indo chamar o Meireles — ela saiu e fiz como mandou.
— Não desmaie — segurou firme minha mão para que colocasse mas força contra o corte.
— Sinto muito — murmurei envergonhada — não foi minha intenção.
— Não seja dramática e muito menos hipócrita. Você quis me machucar — neguei com a cabeça.
— Eu não sei o que me deu por te ameaçar com a faca. E está errado em me acusar de querer ve-lo ferido.
— Não me refiro ao corte.
— Não? — ele se afastou tirando a camisa. Desviei o olhar de seu peito largo, composto por músculos bem definidos. A pele lisa e o cheiro másculo me fez lembrar de como era gostoso deslizar minha mão por seu corpo enquanto me abaixava para engolir seu pau... precisava me concentrar e me foquei no corte. O ferimento não era grande, mesmo assim o sangue em volta me assustou.
— Saber que esteve com outro homem... Cristo! Estou a ponta de enlouquecer.
— Sou uma mulher solteira e livre. E não me venha bancar o honrado comigo. Com certeza deve ter passado cada noite com uma mulher diferente — passei para pia e lavei minhas mãos que estavam sujas com sangue. O corpo dele se colou no meu. Seu pau duro pressionou contra a minha bunda coberta apenas por uma calcinha. Roçou o tecido do jeans em minhas carnes, gemendo rouco. O braço em volta da minha cintura para não me deixar sair do seu agarre.
— Nunca houve ninguém depois de você — sussurou em meu ouvido. Não acreditei que um homem sexual como Jamie ficasse sozinho dois anos em completo celibato.
— Você não me deve explicações. Somos divorciados  — tentei mais uma vez sair do seus braços mas não me deixou mover nenhum centímetro.
— Tentei algumas vezes mas a porra do meu pau viciou nessa sua boceta e não houve puta que o fizesse acordar. Ele só fica assim por você — roçou novamente a ereção contra minha bunda e segurei na borda da pia para não empurrar de volta — Ahhh! — gemeu afundando o rosto na curva do meu pescoço. Aquelas palavras sujas ditas ao meu ouvido me fizeram molhar a calcinha. Senti os dentes pressionarem a minha pele e fechei os olhos esperando que afundasse em meu pescoço. Não segurei o gemido quando me mordeu e passou a língua em seguida. A mão desceu por minha barriga e brincou com o cós da calcinha.
— eles estão na cozinha — a voz da minha mãe me despertou.
— afaste-se Jamie — empurrei ele com força e com um arroubo voltei para o meu quarto. Tranquei a porta com as mãos trêmulas e senti algo que a muito parecia adormecido. Peguei o celular e liguei para a única pessoa capaz de me ajudar naquele momento.
— Estou com vontade de encher a cara — murmurei com os olhos fechados.
— porra! Não saia de casa, ouviu? Chegarei em cinco minutos.

  
                        Jamie

O corte foi superficial e não foi preciso ir ao hospital ou de ponto. Apenas um pequeno curativo foi colocado no local. O que me machucava era o ciúme incontrolável e a vontade de amarra-la comigo e não largar mais. Estava cada vez mais primitivo e sabia que aquele não era o caminho. Tita precisava de gentileza e não de um homem colocando ela sobre os ombros e a reclamando como sua.
— Tem certeza que não está doendo? — Lúcia perguntou novamente depois que o médico saiu. Ela me olhava com pena e odiei ver aquele olhar novamente.
— Não foi nada demais — Repeti o que vinha dizendo a um tempo.
— Tita é muito impulsiva e pasional — Vitória tentava se desculpar mas não havia necessidade. Olhei em direção as escadas sem a menor paciência de ouvi-las. Minha vontade era subir até seu quarto e aplacar de vez a saudade. Por alguns segundos Tita se rendeu e quase perdi a cabeça quando ouvi o seu gemido.
— estou saindo — ela apareceu no topo da escada com uma mochila nas costas. Levantei bloqueando sua passagem.
— onde vai? — segurei sua mão quando tentou passar por mim. Os dedos pareciam gelo e os tremores não passou despercebidos — está nervosa. Acalme-se!  — puxou o braço e tentou novamente sair.
— Jamie... —  antes que começasse a protestar alguém bateu na porta e ela parecia aliviada. Sorriu confiante e quis saber quem poderia ser o responsável por sua mudança. Abri a porta e meu peito inflou ao ver o homem parado em minha frente.
— o que você quer? — perguntei pronto para brigar.
— pare com isso — ela tentou me afastar mas permaneci segurado a porta e sem deixar que saísse — droga Jamie me deixe passar.
— posso entrar Tita? — ele falou ignorando a minha presença mas não cedi um milímetro.
— claro que pode.
— claro que não — respondi ao mesmo tempo que ela — essa é uma reunião de família — bati a porta nas fuças do sujeito abusado. Lúcia e Vitória sumiram da sala e Tita me encarava com os olhos vidrados e a boca aberta.
— essa é a minha casa e não tem o direito de impor sua presença ou me dizer quem devo receber.
— quem é esse homem? — não me importei com seu ataque de nervos, já que os meus estavam fora de controle. A porta foi aberta e quis avançar sobre o sujeito.
— Beto... sinto muito — tentou novamente chegar até ele mas a impedi.
— acho melhor solta-la — o imbecil falou e minha raiva foi além de qualquer nível imaginado. Dei um passo em direção ao tal Beto e sabia que não seria nada bom para ele.
— meu Deus! — Tita gritou entrando em minha frente. Estava prestes a jogar o sujeito para fora quando fitei seus olhos desesperados. Toda aquela dor de novo me fez recuar. Tita segurou o braço do tal Beto e ao invés de sair, o levou para cozinha. Tentei recobrar meu controle. Respirei algumas vezes antes de seguir também para cozinha.
— ela está lá fora — Vitória apontou para uma porta de vidro que dava para a piscina. Tita estava sentada de frente para o idiota enquanto falava sem parar — não precisa ficar assim. Eles são apenas bons amigos — observei a conversa de longe querendo saber do que falavam mas contive a vontade de ir até eles e pedir explicações.
— o almoço ficará para o outro dia — falei antes de ir embora. Não poderia deixa-la mais angustiada e tinha que quebrar alguma coisa para relaxar.

LOUCA OBSESSÃO Livro 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora