Capítulo 31

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Tita

Fiquei esperando que o Jamie me falasse o que estava tirando seu sono. Ele parece nervoso e agoniado.
— No dia em que brigamos...
— Que dia? — ultimamente brigamos muito.
— Quando dormi fora de casa depois da discussão com sua mãe. — pegou outro cigarro e acendeu. — não sei como falar sem que acabe magoando-a.
— Fale de uma vez. — comecei a ficar nervosa.
— Era um almoço de negócios e por isso levei Annika. — meu coração apertou com a menção do nome desse mulher. — bebi um pouco mais que o normal... — não precisou terminar a frase para saber o que tinha a me dizer.
— Dormiu com ela. — confirmou com um gesto de cabeça.

Jamie

Ela não me olhou enquanto chorava baixinho.
— Porque fez isso comigo? — murmurou entre soluços.
— Não foi como imagina. — ela me deixou terminar de contar sobre a droga. Avançou em minha direção com tanto ódio que precisei segura-la para que não acabasse se machucando.
— Como foi capaz de fazer amor comigo, sabendo que me mataria depois. — gritou e acertou um tapa em meu rosto. — vou te matar, seu maldito filho da puta! Vou matar os dois! — berrou ofegante. Estava como um louco, temendo perder a única razão pela qual levanto todos os dias.
— Me deixe explicar...
— Explicar o que? Qual será a desculpa? Vai me dizer que fez por causa da nossa briga, que não te dei atenção e que fiquei paranoica por causa do bebê. Anda, me culpe por ser um canalha mentiroso e traidor de merda. — Senti dor em cada palavra. O ódio dela era misturado com decepção.
— As coisas não foram assim. — gritei desesperado. — A maldita me drogou. Não me recordo de nada que aconteceu e não tem como saber se fiz alguma coisa. Estava apagado. Drogado e vulnerável. — pela primeira vez deixei que a angustia de pensar sobre isso me tomasse. Depois do que aconteceu com Edgar tive feito a promessa de que nunca mais me sentiria fraco e sem escolha. Agora estava prestes a perder a mulher que amo. — Precisa acreditar em mim. — Tita levou as mãos na cabeça desconcertada. — Jamais trairia você por livre escolha, sabe disso. Você é minha vida. — ela não ouvia. Começou a correr em direção ao portal e vi todos os meus temores se concretizando.
— Abre essa porra! — exigiu do segurança que olhou em minha direção para saber o que fazer. — É uma ordem! — ele não se moveu. Ela começou a subir no portão como se fosse a coisa mais simples do mundo.
— Desce daí antes que se machuque. — ela pulou como uma gata para o outro lado e entrei em pânico. — Abre essa porra! — gritei com medo. Era madrugada e por mais que fosse um condomínio fechado de casas, ainda era perigoso. Corri atrás dela até alcança-la. Tita caiu de joelhos no asfalto e abracei pelos ombros. — Tenho um exame que prova que foi adicionado Flunitrazepam. É um remédio para ansiedade que misturado a bebida alcoólica pode derrubar.
— Isso  não diminui a dor que estou sentindo. Se é que essa história é verdadeira. — duvidou me empurrando e limpando o rosto. Levantou com uma postura orgulhosa. — Vou para casa e não quero ver sua cara tão cedo. — caminhou devagar e a segui de longe. Ela precisava de espaço e faria o necessário para vê-la em paz.

Tita

Chorei por quase a noite inteira. Era como se tivesse uma faca cravada em meu coração. A dor por ter sido enganada corroía minha mente e imaginei os dois juntos. Transando... Era desesperador saber que outra mulher teve o que é seu. Pensar que tudo que viveram juntos era uma mentira e que foi tão pouca coisa para ele. Eu tinha raiva, decepção, ódio, angustia e medo. Muito medo de perde-lo para ela. Deixei tudo que conhecia para viver com ele e agora me via sozinha, em frente ao espelho analisando o tamanho das minhas olheiras. Não tive forças para pentear os cabelos, nem ao menos escovei os dentes. Fiz xixi porque não suportava segurar. Voltei para cama e puxei o edredom até esconder meu rosto. Ouvi alguém bater na porta e ignorei. Queria dormir por uma semana inteira sem ser perturbada.
— Tita, por favor... Vamos conversar. — era o Jamie. Não respondi. — Trouxe o seu café da manhã. Precisa comer... Não quero ter que colocar essa porta abaixo.
— Faça isso e vou embora dessa casa. — gritei.
— Certo! Vai ser como você quiser. Vou... eu vou... ficar aqui na frente esperando. — dei de ombros e voltei a chorar até pegar no sono. Despertei com o celular tocando. Joguei o braço sobre a escrivaninha e peguei o aparelho. Fiquei assustada quando vi que passava do meio dia. Meu estomago roncou e lembrei que não comia nada desde a hora do jantar do dia anterior. Li uma mensagem da minha mãe querendo saber o que estava acontecendo e porque não desci para café da manhã. Também avisava que passaria o dia na casa da tia Vera, mãe do Daniel.  Levantei e me arrastei até o a porta. Dei de cara com o Jaime na antessala do quarto. Não tive coragem de dar um segundo olhar em sua direção.  — Mandei servir o seu almoço. — passei pela mesa e fingi não vê-lo ou voltaria a chorar. — Fale comigo. — deixei o quarto. Não queria nada que viesse dele. 
— Glória, tem alguma sobremesa pronta? — perguntei a senhora que estava trabalhando em casa. Ela me olhou um pouco curiosa e imaginei que deveria parecer um monstro com o rosto inchado, descabelada e com remela nos olhos.
— Tem sim. — retirou a vasilha da geladeira com um creme de chocolate e pegou uma taça para me servir.
— Só preciso de uma colher. — estava tão deprimida que meu corpo sentia a necessidade de exagerar. Precisava da sensação de felicidade que o chocolate proporciona. Enquanto comia sentia a presença do Jamie em minhas costas. A cada colherada uma lágrima incontrolável descia pelo meu rosto. Glória não falou nada mas seu olhar era de pena.

LOUCA OBSESSÃO Livro 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora